Perfis falsos em sites viram caso de polícia em Sorocaba



A maioria refere-se à violação em redes sociais, os chamados 'fakes'

 Jornal Cruzeiro do Sul
Marcelo Roma
marcelo.roma@jcruzeiro.com.br

O vazamento de fotos íntimas da atriz Carolina Dieckmann trouxe à tona o problema de violação de privacidade na internet. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, do Rio de Janeiro. Em Sorocaba não há delegacia especializada, mas crimes relacionados à internet e que invadem a intimidade das pessoas são encaminhados ao Grupo Antissequestro (GAS). A maioria deles se refere a perfis falsos em redes sociais, o chamados "fakes", diz o delegado Rodrigo Ayres.

Uma média de dois casos de perfis falsos chega ao GAS por mês, conforme o delegado. A investigação emprega recursos de informática para rastrear o computador usado por quem criou o "fake" e geralmente há sucesso, de acordo com Ayres. O crime é de falsa identidade, previsto no artigo 307 do Código Penal. Também há denúncias de difamação e injúria pela internet, praticadas por meio de sites de relacionamento. Um fisioterapeuta de 22 anos vive o problema de ter um perfil numa rede social com fotos suas, de amigos e parentes, embora tenha sido criado por outra pessoa que usa nome diferente. "Ele se faz passar por mim", diz o fisioterapeuta, que desistiu de tentar retirar o perfil do site. O que mais o incomoda é que há uma foto sua com um primo, que é adolescente. Há 25 fotos particulares no perfil falso.

O fisioterapeuta não tem controle sobre esse perfil e já pediu ao administrador do site a retirada, mas exigiram que mandasse cópias do RG e do CPF, que não concordou. Ele não procurou a polícia. Por meio do perfil falso, o criminoso pode manter conversas pela internet fazendo-se passar pela vítima e assim criar situações embaraçosas ou comprometedoras. O delegado do GAS observa que a maioria dos crimes de violação de privacidade tem motivo passional. Geralmente parte de um amigo que briga com outro ou ex-namorado ou ex-namorada. Os relacionamentos via internet reproduzem os da vida real e quando há abusos são tratados com base nos crimes do Código Penal.

Às vezes, algo que pode parecer banal se amplia com a publicação na internet e se transforma em caso de polícia. No fim do ano passado, um estudante foi acusado por colegas de ter furtado material escolar numa sala de aula. O adolescente teve o nome citado num site de relacionamento e a mãe dele informou à polícia, que identificou os outros estudantes. O adolescente difamado na rede precisou passar por acompanhamento psicológico. O Instituto de Criminalística (IC), da Polícia Científica de Sorocaba, possui recursos avançados de informática. É possível inclusive recuperar fotos deletadas do disco rígido de um computador, como já ocorreu em casos de pedofilia e que permitiu incriminar e condenar a pessoa que era investigada. 

O domínio da internet por quadrilhas garante acesso instantâneo e quase ilimitado a informações que facilitam a prática de crimes. A exposição exagerada por meio das redes sociais é chamariz para quadrilhas, alerta Ayres. A própria pessoa que tem perfis deve tomar cuidados: não ter senhas óbvias como parte do nome ou data de nascimento, trocá-las de vez em quando, evitar usar computadores de estranhos, e preservar informações como endereço, local de trabalho e número de telefone. O delegado lembra ainda que fotos de viagens e de bens postados na internet, como carros novos e joias, podem servir de vitrine para roubos e sequestros. A descrição da rotina no dia a dia e lugares que costuma frequentar também devem ser evitados. 

Outro cuidado importante é quanto à oficina de informática que faz a manutenção do computador. No caso das fotos de Carolina Dieckmann, ela levou seu notebook para uma empresa de informática. Alguém a chantageou, exigindo R$ 10 mil para não espalhar as fotos na internet. Um flagrante foi preparado, mas a polícia não prendeu quem exigiu o dinheiro. Na cidade de São Paulo, a polícia prendeu na semana passada um analista de sistema de 30 anos que tentava extorquir uma advogada de 34 anos. Ele tinha fotos íntimas da mulher e exigia R$ 20 mil. Foi pego ao receber parte do dinheiro no bairro Pacaembu. O analista de sistema é ex-funcionário do escritório da advogada. Tinha sido demitido por justa causa.

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