‘Estabilidade continuará sendo o foco exclusivo do BC’, diz Tombini


Presidente do Banco Central destacou que a autoridade monetária vem manifestando preocupação com os sinais de alta na inflação e que, se for preciso, 'novas ações serão tomadas'  


Andreas Müller e Pedro Henrique Tavares, especial para o Estado
PORTO ALEGRE - O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reconheceu nesta segunda-feira que o mercado doméstico continuará sendo o "principal fator de crescimento" da economia brasileira em 2013. Presente na 26ª edição do Fórum da Liberdade, realizado em Porto Alegre, Tombini lembrou que o País deverá registrar uma expansão anualizada de 4% no PIB no primeiro trimestre de 2013. Entretanto, destacou que o Banco Central vem manifestando preocupação com os sinais de alta na inflação e que, se for preciso, "novas ações serão tomadas" para assegurar a estabilidade.
"A população sabe que aumentos na inflação distorcem a economia, subtraem os salários e reduzem o potencial de crescimento [do PIB]. Nesse cenário, o foco da política monetária foi e continuará sendo exclusivamente a manutenção da estabilidade", afirmou Tombini a uma plateia formada por empresários, estudantes e autoridades locais. Pouco antes, o presidente do BC se recusara a dar qualquer sinalização quanto ao posicionamento que o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá assumir na próxima semana, nos dias 16 e 17 de abril, quando ocorrem as novas reuniões para definir a taxa básica de juros (Selic), hoje em 7,25% ao ano. A pesquisa Focus, do BC, que reúne as previsões dos agentes de mercado, projeta a Selic em 8,50% ao ano até dezembro de 2013.
O tom da palestra, contudo, foi de otimismo. Tombini retomou indicadores recentes para sustentar a tese de que o Brasil vem apresentando uma gradual recuperação na atividade econômica, especialmente em função da retomada do investimento e da produção industrial. Citou como exemplos os setores de automóveis e a de caminhões, que encerraram o primeiro trimestre com altas de 12% e 39,1%, respectivamente, na produção em relação ao mesmo período de 2012. "Além disso, a safra de grãos deve bater recorde em 2013, o que tem contaminado positivamente setores correlatos", afirmou Tombini. Ele reiterou a expectativa de que o PIB do País cresça "em torno de 3%" até o final deste ano.
O ambiente externo, avaliou Tombini, traz mais preocupações. Ele destaca que as economias maduras continuam sob severas restrições fiscais e que, por isso, a perspectiva ainda é de baixo crescimento econômico global. Já as economias emergentes apresentam maior resiliência na demanda doméstica, o que sustenta índices de expansão mais elevados. No caso do Brasil, Tombini declarou que o mercado tem se mantido aquecido devido ao processo de inclusão social, aumento da oferta de crédito e manutenção das taxas de emprego. "Mesmo durante as crises, o mercado de trabalho se manteve aquecido por uma decisão da indústria, que tem se esforçado para reter sua mão de obra", disse Tombini.
Governança pública. Tombini foi um dos palestrantes da 26ª edição do Fórum da Liberdade, promovido pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE) nos dias 8 e 9 de abril, em Porto Alegre. Neste ano, o evento traz como tema "O que se vê e o que não se vê" - uma alusão a um ensaio do economista liberal francês Frédéric Bastiat. Antes dele, o presidente do conselho de administração do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, esteve no palco e enfatizou a importância de o setor público adotar padrões mais rígidos de governança.
"Não vou falar sobre os ministérios porque já não me dei muito bem nesse tema", afirmou ele, referindo-se a declarações dadas em 15 de abril, quando ele próprio criticou o aumento no número de ministérios do governo federal. Johannpeter, no entanto, enfatizou que há "uma falta de pensamento estratégico" no setor público. Chefe da Câmara de Gestão e Planejamento do governo Dilma Rousseff, o empresário assegura que está disposto a mudar essa realidade. "Estamos trabalhando em um mapa estratégico para cada um dos 39 ministérios. É o mínimo necessário para que cada um deles saiba aonde quer chegar", afirmou.
Ao encerrar a palestra, Johannpeter citou uma frase célebre do banqueiro e político italiano Cosme de Médici, falecido em 1464. "O empresário tem que cuidar, em primeiro lugar, da família; em segundo lugar, da empresa; e, em terceiro; dos políticos. Porque se não cuidarem dos políticos, eles estragam tudo de bom que fizemos na empresa", exaltou ele, arrancando aplausos da plateia.

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