Até 2017, empresa planeja investir US$ 236,7 bilhões, um dos maiores planos do mundo; meta é dobrar a produção em sete anos
Wellington Bahnemann, da Agência Estado
Até 2017, a Petrobrás planeja investir US$ 236,7 bilhões, uma média anual de US$ 47,34 bilhões, um dos maiores planos de investimento do mundo. Nesse período, a empresa pretende aumentar a produção de petróleo dos atuais 2 milhões de barris por dia (bpd), volume alcançando ao longo de 60 anos, para 4,2 milhões de bpd, em 2020, a partir da exploração das gigantescas reservas do pré-sal. Já a capacidade de refino irá crescer de 2 milhões de bpd para 3 milhões de bpd.RIO - A Petrobrás completa 60 anos nesta quinta-feira, 3, em um dos momentos mais cruciais de sua história. Com o peso de ser a maior empresa brasileira e fator primordial de crescimento da economia - o que a torna objeto de interesse da classe política - a petroleira terá como grande desafio cumprir a meta de dobrar a produção em sete anos e ampliar a capacidade de refino ao mesmo tempo em que preserva a saúde financeira, motivo de preocupação entre investidores e especialistas devido ao elevado endividamento.
No longo prazo, as perspectivas soam ainda mais promissoras. Ao fim de 2012, as reservas de óleo e gás natural da estatal eram de 15,7 bilhões de barris, o que irá aumentar significativamente nos próximos anos. Pelas regras do regime de partilha, a Petrobrás terá, no mínimo, 30% dos novos campos do pré-sal. Isso irá garantir, por exemplo, que a empresa tenha, pelo menos, 30% do campo de Libra, cujas reservas são estimadas entre 8 bilhões e 12 bilhões de barris. O campo de Libra será licitado pelo governo no próximo dia 21.
Além disso, a Petrobrás tem direito a outros 5 bilhões de barris por conta do processo da cessão onerosa. Esses números se juntam ao potencial dos blocos arrematados dentro e fora do pré-sal nas rodadas de licitação realizadas pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Ou seja, a estatal tem, de sobra, aquilo que é o mais importante para uma empresa de petróleo: reservas.
"A Petrobrás tem hoje um dos melhores portfólios do mundo. A companhia está muito bem posicionada na produção", afirma o ex-presidente da companhia e secretário de Planejamento da Bahia, José Sergio Gabrielli.
O ex-presidente elencou uma série de fatores que pavimentariam o caminho de sucesso para empresa: posição dominante no Brasil, um dos principais mercados consumidores de derivados de petróleo do mundo (cresceu mais de 40% nos últimos quatro anos); forte produção de gás; infraestrutura logística consolidada; corpo técnico altamente qualificado, e dona do melhor centro de pesquisas do mundo para exploração em águas profundas, o Cenpes. "A Petrobrás tem todo o instrumental para se tornar uma empresa fantástica", completou.
O entusiasmo de Gabrielli é compartilhado pela atual presidente da Petrobrás, Maria das Graças Foster. Na semana passada, em meio ao início das comemorações de aniversário da estatal, a executiva disse que nunca imaginou que a empresa chegaria ao patamar atual.
"Eu, que estou que na Petrobrás há 30 anos, nunca imaginei que chegaríamos a ter esse portfólio tão grande, com tantas e tão claras oportunidades, objetivas e materiais; com esse orçamento que exige uma dedicação muito grande no que se refere à disciplina de capital", revelou.
Ações. Apesar de todos os predicativos e vantagens competitivas, as ações da Petrobrás não têm tido uma boa performance. Isso fica evidente no ranking elaborado pela consultoria internacional PFC Energy. Em 2010, ano da megacapitizaliação, a estatal brasileira era a terceira maior petrolífera do mundo, com valor de mercado de US$ 228,9 bilhões. Em 2012, a empresa caiu para a sétima posição, com valor de mercado de US$ 124,7 bilhões.
O que explica tal queda? Para o diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires, isso reflete o uso político da companhia. "O mercado precificou a interferência política do governo federal na gestão da Petrobrás", argumenta o especialista.
Nos últimos 10 anos, Pires explicou que o governo pôs a sua agenda política acima dos interesses corporativos da Petrobrás, inchando a empresa, congelando preços de derivados e determinando a realização de uma série de investimentos com baixa rentabilidade. O resultado desse cenário é que a alavancagem líquida da empresa saltou de 16%, em 2010, para 34%, ao final do segundo trimestre de 2013, próximo do limite considerado ideal pelas agências de rating para a manutenção do selo de grau de investimento. A dívida total saltou de R$ 117,9 bilhões, no fim de 2010, para R$ 249,04, no fim do junho deste ano.
Austeridade. Desde que assumiu o comando da companhia, em março do ano passado, Graça Foster tem adotado um regime de austeridade. Até 2017, a Petrobrás pretende reduzir os seus custos em R$ 32 bilhões, além de vender US$ 9,9 bilhões em ativos não estratégicos. Até o momento, a companhia já contabiliza US$ 3,82 bilhões em desinvestimentos, entre ativos no exterior e participações no setor elétrico.
O "calcanhar de Aquiles" da Petrobrás é o controle de preços dos derivados praticado pelo governo, com vistas a evitar impactos na inflação. Com o aumento da importação de combustíveis para atender o forte crescimento da demanda, essa política tem drenado uma parte significativa do caixa da estatal, impedida de alinhar os seus preços com o mercado internacional.
"A Petrobrás está em uma encruzilhada. Ou se torna uma empresa lucrativa ou vai se tornar uma PDVSA (estatal venezuelana)", alerta Pires. Para Gabrielli, o aumento da capacidade de refino no longo prazo irá minimizar os efeitos da política de controle de preços, na medida em que as importações serão substituídas pela produção local.
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