MP e polícia flagram caso de maus-tratos em clínica

Quatro representantes de clínica de dependentes químicos são detidos

José Antonio Rosa
joseantonio.rosa@jcruzeiro.com.br

Uma operação conduzida pelo Ministério Público e a Polícia Civil de Salto de Pirapora, com o apoio da Secretaria de Saúde de Sorocaba, resultou ontem na prisão em flagrante de quatro representantes de uma clínica de recuperação de dependentes químicos localizada naquele município.

Todos foram autuados pela prática de maus-tratos, cárcere privado, tortura e associação criminosa contra os cerca de 60 internos que lá são mantidos. A partir de denúncia encaminhada por advogado de familiares de uma das vítimas, o promotor de Justiça Luiz Fernando Guinsberg Pinto requereu a diligência que foi acompanhada por equipe comandada pelo delegado Gilberto Montenegro Costa Filho.
No local, foram ouvidos relatos de pacientes sobre supostas agressões físicas e ameaças sofridas de parte de funcionários e diretores da unidade. Oito internos foram até a delegacia e prestaram depoimentos. Dois diretores (filho e nora do proprietário do estabelecimento) e dois encarregados foram presos.

Conforme o delegado Gilberto Montenegro, o responsável pela clínica não foi localizado e deverá ser ouvido nos próximos dias. O mesmo ocorrerá com os demais pacientes. Aqueles cujos familiares forem buscar poderão retornar para casa; outros, serão encaminhados a unidades de tratamento.

As vítimas, em sua maioria, estariam internadas contra a vontade. Isso, de acordo com o delegado, é permitido, mas a clínica deve comunicar o MP no prazo de 72 horas, providência que não foi tomada. Na saída da unidade, alguns dos internos, que não podem ter a identidade revelada, conversaram com a reportagem do Cruzeiro do Sul.
Todos se disseram revoltados porque pagavam pelo tratamento, mas contaram que teriam sido espancados. Vários apresentavam escoriações pelo corpo que fizeram questão de mostrar e de que fossem fotografadas. "Eu estava lá naquele inferno há cinco meses e só recebi pancada. Éramos mantidos confinados e nossas famílias informadas de que teríamos de ficar isolados por causa do mau comportamento. Mentira: a gente apanhava mesmo", disse uma interna.
"Até o dono da clínica batia na gente. Dizia que era para ficarmos espertos e aprender como tem de ficar lá. Cansei de levar tapa na cara e até coisa pior", acrescentou outro paciente. Os detidos foram encaminhados para as cadeias de São Roque e de Votorantim.

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