Hospital São Paulo põe maca em corredores

Com orçamento e estrutura física insuficientes para a demanda crescente, o Hospital São Paulo, vinculado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), tem feito mais do que o dobro de atendimentos que suporta. Com a sobrecarga, mais de 50 pacientes estão sendo atendidos em macas nos corredores todos os dias, conforme presenciado pela reportagem em visita à unidade na tarde desta quarta-feira, 1º.
Como revelou o Estado na terça-feira, a reitoria da Unifesp teve de pedir ajuda financeira ao governo estadual e ao Ministério da Saúde para evitar que o pronto-socorro do hospital fechasse as portas no fim do mês passado.

De acordo com a Unifesp, o pronto-socorro tem capacidade para realizar 300 atendimentos diários - hoje, são cerca de 700. A situação é agravada pelo fato de a maioria dos pacientes recebidos apresentar problemas que exigem assistência de alta complexidade, o que aumenta o tempo de permanência no serviço e a possibilidade de reinternação.

Ao contrário da maioria dos prontos-socorros, que têm médicos de três a quatro especialidades gerais, o serviço do Hospital São Paulo tem nove tipos de especialistas, o que atrai casos mais graves e transferências de pacientes oriundos de unidades com menos recursos.
Hospital São Paulo põe maca em corredores© Foto: Márcio Fernandes/Estadão ConteúdoHospital São Paulo põe maca em corredores
Segundo a reitoria, o pronto-socorro tem déficit de 53 leitos, que acaba sendo minimizado com as macas no corredor.
Com o agravamento da situação, a reitora da Unifesp, Soraya Smaili, procurou no início de setembro o secretário estadual da Saúde, David Uip, para pedir auxílio financeiro para manter o pronto-socorro aberto. A pasta repassou de forma emergencial R$ 5 milhões. Na mesma ocasião, a reitoria também procurou o Ministério da Saúde, que autorizou repasse de mais de R$ 9 milhões para a unidade.
Segundo dados obtidos com exclusividade pelo Estado, o Hospital São Paulo tem orçamento anual de R$ 550 milhões, quando o ideal para manter o custo de seu funcionamento seria de R$ 800 milhões.
Custos. A unidade tem hoje uma dívida de cerca de R$ 50 milhões, que só não é maior porque a reitoria tem cortado custos com medidas como contenção de recursos humanos, menor manutenção de equipamentos, menor incorporação de tecnologia, menor qualidade na hotelaria, redução em treinamento e capacitação, além de gestão de risco limitada.
Soraya afirma que as verbas emergenciais serão suficientes por pouco tempo, até que a Unifesp e o Ministério da Saúde firmem novo contrato que atualize os valores pagos à unidade. “Esperamos que esse contrato saia no próximo mês porque, se não sair, a situação pode voltar a ficar insustentável e termos novamente o risco de, daqui a três meses, fechar as portas do pronto-socorro”, diz a reitora da Unifesp.
O Ministério da Saúde afirma que o novo contrato, com valores atualizados, já está sendo elaborado.

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