Invasão ao prédio do Instituto Royal em São Roque completa um ano

Ativistas voltaram ao local e constataram o total abandono do edifício.

Inquérito sobre maus-tratos está em conclusão e será enviado ao MP.

Natália de OliveiraDo G1 Sorocaba e Jundiaí
Ativistas retornam ao prédio do Instituto Royal após um ano da invasão ao laboratório (Foto: Arquivo Pessoal)Ativistas retornam ao prédio do Instituto Royal, quase um ano após a invasão (Foto: Arquivo Pessoal)
A invasão ao Instituto Royal, de São Roque (SP), completa um ano neste sábado (18). A invasão resultou no furto de 178 beagles, sete coelhos e mais de 200 camundongos, além da destruição de diversos arquivos de pesquisas que estavam sendo realizadas. No último domingo (10), um grupo de ativistas esteve no prédio e constatou que o prédio está totalmente abandonado - uma ativista, que prefere não se identificar, disse à reportagem do G1 que a ideia era desmentir boatos de que ainda existiam animais no local. "Fomos lá e vimos que tudo está fechado. Não tem nada no local, nem móveis. Eu até fiquei sabendo que o local vai ser vendido e vai ser construito até um hotel no local", frisou.
Gaiolas onde ficavam os beagles foram encontradas vazias (Foto: Arquivo Pessoal)Gaiolas onde ficavam beagles foram encontradas
vazias (Foto: Arquivo Pessoal)
Para ela, o episódio do dia 18 de outubro de 2013 abriu a discussão sobre os testes com animais no país. "A comunidade científica do Brasil tem se mobilizado para encontrar alternativas mais tecnólogicas, sem o uso de animais. Na questão política, também conseguimos muitos avanços, já que foram criadas leis que proíbem em certos municípios o uso de animais em testes para comésticos. Tivemos ainda um aumento dos fóruns para discutir mais o assunto e alavancar os testes substitutivos", acredita a ativista.
Como forma de celebrar a data, os ativistas criaram uma página em uma rede social com o intuito de reunir fotos dos animais resgatados no dia da invasão. "A ideia é mostrar que eles estão bem, que eles estavam doentes por causa dos testes, mas não com algum vírus ou bactéria que poderia passar para o ser humano. Eles são cachorros normais, que carregam o trauma dos testes em que foram submetidos, mas que ageme como qualquer outro cão", finaliza a ativista que foi uma das que encabeçou a campanha contra o laboratório.
Investigação policial
A Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Sorocaba (SP) ficou responsável por cuidar dos dois inquéritos que foram instaurados para apurar o caso do Instituto Royal: um sobre a invasão e o outro, em conjunto com o Ministério Público, sobre as denúncias de maus-tratos.
Delegado Urban falou sobre os inquéritos do Instituto Royal (Foto: Natália de Oliveira/G1)Delegado José Urban Filho falou sobre o caso do
do Instituto Royal (Foto: Natália de Oliveira/G1)
De acordo com o delegado da DIG, José Urban Filho, o inquérito sobre os maus-tratos está em fase de conclusão e será enviado, em breve, ao Ministério Público. Já o inquérito sobre a invasão só será finalizado em aproximadamente 30 dias. Como o caso corre em silêncio de Justiça, o delegado não pode revelar muitos detalhes sobre o assunto, apenas que algumas pessoas já foram identificadas, mas ninguém foi preso até o momento.
Com relação aos crimes que cada uma das pessoas identificadas que participaram da invasão vai responder, o delegado explica que cada caso será avaliado individualmente, já que as pessoas tiveram participações diferentes, mas podem ser considerados os crimes de invasão de propriedade, depredação de patrimônio privado, receptação e furto dos animais.
A reportagem do G1 entrou em contato com a diretora do Instituto Royal, Silvia Ortiz, para saber sobre as atividades do laboratório após a invasão, mas ela preferiu não se manifestar por uma questão de segurança. Desde o início dos boatos de maus-tratos feitos dentro do laboratório aos animais, ela e sua família sofreram ameaças, precisando mudar até de cidade.
Após as invasões ao laboratório, a diretoria do Instituto Royal enviou um comunicado à imprensa no dia 6 de novembro de 2013, informando o encerramento de suas atividades em São Roque. Para eles, a medida foi necessária levando-se em conta às "elevadas e irreparáveis perdas" que o laboratório sofreu com a ação dos ativistas, o que significou "a perda de quase todo o plantel de animais e de aproximadamente uma década de pesquisas".
Dois dos 178 beagles foram recuperados pela polícia de São Roque (Foto: Bianca Celoto/TV TEM)Dois dos 178 beagles recuperados pela polícia
de São Roque (Foto: Bianca Celoto/TV TEM)
A empresa também atribui a decisão à crise na segurança, que coloca "em risco permanente a integridade física e moral de seus colaboradores". Segundo o laboratório informou na época, cerca de 85 funcionários, entre médicos veterinários, farmacêuticos, biólogos e biomédicos, foram desligados da empresa. "O prejuízo causado ao Instituto Royal não é mensurável. Mas é certo que o Brasil inteiro perde muito com este episódio", concluiu o laboratório por meio de nota.
Relembre o caso
Em setembro de 2013, após denúncias de maus-tratos em animais usados em pesquisas e testes de produtos farmacêuticos - incluindo cães da raça beagle, camundongos e coelhos -, ativistas passaram a protestar em frente ao Instituto Royal. Os manifestantes acusaram o instituto de usar metódos cruéis na realização de experimentos. Já no dia 12 de outubro, ativistas se acorrentaram no portão da unidade e prometeram ficar no local até terem uma lista de reivindicações atendidas. Na época, representantes do laboratório conversaram com os manifestantes, mas, segundo uma das organizadoras do protesto, não houve acordo.

O movimento ganhou adesões após boatos se espalharem nas redes socias de que o Instituto Royal estava preparando a retirada e o sacrifício dos animais da unidade. A informação foi divulgada pelos ativistas que estavam de plantão em frente ao laboratório e viram três vans e um caminhão de pequeno porte entrarem no laboratório.
Em seguida, uma reunião foi marcada entre ativistas, funcionários da Prefeitura de São Roque e representantes do laboratório no dia 17 de outubro, mas foi cancelada porque o Instituto Royal informou que, por uma questão de segurança, não mandaria um representante. Diante da situação, os ativistas registraram um boletim de ocorrência de denúncia de maus-tratos
Na madrugada do dia 18 de outubro, cerca de 100 ativistas quebraram o portão e invadiram o instituto. Com carros particulares, os ativistas retiraram do local 178 beagles e sete coelhos, além de destruir boa parte das pesquisas do laboratório que estavam armazenadas em arquivos do escritório.
Na época, o Instituto Royal afirmou que realizava todos os testes com animais dentro das normas e exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que a retirada dos animais do prédio prejudicava o trabalho que vinha sendo realizado. Segundo o laboratório, que classificou a invasão como ato de terrorismo, a ação dos ativistas vai contra o incentivo a pesquisas no país.
Por fim, um protesto contra o uso de animais em pesquisas, realizado no dia 19 de outubro, na rodovia Raposo Tavares, terminou em confronto quando black blocs se misturaram a ativistas. Três carros, sendo dois da imprensa e um da Polícia Militar, foram queimados, e seis pessoas foram detidas. A tropa de choque da capital teve que ser acionada para combater o tumulto e reabrir a rodovia ao tráfego.
Na madrugada do dia 13 de novembro, depois que o Royal havia encerrado oficialmente suas atividades, outro grupo voltou a invadir o local e, desta vez, levou os ratos de pesquisa que haviam sido deixados lá. Durante a invasão, seguranças foram agredidos e amarrados pelo grupo.
Proprietários alegam que fariam tudo de novo para ficarem com os animais (Foto: Natália de Oliveira/G1)Proprietários alegam que fariam tudo de novo para ficarem com os animais (Foto: Natália de Oliveira/G1)

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