Ex-diretor preso na Lava-Jato pediu ajuda de empreiteiro para obra em Pasadena

Duque pediu a executivo da Odebrecht que procurasse concorrentes interessados em fazer modernização da refinaria.
BRASÍLIA - O ex-diretor de Serviços e Engenharia da Petrobras, Renato Duque, que está preso em Curitiba, pediu para um executivo da Odebrecht procurar concorrentes para realizar as obras de modernização da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. O pedido foi feito antes mesmo de a estatal concluir a compra da primeira parte da refinaria, em 2006. A obra acabou não sendo realizada devido à disputa judicial entre a Petrobras e a Astra sobre a segunda metade da refinaria.
A revelação está na investigação feita pela Comissão Interna de Apuração da Petrobras. O GLOBO teve acesso ao relatório que apontou o ex-presidente José Sérgio Gabrielli, os ex-diretores Nestor Cerveró, Paulo Roberto Costa e Jorge Zelada e cinco funcionários como responsáveis do problema do negócio. Duque acabou de fora da lista porque a obra não ocorreu.
A Comissão teve acesso a um e-mail enviado em maio de 2006 pelo executivo Rogério Araújo, diretor da Odebrecht Engenharia Industrial, a Duque. O ex-diretor de Serviços repassou este e-mail a Cerveró, que comandava a área internacional. Na mensagem, Araújo conta ter procurado as empreiteiras Andrade Gutierrez, Construções e Comércio Camargo Corrêa e a Queiroz Galvão. Pede um encontro com Duque para tratarem de detalhes do negócio.
"Caro Duque, fizemos aquela rodada, dando um panorama do Projeto, as dificuldades de operar nos EUA, nossa experiência de 16 anos naquele país, razões de estarmos contatando ele e até mencionamos um percentual aprox. 15% para participação de cada empresa: AG, meio que blefou...dizendo que achavam que seriam a terceira Empresa (no lugar da Ultratec...), ficaram de pensar no assunto; CCCC reagiu dizendo que nem sabia onde era este local....,ficaram de avaliar junto sua área Internacional; QG, foi curta e grossa, declinando, já que Ildefonso é casado com uma americana e conhece muito bem as dificuldades para qualquer empresa operar naquele país. Gostaria de lhe encontrar, para dar mais detalhes e combinar próximos passos", escreveu Araújo.
O executivo da Odebrecht foi alvo de um dos mandados de busca e apreensão na sétima fase da Operação Lava-Jato da Polícia Federal. O Ministério Público Federal chegou a requerer sua prisão temporária. O juiz da 13ª Vara Criminal de Curitiba, Sérgio Moro, porém, entendeu não haver elementos que justificassem a detenção de Araújo.
Chamou a atenção da comissão interna da Petrobras o fato de Duque ter conduzido a negociação junto a Odebrecht antes que o negócio fosse fechado pela Petrobras. Aprovado pela diretoria executiva e pelo Conselho de Administração em fevereiro de 2006, a compra da primeira metade da refinaria foi concluído apenas em setembro daquele ano. Por fim, a Odebrecht acabou ficando sozinha na proposta de realizar a obra, que acabou não sendo realizada devido à disputa judicial entre a Petrobras e Astra, que durou até 2012.
A Odebrecht e as três empresas procuradas por Araújo são mencionadas em delações premiadas de executivos da Toyo Setal como integrantes do “clube VIP”, que comandava o cartel de fornecedores da Petrobras.
A defesa de Duque, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que não teve ainda acesso à investigação interna da Petrobras e ressaltam que “a Diretoria de Serviços, comandada por Renato Duque, de janeiro de 2003 a abril de 2012, não era a responsável por Pasadena”.
A Odebrecht respondeu por meio de nota: “Em 2006, procurada pela Petrobras sobre interesse em ser uma das empresas responsáveis pela modernização da planta localizada nos EUA, a Odebrecht, que atua naquele país desde 1990, manifestou interesse em prestar o serviço e, idealmente, em consórcio com outra empresa do setor como é de praxe e autorizado pela Petrobras. Apesar do interesse demonstrado pela empresa, a Petrobras acabou não dando prosseguimento ao processo e nenhuma obra nesse sentido foi realizada à época. A Odebrecht mantém, há décadas, contratos de prestação de serviços com a Petrobras, todos conquistados de acordo com a lei de licitações públicas”.
Questionadas sobre participação no “clube VIP”, a Andrade Gutierrez disse não ter acesso às delações premiadas e que “não tem ou teve qualquer envolvimento com os fatos relacionados com as investigações em curso”. A Camargo Corrêa “repudia acusações sem comprovação, vazadas de forma seletiva, que impedem qualquer possibilidade de defesa”. A Queiroz Galvão “reitera que todas as suas atividades e contratos seguem rigorosamente a legislação e está à disposição das autoridades para prestar quaisquer esclarecimentos necessários”.

Postar um comentário

0 Comentários