Denúncia contra servidores vira caso de polícia

Chefe da fiscalização e diretor de patrimônio da prefeitura são acusados de venda irregular de terrenos



Giuliano Bonamimgiuliano.bonamim@jcruzeiro.com.br

Uma denúncia apontou para a existência de quadrilha infiltrada na Secretaria de Planejamento de Araçoiaba da Serra. Funcionários ligados à pasta, com acesso a informações privilegiadas, foram acusados de falsificar documentos para a venda de terrenos existentes na cidade. O relatório foi elaborado pelo fiscal de obras Allas Wagner Ribeiro, que trabalha no próprio setor, e apresentado anteontem na sessão ordinária da Câmara de Vereadores. Uma cópia do documento foi entregue no mesmo dia à Secretaria de Governo e, consequentemente, à prefeita Mara Melo (PT).

Ribeiro apontou o atual chefe do setor de fiscalização, Deusvander Leugo Pires, como um integrante da quadrilha. Outro citado foi José Marques Vieira Filho, na época diretor de patrimônio da Prefeitura de Araçoiaba da Serra. Ele teria sido exonerado do cargo ainda neste ano após um corte de funcionários para a contenção de despesas. "Eles andavam pelas ruas, achavam um terreno vazio, abandonado, levantavam a ficha na Prefeitura e o vendiam", conta.

Segundo Ribeiro, a quadrilha falsificava toda a documentação do terreno e deixava a venda nas mãos de um homem chamado Neto. "Esse Neto atuava como um corretor", diz. "Eu não o conheço, nunca o vi pessoalmente."

De acordo com Ribeiro, uma briga entre os integrantes da quadrilha teria motivado Neto a apresentar uma série de conversas por meio do aplicativo WhatsApp. No relatório constam 28 imagens de diálogos entre Neto e Zé - para Ribeiro, Zé é José Marques Vieira Filho -, feitos no período de 8 setembro a 7 de outubro. "Deram um tombo no Neto e ele ficou muito bravo", completa.

O relatório desenvolvido por Ribeiro foi feito a pedido de um ex-chefe do setor de fiscalização. Segundo ele, o documento está pronto há duas semanas e já havia sido entregue à prefeita Mara Melo. "A prefeita não se demonstrou muito receptiva. Aí eu tive que denunciar em público", relata o fiscal, que diz ser inocente e não pertencer ao esquema da quadrilha.

Mara Melo confirmou ter recebido o relatório há duas semanas. "Quando eu recebi o documento anônimo, imediatamente eu pedi para o setor investigar", conta. Ontem, a prefeita disse estar ciente das denúncias e prometeu arregaçar as mangas em busca da verdade. "A denúncia está atualmente em análise no setor jurídico e, se o mesmo constatar evidências, os envolvidos serão afastados e será solicitado ao delegado municipal a abertura de um inquérito policial", diz. A chefe do executivo de Araçoiaba da Serra prometeu contatar também o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), por meio do Ministério Público do Estado de São Paulo.

Na opinião de Mara Melo, aparentemente os dois fiscais - Allas Wagner Ribeiro e Deusvander Leugo Pires - estão envolvidos no esquema que envolve a falsificação de documentos e a venda irregular de terrenos na cidade. Mesmo assim, a prefeita não confirmou o afastamento de ambos do trabalho. "Se eu verificar com o jurídico que tem procedência a informação, com certeza vamos determinar o afastamento e a investigação por parte da delegacia."

A prefeita também confirmou que Pires não é funcionário concursado. "É de confiança, ele entrou no meu governo. Conheci ele no processo eleitoral, mas é um técnico, faz Direito e achei que fosse alguém mais preparado, qualificado", conta. Segundo Mara Melo, ao assumir o cargo de líder do executivo, não tinha nenhum fiscal concursado. "Quando eu cheguei colocamos todos em concurso. Só ele [Pires] que não é."

Mara Melo também afirmou a existência de um "racha" no setor de fiscalização da Prefeitura de Araçoiaba da Serra. "A gente sabe que tem um levante lá dentro, pois muitos sabem demais e alguém tentou se antecipar. E isso começou com uma investigação interna, com documento anônimo", conta.

A prefeita fez questão de demonstrar interesse em apurar esse caso. "Não temos nenhum compromisso com qualquer que seja o funcionário, seja ele concursado ou de comissão. Qualquer situação de insegurança, a ação será tomada, pois o compromisso é com o serviço público", conclui.


"Nada oficial"


O atual chefe do setor de fiscalização, Deusvander Leugo Pires, disse estar disposto a abrir as contas e o sigilo telefônico. Ele esteve na Câmara, ontem de manhã, atrás de uma cópia do processo para ter ciência do que foi denunciado. "Até o momento não é nada oficial, é apenas uma denúncia. Não foi aberto inquérito e eles alegaram que vão emitir a cópia do ofício quando for aberto o inquérito. Então, até o momento, prefiro não dar qualquer informação."

Nas conversas pelo WhatsApp entre Neto e José Marques Vieira Filho, Pires é várias vezes citado com o apelido de Deus. Questionado, o fiscal demonstrou cautela. "Aí precisa verificar judicialmente se houve alguma autorização, como é que foi feito isso, se houve manipulação. Só uma investigação para dizer isso", comenta.

José Marques Vieira Filho foi procurado para comentar as denúncias. Ele não foi encontrado.

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