Presos políticos contam em detalhes horror dos porões


 - Atualizado: 01 Maio 2016 | 06h 59

Relatos obtidos na época, e mantidos sob sigilo durante 40 anos, mostram a crueldade do aparalho repressivo

A Cruz Vermelha obteve de forma clandestina relatos anônimos de prisioneiros sobre o que ocorria nas prisões do Brasil e que, por 40 anos, foram mantidos em total sigilo. Um dos pacotes veio de Jean Marc von der Weid, detido no Rio. O “suplício” vivido por Weid, ex-presidente da UNE, em Ilha das Flores, é contado com detalhes. Depois de choques elétricos na cabeça, espancamento na cabeça, pendurado em um pau de arara, simulacro de afogamentos e golpes que levaram a uma surdez parcial, ele foi “jogado nu” em um “cubículo imundo”.
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Após um “descanso” de 24 horas, as torturas foram retomadas. “Ficou jogado numa cela, nu, durante oito dias e incomunicável durante 25 dias (...) Após mais de um mês, ficou isolado dez dias no banheiro, e foi levado ao 1.º distrito naval onde aplicaram novos choques. (...) Aconselhada por médicos, sua família pediu que fosse feito um exame neurológico completo. A resposta a este pedido foi um novo isolamento completo durante 17 dias, 6 dos quais no banheiro”.
Um ano depois, já exilado na Suíça, ele diria ao CICV que o governo teria perdido o controle da atitude de suas forças de ordem e que cada uma das polícias “age como bem entende”. Ele também alertou para o centro de detenção do aeroporto do Galeão.
A também estudante Marijane Vieira Lisboa, na época com 22 anos, é também mencionada. “Foi espancada, sofrendo choques elétricos que lhe causaram desmaio prolongado a ponto de assustar os torturadores, que se viram forçados a interromper as aplicações de choques para recuperar as batidas do coração e a pulsação: ficou isolada durante quinze dias”.
No Recife, Elenaldo Teixeira e um estudante apenas identificado como Luis “foram torturados durante 24 horas, até a beira da morte”. 

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