Ivo Pugnaloni: A queda por causa de erros básicos, fundamentais


23 de agosto de 2016 às 22h51


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Novas rádios e TVs: a defesa que Lula e Dilma negaram sempre a si próprios e à Esquerda. Por quê?
por Ivo Pugnaloni
Agora que Dilma está muito perto de cair e um governo usurpador e degenerado apodera-se de Brasília e do Brasil, muitos historiadores e políticos à Esquerda e à Direita preparam-se para brindar-nos com as mais variadas análises.
Apontar erros será tão fácil, quanto excitante. Lula e Dilma tiveram muitos acertos, mais acertos do que erros.
Mas seus erros foram básicos, fundamentais.
E por isso, altamente interessantes do ponto de vista histórico. Para que não os cometamos outra vez.
Dentre esses erros existe um, porém que se destaca. Ele é tão evidente, tão básico, que quase nunca é comentado. Ele parece ser tido como algo natural e que “sempre foi assim”. Esse erro fundamental, que a Direita deve agradecer todos os dias ao Diabo, por Lula e Dilma terem-no cometido com tanto empenho e vontade foi:
Como seria possível que dois líderes nacionais de esquerda pudessem pensar em mudar um país, sem nunca ter dado um passo concreto para construir meios de comunicar-se diretamente com seu povo como um todo, mas apenas em discursinhos diários em inaugurações, editados e transmitidos ao sabor da Globo?
Como, Meu Deus, um líder experimentado como Lula poderia pensar em contrariar interesses tão poderosos, como os que contrariou como o Pré-Sal, o Banco dos BRICS, sem contar com o apoio dos meios de comunicação de massa do estado, do governo e das organizações sociais?
Como enfrentar inimigos tão poderosos sem ter meios de comunicação que mostrassem os avanços alcançados e os objetivos conseguidos por seu governo, até para cumprir uma obrigação com a transparência, princípio basilar da Constituição?
Como é que Lula e Dilma podem ter pensado em eleger sucessores, fazer frente aos golpistas de sempre, sem ter ajudado a sociedade a criar seus próprios meios de comunicação de massa, que chegassem aos corações e as mentes daqueles a quem seus programas e suas obras estavam beneficiando em todos os dias de seus mandatos?
Como Lula e Dilma pensaram em manter o apoio popular num país que cultua o ditado “Quem cala consente”, calando-se por anos, como se calaram frente aos que os caluniaram , ofenderam a sua dignidade, de sua família e os desrespeitaram e aos seus cargos, em todos os minutos e segundos de cada santo dia, usando para isso uma rede de meios de comunicação claramente articulada, cartelizada e coordenada?
E que era a única a falar?
Como foi que Lula e Dilma, com um passado ilibado, puderam deixar de exercer por tanto tempo o direito de defender sua honra e a honra do Partido que os elegeu, arriscando, nessa atitude suicida, não apenas a a sua imagem, mas a luta e o trabalho de uma militância que arriscou sua própria vida para libertar o Brasil de uma ditadura militar?
Como foi que Lula e Dilma imaginaram que programas como o “Minha Casa Minha Vida”, “Bolsa Família”, “PRONATEC”, “Mais Médicos”, “Luz para Todos”, poderiam perdurar por mais tempo do que seus mandatos, sem estarem inscritas em Lei por um Congresso eleito dentro de um clima de normalidade democrática, onde a Esquerda e não só a Direita, gozassem igualmente da propriedade dos meios de comunicação social e concorressem pelo menos em igualdade de condições?
Como foi que Lula e Dilma planejaram o futuro dos brasileiros e das brasileiras que viriam depois de seus mandatos sem nenhuma preocupação com aquilo que estava sendo incutido na cabeça e nos corações dessas 200 milhões de pessoas, dia e noite, por um conjunto de pouco mais de 10 bilionários que dominam 98% dos meios de comunicação de massa do Brasil, que cultivam dentro desses corações apenas o egoísmo e o consumismo, procurando retirar deles, qualquer ideia de solidariedade, de amor ao próximo, de igualdade?
A explicação que falta. Várias hipóteses
Lula e Dilma devem a todo o povo brasileiro, uma explicação sobre por que foram assim tão negligentes com o tema da comunicação social. Ainda mais agora, que devido a esse erro fundamental, o povo sofrerá nas mãos de uma oligarquia corrupta.
Vejam, não estou falando aqui em censura aos meios de comunicação da Direita. Não se toca aqui no sagrado direito de expressão de ninguém, muito menos da Direita. Mas sim do sagrado direito da Esquerda, como a Direita, também poder possuir meios de comunicação de massa. Eles já têm os deles, nós teríamos os nossos. Vamos ver quem conseguiria mais apoio da sociedade para sua visão de mundo.
Deve existir uma razão, válida ou não para esse erro básico, quase estúpido. Deve haver um motivo, “uma tática secreta”, uma razão que nós, simples mortais, não conseguimos alcançar. E Lula e Dilma precisam explicar para nós essas razões.
Salta à vista que alguma coisa muito estranha existiu. O desleixo com a comunicação social própria não pode ter sido obra do “acaso”. Ou “negligência”. Não existe negligencia em assunto tão importante.
Por isso, fazendo uma tentativa de encontrar uma razão, podemos traçar algumas hipóteses. Até para ajudar Lula e Dilma a nos darem uma explicação.
A primeira hipótese seria a do “Esquecimento”, segundo a qual, com tanta coisa para fazer, num país tão cheio de problemas, nossos líderes teriam “se esquecido”, completamente, de dedicar um tempinho para enfrentar o problema da comunicação social. Só que não. A tese do “esquecimento” não “cola.
Não é possível que políticos populares, com tanta tradição nas lutas da Esquerda, tenham apenas “se esquecido” desse “detalhe” da Comunicação Social, em meio a tantas outras prioridades. Afinal a comunicação é a principal dessas atividades. “Quem não se comunica, se trumbica”, já profetizava Abelardo Barbosa, o popular “Chacrinha”.
Como disse um “meme” outro dia; “Todo poder emana do povo. Mas o povo faz o que manda a Globo”
A segunda hipótese seria a da “Ingenuidade” , segundo a qual Lula e Dilma, por serem pessoas boas, de almas elevadas e muito crédulas, preocupadas com o bem estar de seu povo, teriam sido convencidas a acreditar nas boas intenções, no “elevado espírito democrático” dos Irmãos Marinho, da TV Globo e dos seus colegas donos da mídia golpista de sempre.
Essa hipótese da “ingenuidade” também não “cola”. Ainda mais quando nos lembramos que lotaram as presidências e os cargos comissionados da TV Brasil e da EBC com quadros praticamente cedidos pela Globo, dependentes de sua direção, que fizeram sempre o possível para que as mídias do governo federal nunca tivessem nenhuma estação de TV aberta ou Rádio FM em nenhuma capital do país.
A terceira hipótese (e essa eu já ouvi dentro do PT) é a “quase impossibilidade de conseguir uma concessão de TV ou rádio, pois todas estão na mão de políticos ou de pastores evangélicos”.
A essa hipótese risível confesso que respondi usando todo o sarcasmo que podia: “mas será que os presidentes da TV Brasil, se quisessem, se fosse essa a orientação do Lula ou da Dilma, não teriam dado ‘um jeitinho’ lá no governo, para conseguir uma concessão em cada capital, em cada cidade de porte médio? Será que eles não conheciam alguém lá no Ministério das Comunicações que poderia ajudar ?”
A quarta hipótese é a da “Inviabilidade Financeira”. E essa contrasta com o empréstimo de 1,6 bilhões que o BNDES com o aval do governo Lula, fez para a TV GLOBO, salvando o grupo da falência nas vésperas do vencimento de suas concessões no Rio e São Paulo.
Também não “cola”, pois implantar, operar e explorar serviços de radiodifusão e TV é prática comum não só de políticos e pastores mas de organizações sindicais patronais.
Não é possível que os mais de 15.000 sindicatos, federações e confederações de trabalhadores existentes no Brasil, que apenas de imposto sindical arrecadam 2,5 bilhões ao ano, fora as mensalidades dos associados, não pudessem, reunidos e estimulados pelo governo e pelos partidos da Esquerda, fazer a mesma coisa: construir uma rede popular de rádio e TV.
Isso é absolutamente comum em todos os países do mundo. E se justifica plenamente pela necessidade destes organismos sindicais se comunicarem com seus filiados, apresentarem suas atividades, exercer um salutar diálogo com a sociedade em torno dos temas culturais, políticos e filosóficos que seu papel exige. Evitando a unicidade do pensamento, estimulando a pluralidade de ideias e opiniões.
Se o BNDES tem 22% da Globocabo, o financiamento daquele banco estatal a projetos que criassem novas emissoras de rádio e TV, geridas e operadas por entidades representativas de trabalhadores, encontraria não apenas justificativa cultural e empresarial, mas garantias de lastro financeiro em contratos de publicidade, privada e oficial, recebíveis de contribuições e associados, promoções, etc.
A quinta hipótese, é a desculpa da “Obsolescência” da TV e do Rádio frente à redes sociais”, de todas, a pior desculpa e a mais amarela. Sem dúvida é a pior desculpa pois ao fim quer que enquanto a Direita usa armamento pesado, como a artilharia de calunias, o bombardeio de mentiras, os porta-aviões da enganação, pilotando enormes redes de radio e TV, a Esquerda deveria reagir limitando-se a dedilhar nos tecladinhos de “whastsupp”…e no “feice”…
Ainda mais agora, quando a velha oligarquia paulistana “quatrocentona”, de mãos dadas com os “coronéis” do nordeste e seus capangas, prepara o desmonte da legislação trabalhista e previdenciária para escravizar, de uma vez, o sofrido e enganado povo brasileiro. Acabando assim com avanços sociais que a sociedade, a duras penas vem criando desde a década de 30.
Com a palavra Lula, Dilma e (por que não), a Direção Nacional do PT, dos partidos de esquerda e todos os sábios marqueteiros, políticos, filósofos e pensadores responsáveis por estar o povo brasileiro nesse estado de letargia, desânimo, desinteresse e completo domínio cultural e político da Direita.
Expliquem direitinho para nós, o povo qual foi a razão pela qual vocês nunca deram um passo significativo para que tanto o Estado, como o Governo, como a sociedade brasileira pudessem ter acesso a outras rádios e TVs que representassem uma alternativa de informação, formação e opinião do que a Rede Globo e seus aliados?
E para o Lula (que afirmou que anda pensando em ser candidato em 2018) uma outra pergunta:
Você ainda acha que não precisamos criar uma rede popular de emissoras de rádio e TV, pois como disse o Dirceu para o Requião “a nossa rede já existe Requião! É a Rede Globo!”




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