Francisco Luís: O tamanho da travessia dependerá da resistência agora


16 de outubro de 2016 às 11h30


PP_Ato-Contra-o-Golpe-na-avenida-Paulista-em-Sao-Paulo_00206102016 (1)por Francisco Luís, especial para o Viomundo
Há seis meses falei da tragédia anunciada da PEC 241 e apontei a década perdida que se iniciava.
Infelizmente, ela já foi aprovada em primeiro turno. Felizmente, o debate nas redes sociais está fazendo com que muitos brasileiros comecem a ter uma visão muito concreta do que ela representa.
Disse também que havia três estacas para a resistência: golpe, acordo dos ladrões e o ataque dos direitos sociais.
Claro que sabia que o processo não é rápido, pois existe o bloqueio da mídia e as pessoas ainda não estão vivendo o caos anunciado pela aprovação da PEC 241.
Também devemos saber que temos uma travessia e o seu tamanho dependerá da resistência que faremos agora.
Para a esquerda, as eleições municipais foram disputadas como se o PT e Dilma estivessem na presidência.
A esquerda ainda não teve tempo de pensar e amadurecer claramente a estratégia de que se não unir agora não terá chance.
Daí a pulverização de candidaturas legítimas, que nos tirou do segundo turno em várias cidades. Repetimos o erro da disputa pela presidência da Câmara dos Deputados devido a saída de Eduardo Cunha.
O PT perdeu nestas eleições. Voltou ao patamar de 2000.
O pior é que essa perda foi acompanhada de baixo crescimento do PSOL e de avanços pontuais de outros partidos de esquerda.
Na minha avaliação, perdemos para a decepção e o desânimo.
Por isso mesmo, a única forma de o PT quebrar este ciclo é voltar a ser o velho PT, que foi consagrado nas urnas na figura do campeão de votos Eduardo Suplicy e de outros “suplicys” em várias capitais, mesmo se elegendo por outros partidos,que foram bem votados.
Sinceramente, a nossa expectativa é que esse recado sirva para acordar a cúpula do PT.
O PT errou e tem que reconhecer seus erros. Lembro aqui que o capital também o condenou mas pelos seus acertos nas políticas sociais.
Neste momento, mais do que nunca, o PT precisa voltar a ser o PT dos anos 80, partido de mobilização social, educador do povo e de lutar com os pobres. Deve ter a humilde de chamar todos aqueles que defendem os interesses do mais pobres a se unirem.
A população ainda não vive claramente a tragédia social que se abaterá sobre nós, o que só ao longo do tempo ficará mais claro. Podemos e devemos lentamente abrir seus olhos.
A sensação de morte e da perda de direitos nos entristece e enfraquece.
Mas vale lembrar aqui que para os escravos negros nos Estados Unidos a morte era uma festa que deve marcar um momento de profunda transformação.
Quando vamos a um velório, não há palavras para expressar a perda. Mas o olhar e o gesto de solidariedade podem dizer tudo o que precisa ser dito.E é isto que temos de fazer agora: lutar e construir juntos a resistência em tempos de ditadura civil.
Esse gesto tem de ser de toda a esquerda.
Neste momento de ataque brutal do capital, convém relembrar o lema da internacional: “Trabalhadores uni-vos”.
Já temos instrumentos para nos unir. São as frentes populares –Brasil Popular e Povo Sem Medo.
O que precisamos, agora, é construir a unidade na prática e evitar o mal do aparelhamento.
A grande tarefa é constituir as frentes nos municípios e nos bairros, pois daí nascerá a frente de esquerda real. Do contrário, teremos um mero arranjo entre forças políticas importantes mas com baixa capacidade de alterar a realidade que vivemos.
A resistência se fará via movimentos sociais.
É vital a expansão em todo o País de núcleos de comunicação popular, como os Jornalistas Livres, Mídia Ninja, entre outras iniciativas.
A implantação de frentes por todo o país pode ajudar a montar uma rede de comunicação de esquerda, e ser espaço de formação e vivência política.
As frentes podem ser um antídoto à famosa imagem de que “a esquerda só se une na cadeia”. Trabalhar e construir juntos a unidade nas dificuldades da crueza da luta de classes.
Por exemplo, hoje, 15 de outubro, Dia do Professor, alguns amigos de uma cidade média do interior paulista promoveram uma aula pública para debater a PEC 241 e a MP746/16, que trata da reforma do ensino médio. Houve show de artistas locais, intervenção teatral, oficina, palestras de educadores referência na cidade.
Tudo isso graças à união de vários setores da sociedade e de militantes de esquerda.
Vejo uma geração jovem resistindo e ocupando as ruas e muita perseguição por parte da polícia.
Por isso, temos que atuar em frentes unindo todos os setores, pois a chance de resistência é maior. Se quisermos ajudar os pobres a terem algum futuro, só nos resta a reorganização e a luta.

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