das agências de notícias
Grupos de rebeldes oposicionistas e forças leais ao ditador líbio, Muammar Gaddafi, travam nesta terça-feira violentos combates em vários bairros da capital Trípoli, informa a rede de TV catariana Al Jazeera.
Um porta-voz dos rebeldes disse à emissora que os confrontos ocorrem em diversas áreas da capital, embora os mais violentos sejam no complexo de Bab al-Azizia, onde fica a residência de Gaddafi e um dos últimos bastiões do ditador na cidade.
A agência de notícias France Presse, que tem um correspondente na cidade, relata confrontos com artilharia pesada e foguetes ao redor de Bab al-Aziziya, que desde a véspera é alvo de uma grande ofensiva rebelde. A agência diz que os rebeldes líbios iniciaram um grande ataque contra a residencia do ditador, sem mais detalhes.
Sergey Ponomarev/Associated Press | ||
Rebelde celebra avanço durante confrontos em Trípoli; eles enfrentam forças de Gaddafi com foguetes |
O quartel-general do ditador fica perto do hotel Rixos, onde estão hospedados muitos jornalistas estrangeiros.
Nesta terça-feira, as forças do regime de Gaddafi dispararam ainda três mísseis Scud dos arredores de Sirte, reduto do regime, contra Misrata, cidade controlada pelos rebeldes, informou a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que denunciou um "ato irresponsável".
"Podemos confirmar as informações relativas ao disparo de três mísseis terra-terra Scud a partir de Sirte", declarou a porta-voz da Otan, Oana Lungescu. "Os mísseis caíram na região costeira de Misrata, a princípio sem provocar vítimas nem danos", completou.
Os rebeldes entraram em Trípoli na noite de sábado (20) e já controlam cerca de 80% a 90% da cidade, incluindo a Praça Verde -0lugar simbólico no qual os partidários do regime costumavam se reunir-- e a sede da televisão estatal, que não transmitiu sua programação diária. Mas as forças leais a Gaddafi ainda resistem em alguns bairros, incluindo Tajura, Suq-Joma e Fashlom.
Segundo o Centro de Imprensa dos rebeldes, reforços estão chegando a Trípoli por mar a partir da cidade de Misrata, 200 km ao leste, para garantir a tomada da capital.
Para aumentar ainda mais a tensão no país, Seif al-Islam, influente filho de Kadhafi, reapareceu na madrugada desta terça-feira para desmentir sua prisão e reforçar a sensação de grande confusão que reina em Trípoli, controlada em sua maior parte pelos rebeldes, que proclamaram o fim da era Gaddafi.
"Estou aqui para desmentir as mentiras", declarou Seif al-Islam aos jornalistas estrangeiros no perímetro de Bab al-Aziziya, em referência ao anúncio de sua detenção.
"Trípoli esta sob nosso controle. Todo mundo pode ficar tranquilo. Tudo está bem em Trípoli", disse Seif, apresentado como sucessor e porta-voz oficioso do regime, cercado por dezenas de simpatizantes.
Seif al-Islam afirmou ainda que as forças leais ao regime infligiram "elevadas perdas hoje (segunda-feira) aos rebeldes que assaltavam" o complexo de Bab al-Aziziya.
O procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), o argentino Luis Moreno Ocampo, havia confirmado horas antes que recebera informações confidenciais segundo as quais Seif al-Islam, objeto de uma ordem de prisão da corte por crimes contra a humanidade cometidos na Líbia, havia sido detido pelos rebeldes. Mas nesta terça-feira, o porta-voz do TPI afirmou que o tribunal nunca recebeu uma confirmação sobre a detenção de Seif al-Islam.
"Depois do anúncio de ontem, nos comunicamos com o Conselho Nacional de Transição (CNT) para obter a confirmação da detenção, mas jamais recebemos por parte do CNT", declarou à AFP o porta-voz Fadi el-Abdallah.
O presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mustafah Abdel Jalil, também afirmara na segunda-feira ter recebido informações seguras sobre a detenção de Seif al-Islam.
Mohamed Kadhafi, outro filho do ditador que também teve a prisão anunciada no domingo pelos rebeldes, conseguiu escapar, de acordo com fontes rebeldes em Benghazi.
NEGOCIAÇÃO
O enviado especial da ONU para a Líbia, Abdel Ilah Jatib, revelou nesta terça-feira que o regime líbio havia solicitado sua intervenção para negociar antes da ofensiva rebelde de sábado.
"Poucos dias antes do ataque dos rebeldes contra Trípoli, autoridades líbias me solicitaram uma intervenção na ONU", declarou Jatib, ex-ministro jordaniano das Relações Exteriores ao jornal oficial "Ad Destur". "Respondi que como mediador buscava o que era aceitável para o outro lado. E o outro lado se nega a negociar qualquer coisa antes da saída de Muamnar Gaddafi", completou.
Enquanto isso, a comunidade internacional dá como certa a queda do ditador líbio. O presidente americano, Barack Obama, e membros da União Europeia já dão como certa a queda de Gaddafi e prometeram ajudar o futuro governo líbio.
"O regime de Kadhafi está chegando ao fim. O futuro da Líbia está nas mãos de seu povo", declarou Obama na ilha de Martha's Vineyard (Massachusetts, nordeste dos EUA), onde passa férias por alguns dias com a família.
O presidente destacou que Gaddafi "ainda tem a possibilidade de impedir um novo banho de sangue, ao renunciar espontaneamente ao poder (...) e pedindo às forças que continuam a se enfrentar que deixem suas armas".
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, afirmou que o regime líbio está em "plena retirada" e que Gaddafi deve abandonar qualquer esperança de permanecer no poder.
A China anunciou que respeita a decisão do povo líbio e espera que a estabilidade retorne rapidamente à Líbia.
O secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, se declarou "totalmente solidário" com o governo rebelde na Líbia; e o Egito reconheceu o órgão político dos rebeldes como o governo legítimo líbio.
A queda de Trípoli ocorre mais de seis meses depois do início dos protestos populares contra Gaddafi no contexto da Primavera Árabe, que já derrubou os ditadores do Egito, Hosni Mubarak, e da Tunísia, Ben Ali.
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