Ex-chefe de gabinete de Agnelo chora em depoimento à CPI


Ricardo Britto, da Agência Estado 

Em depoimento à sessão da CPI do Cachoeira nesta quinta-feira, 28, o ex-chefe de gabinete do governo do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, Cláudio Monteiro,  chorou no momento em que o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) elogiou sua postura. “Hoje, eu diria que Vossa Senhoria sai daqui com a cabeça erguida, que a postura de Vossa Senhoria é a que se espera de alguém que tenha caráter”, disse, o que levou o depoente às lágrimas.
Sampaio decidiu não fazer perguntas ao ex-chefe de gabinete e considerou acertada a decisão dele de não falar sobre seu filho João Cláudio Monteiro, de 33 anos. Segundo ele, o filho era dono de uma empresa que tinha veículos para transportar resíduos no DF, um contrato que o governo local mantém com a Delta Construções. A empreiteira é suspeita de envolvimento com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Monteiro disse que seu filho, maior de idade, é quem tem que responder pelos atos dele. O deputado do PSDB disse que o ex-chefe de gabinete estava certo.
Mais cedo, o ex-chefe de gabinete admitiu ter tido três encontros com o araponga Idalberto Mathias, o Dadá. O primeiro foi a participação em uma feijoada durante a campanha de 2010 promovida por Dadá. Os outros dois encontros ocorreram, no ano passado, com o ex-diretor regional da Delta Construções Cláudio Abreu para tratar do contrato de limpeza urbana em Brasília. Dadá acompanhava Abreu.
Questionado se outra pessoa pode ter recebido propina do esquema de Cachoeira, Monteiro disse que não pode negar peremptoriamente. “Não posso afastar essa hipótese. Se isso ocorreu, foi sem meu consentimento, sem a minha aceitação”, afirmou.
Claudio Monteiro ainda afirmou que o governador Agnelo Queiroz jamais teve qualquer contato com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. “Posso lhe assegurar que o senhor Carlos Cachoeira nunca ligou para o gabinete do governador Agnelo Queiroz”, afirmou.
Monteiro reforçou, ainda, que ele e Cachoeira nunca tiveram qualquer contato ou telefonema. Questionado sobre o motivo pelo qual seu nome aparece em telefonemas trocados pelo grupo de Cachoeira, o ex-chefe de gabinete disse que as pessoas gostam de “vender prestígio”. “Eu vou fazer uma ilação. Na ilação é o seguinte. Seja quem quer que seja o ocupante do cargo público, alguém vai dizer que tem relação com esta pessoa para mostrar que tem prestígio”, afirmou. “Não existe uma única fala em que eu esteja dirigindo a essas pessoas”.
Contudo, Monteiro admitiu ter se reunido por duas vezes no ano passado com o ex-diretor regional da Delta Construções Cláudio Abreu para tratar do contrato de lixo do Distrito Federal. Sem se lembrar com detalhes dos encontros, ele disse que recebeu Abreu para discutir uma solicitação envolvendo o Serviço de Limpeza Urbana (SLU), estatal que cuida do lixo na capital. A conversa girou em torno da precariedade dos serviços prestados pela Delta.
O ex-chefe de gabinete disse que jamais recebeu um rádio Nextel para falar com integrantes do grupo de Cachoeira, suspeita levantada pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo. Monteiro disse que, em 475 dias de escuta, não há nenhuma fala pessoal com integrantes do esquema comando pelo contraventor. “Onde está o rádio? Qual a gravação que aparece em que está a minha voz?”, perguntou. E continuou: “Cadê o rádio? Cadê a propina? Cadê a facilitação da licitação? Cadê o tráfico de influência?”. Monteiro colocou à disposição os sigilos bancário, fiscal e telefônico pelo período que a comissão quiser.
Além de Cláudio Monteiro foram convocados o ex-assessor da Casa Militar Marcello de Oliveira Lopes e o ex-subsecretário de Esportes João Carlos Feitoza, que não deporam por estarem munidos de habeas corpus. Marcelo, também conhecido com Marcelão, estaria envolvido na tentativa de nomeação de um aliado de Cachoeira para o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) do DF. O último depoente é João Carlos (Zunga), suspeito de receber dinheiro do grupo do empresário goiano.
Governador de GO. Particparam da sessão dessa quarta-feira, 27, pessoas ligadas ao governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), cujo nome é mencionado nas investigações da Polícia Federal. Apenas o jornalista Luiz Carlos Bordoni prestou depoimento e repetiu as acusações de que recebeu “dinheiro sujo” do governador como pagamento de serviços de campanha eleitoral. Parte do valor, segundo ele, teria vindo de empresas fantasmas, ligadas ao grupo de Cachoeira.

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