Incêndio mata aos menos 12 pessoas em cidade histórica do Chile

Mais de 2 mil casas em Valparaíso foram destruídas; este é o maior incêndio na cidade em 60 anos

Reuters, AP e AFP
VALPARAÍSO, CHILE- Uma semana após ser atingido por um violento terremoto, uma nova tragédia foi registrada no Chile. Na cidade portuária de Valparaíso, um incêndio de grande proporções destruiu cerca de 2 mil casas e matou ao menos 12 pessoas. Ontem, os bombeiros tentavam controlar o fogo, que arrasou bairros inteiros e obrigou 10 mil moradores a desocupar suas casas.  
O ministro do Interior, Rodrigo Peñailillo, confirmou os números e anunciou que, diante do maior incêndio dos últimos 60 anos em Valparaíso, a presidente Michelle Bachelet decidiu cancelar as visitas que havia planejado para a Argentina e Uruguai nesta semana.

No início desta segunda-feira Peñailillo se reunirá com outros ministros para analisar os detalhes da situação. Bachelet chegou ao local pela manhã. "A situação é dramática, mas a ajuda está chegando", disse a presidente.
A presidente Michelle Bachelet declarou o local zona de catástrofe. Ela chegou ontem a Valparaíso, a 120 quilômetros da capital Santiago, para coordenar a operação de emergência. Segundo autoridades chilenas, o fogo começou na tarde de sábado em La Pólvora, uma área florestal nos arredores do porto.
De acordo com a Secretária Nacional de Emergências, a alta temperatura e os fortes ventos levaram à rápida expansão do fogo, cujas chamas atingiram até 20 metros de altura e destruíram 800 hectares em seis morros habitados, ao redor da cidade. As causas da tragédia ainda não são conhecidas. 
Ontem, ao amanhecer, vários focos de incêndio seguiam ativos e os bombeiros alertaram que as tentativas de apagá-los eram complicadas pela geografia da cidade, que possui colinas, ruas estreitas e ventos fortes.
Após uma noite de terror e já com a luz do dia, muitos moradores voltaram a suas casas para avaliar os prejuízos, mas, na maioria dos casos, só encontraram escombros. Mónica Vergara, por exemplo, perdeu tudo, mas salvou seus quatro filhos. Sua casa está na região de La Cruz, uma das mais afetadas.
“Senti uma explosão de baixo da terra, que levantou toda a casa, e um bombeiro nos retirou. Perdi tudo, mas meus filhos estão vivos, e é isso que importa” disse.
No sábado, a fumaça era intensa principalmente entre os morros, assim como o cheiro de madeira queimada. O incêndio afetou principalmente bairros pobres, instalados de forma precária e, às vezes, sem autorização. “Havia um inferno ao redor da minha família”, afirmou Miguel Ramírez, morador de Mariposas. “O fogo começou nas colinas e queimou todas as casas.” 

Luz e água. Ontem, os bombeiros seguiam trabalhando em Mariposas e La Cruz, onde persistia a fumaça. As famílias que não foram levadas a albergues permaneciam nas portas de suas casas, com medo de que o fogo voltasse.
“Esperamos não encontrar mais vítimas fatais. Há muitos animais que também foram afetados pelo fogo. Estamos procurando entre os escombros”, disse o coronel da polícia Fernando Bywaters.
Várias áreas afetadas pelo fogo ficaram sem energia elétrica e abastecimento de água. Autoridades locais decretaram a proibição de venda de álcool e evacuaram uma prisão de mulheres localizada na região. Foi a segunda evacuação em massa na cidade nas últimas semanas. A outra foi causada pelo alerta de tsunami após terremoto de 8,2 na escala Richter o norte do país.
Em ambos os casos, Bachelet decretou rapidamente zona de catástrofe e enviou as Forças Armadas para auxiliar na segurança e na ajuda aos atingidos. “As famílias não perderam somente suas casas e pertences, mas também o mais importante, suas recordações familiares”, lamentou ontem a presidente, depois de se reunir com o comitê de emergência.
Bachelet anunciou que as prioridades são enfrentar os focos de incêndios que ainda persistem e remover os escombros das casas destruídas. “Seguiremos apoiando primeiro a emergência e depois a etapa de reconstrução”, explicou Bachelet.
No total, 3,5 mil policiais e bombeiros e 17 aviões combatiam o incêndio. Valparaíso, zona portuária declarada patrimônio cultural da humanidade pela Unesco, é visitada anualmente por milhares de turistas que perambulam entre suas 44 colinas, povoadas por simpáticas casas coloridas. A parte antiga da cidade, o porto e a sede do Congresso Nacional, segundo os bombeiros, estavam fora de perigo. A cidade tem 250 mil habitantes.
Os incêndios são um velho inimigo da região, mas o atual é o maior que já atingiu a cidade, segundo as autoridades. É mais um desafio para Bachelet, que assumiu a presidência há um mês com um ambicioso programa de reformas estruturais e deverá reordenar novamente suas prioridades, como já havia feito com o terremoto.

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