Fim do repasse para merenda causa apreensão nas Etecs

Alunos passarão a receber produtos não perecíveis em embalagem individual




Simone Sanches
simone.sanches@jcruzeiro.com.br

A notícia da suspensão do convênio entre o governo municipal e estadual, no qual a Prefeitura era responsável pela operacionalização da merenda nas escolas técnicas e estaduais de Sorocaba, gera apreensão em alunos, pais e diretores das unidades de ensino do município. Com o fim do repasse pela administração municipal, os alunos dessas escolas não serão mais servidos com a merenda escolar e passarão a receber a alimentação escolar seca (produtos não perecíveis em embalagem individual), a partir do dia 1 de abril. Até o dia 31 de março a merenda está garantida nas escolas.

O problema gerou repercussão na escola técnica Etec Fernando Prestes, que culminou em pauta na reunião de pais, na última terça-feira, para expor a atual situação das escolas técnicas quanto ao recebimento da merenda escolar no próximo mês. Cerca de 300 pais de alunos - em dois períodos - acompanharam a reunião conduzida pelo diretor da escola Paulo Sérgio Germano, que está mobilizando e alertando pais, alunos e comunidade sobre a problemática. "A Prefeitura cortou o repasse do convênio com a Secretaria da Educação do Estado, e o problema é que as Etecs não são ligados à Secretaria da Educação; entramos no vácuo da secretaria e não temos saída", comentou. As escolas técnicas estaduais são unidades educacionais administradas pelo governo estadual por intermédio do Centro Paula Souza, autarquia vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia.

O Centro Paulo Souza confirmou a informação ao Cruzeiro do Sul e informou que está previsto para o dia 31 de março o encerramento do fornecimento da merenda por parte da Prefeitura. "A partir do dia 1 de abril, os alunos receberão a merenda seca. Alternativas à merenda seca estão sendo avaliadas pela instituição", informou em nota a assessoria de imprensa. Segundo notificação enviada pelo Centro Paula Souza à Etec Fernando Prestes, foi feita consulta à direção da escola para saber se haveria condições de receber e distribuir a alimentação escolar seca, mesmo sem a contratação de mão de obra terceirizada, que ainda constaria em análise. De acordo com o diretor até o final do mês a escola receberá dez toneladas por mês da alimentação. "Estou preocupado em como armazenar e como distribuir", desabafa. Recentemente a cozinha da escola passou por uma reforma com verba da Associação de Pais e Mestres (APM), o que também gera outra preocupação para a direção da escola. "Se a ERJ for embora, os freezers vão embora, só tenho a cozinha", comenta.


Reunião


O diretor informou que está tentando agendar uma reunião com a Secretaria da Educação (Sedu) para encontrar uma alternativa para o problema com as Etecs. "É uma questão legal. A prefeitura pode reclinar, mas estamos mobilizando, a merenda é importante para alunos", ressalta.

O diretor da Etec Armando Pannunzio, Luiz Alberto Agasi também confirmou a informação de que a partir de abril a merenda será cessada, sendo fornecida apenas a alimentação seca, mas disse que aguarda uma posição oficial. "Os pais e alunos estão preocupados com isso, é lamentável pois a merenda é essencial", comenta. A direção da Etec Rubens de Faria não comentou sobre o assunto. As três escolas técnicas estaduais somam juntas 5.300 alunos.

Questionada pela reportagem, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo informou, por meio de nota, que "tem plenas condições de assumir integralmente a distribuição da merenda nas escolas estaduais caso seja necessário." Informou ainda que o Programa de Alimentação Escolar fornece cardápios balanceados, respaldados por nutricionistas e compostos por nutrientes adequados à faixa etária escolar e que todo o processo é acompanhado pelo Departamento de Alimentação e Assistência ao Aluno da Secretaria e contempla todos os grupos alimentares.


Preocupação é com alunos do "integrado"

A principal preocupação dos alunos e pais em relação ao fornecimento da merenda (que inclui quatro refeições) é referente aos estudantes do ensino médio integrado com o técnico que permanecem em dois períodos na escola, sendo que muitos são provenientes de outros municípios. Como é o caso da estudante Nayara Vitória Pego, 15 anos, da escola Etec Fernando Prestes. A jovem que estuda das 7h15 às 17h ficou apreensiva com a notícia da suspensão da merenda. "É mais fácil comer aqui e os alunos gostam bastante da merenda servida na escola e das merendeiras que trabalham aqui", comentou a jovem que mora em Salto de Pirapora. Para a estudante do ensino médio, a jovem Julia Sales, que estuda no período das 7h15 às 11h40, a merenda escolar é muito importante. "Facilita comer na escola, não dá para estudar com a barriga vazia", comentou a jovem que também reside em outro município.

O operador de máquina Saulo Romero, pai de uma aluna do ensino médio integrado ao técnico, participou da reunião na escola e demonstrou preocupação quanto ao não fornecimento da merenda aos alunos. "As vezes ela traz dinheiro para comprar na cantina, mas não é sempre; quando minha filha chegou em casa falando fiquei preocupado, pois ela fica na escola o dia todo. A merenda é importante e vamos lutar para isso", comentou.

O casal de comerciantes Cristina Simões Pires e Marcelo Henrique, tem uma filha de 15 anos que estuda na escola e ficaram apreensivos com a notícia. A estudante faz o ensino médio integrado ao técnico das 7h15 às 17h. "Recebi com susto a informação, pois não temos alternativa, nenhuma outra opção de alimentação saudável na escola", comentou a mãe da aluna.

Shirley Ribeiro de Moraes, 52, mãe de uma aluna do segundo ano do ensino médio, manifestou bastante preocupação com a falta da merenda. "Tem crianças que tem diabetes, colesterol alto, não é justo a gente enviar lanche de casa, porque temos direito, pagamos nossos impostos e tem muitos alunos que precisam; é obrigação do Estado e do Município ajudar porque a prioridade é a educação", comentou.

A tecnóloga autônoma Maria Aparecida Yabiku Sakura, 54 anos, tem um filho matriculado na escola e também ficou insatisfeita com a notícia do corte da merenda. "O Estado tem que dar prioridade com a educação e a alimentação faz parte, ela (a merenda) chama os alunos, não tendo muitos abandonam a escola", ressalta.

A merendeira Maria Inês Ciriano, 47 anos, que trabalha na escola técnica há 1 ano e está há 10 na empresa ERJ, tercerizada da prefeitura está sensibilizada com a situação. "Tem aluno que chega às 6h30 da manhã fica esperando o café, vêm muitos alunos de outras cidades; eles dependem da comida, principalmente aqueles que ficam o dia todo na escola", comentou. Outra preocupação das merendeiras é a instabilidade de emprego. "As merendeiras estão apreensivas se haverá remanejamento para outras escolas ou se haverá cortes", comentou.


Mobilização


O estudante Vinícius Vieira, 17 anos, aluno da escola técnica Rubens de Faria, está ciente da situação e manifestou preocupação. "Eu tenho condições de comprar na cantina, mas fico preocupado com os alunos do integrado ao técnico", comentou o estudante que é dirigente da Upes (União Paulista dos Estudantes Secundaristas), durante ato público na praça do Canhão, na tarde de ontem, reunindo estudantes para discutir questões ligadas à educação. O estudante Caio Batista, 16 anos, aluno do segundo ano da E. E. João Clímaco de Camargo Pires manifestou preocupação com situação da merenda por conta da evasão escolar. "Muitos alunos acabam se ausentando pela falta do passe livre e da merenda", comenta. Hoje, a partir das 6h, os alunos prometeram se reunir em frente a escola E. E. João Clímaco para manisfestar e pedir apoio.

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