Estudantes de Arquitetura da UFMG protestam contra disciplina que incorpora racismo


PATRÕES E EMPREGADOS

Polêmica deve-se a cadeira denominada "Casa Grande", que propunha a elaboração de projeto na região metropolitana de Belo Horizonte com área separada para oito empregados
por Redação RBA publicado 28/07/2017 17h09, última modificação 28/07/2017 17h58
GRAVURA DE FRANS POST
senzala
Para os estudantes, projeto reforça as estruturas sociais do Brasil Colônia
São Paulo – Estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (EAD-UFMG) divulgaram ontem (27) nota de repúdio à disciplina “Casa Grande”, ministrada pelo professor Otávio Curtiss. O motivo, segundo os alunos, é o racismo e o desrespeito de um projeto proposto em sala de aula, na qual os estudantes deveriam elaborar um projeto de alto padrão em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte.
O projeto prevê cinco suítes com banheiro completo e rouparia e uma zona de serviço composta de cozinha, lavanderia, despensa, depósito, quartos e banheiros para oito empregados. Segundo os alunos, o projeto “incorpora a senzala e reforça os moldes de dominação em pleno século 21”.
“Após 129 anos da abolição da escravidão no Brasil, no entanto, a estrutura escravocrata ainda segue presente no cotidiano brasileiro. Como discutido em diversas disciplinas na EAD-UFMG, o quarto de empregada, por exemplo, tem como origem a segregação escravista. Ele surge como uma solução para separar empregados e patrões que permaneceram vivendo juntos após a abolição, em 1888. Com o crescimento das cidades e a verticalização urbana, as novas soluções de moradia mantiveram soluções arquitetônicas que perpetuam a separação entre patrões e empregados”, diz trecho da nota publicada pelo diretório acadêmica da Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFMG.
No texto os estudantes questionam a construção da grade curricular do curso e o modelo de arquitetura estimulado pela universidade direcionado para uma classe elitista da qual parte dos estudantes, que são negros e originários de escolas públicas, não pertencem.
“Com essa proposta, o professor Otávio Curtiss reforça os padrões sociais que vão ao encontro das estruturas do Brasil Colônia e fogem da realidade da maioria dos indivíduos que compõem a população brasileira, utilizando a proposta da disciplina para justificar a produção de uma arquitetura racista”, afirma a nota. “O racismo institucional presente na Escola de Arquitetura vai de encontro a todos os esforços de inclusão expressados pela UFMG. Mais uma vez, os setores reacionários da universidade estão pouco preparados para receber a diversidade sociocultural do novo perfil de seus estudantes, reforçando suas estruturas racistas e como elas representam uma forma de dominação na sociedade atual.”
Na rede social, a reclamação dos alunos tanto ganhou adeptos quanto recebeu críticas. Procurado pelo jornal Estado de Minas, o professor respondeu, por e-mail: “Não tenho interesse em entrar nessa questão. Os alunos não são obrigados a cursar essa disciplina para obterem o grau de arquitetos”.
Em seu perfil no Facebook, o ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro comentou: “Não sei o que é mais esquisito, numa faculdade paga com o dinheiro da sociedade (isto é, pública): o tamanho de 800 metros quadrados, a área de empregados ou o nome da disciplina, ‘Casa Grande’".

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