247 - Professor de filosofia política da PUC-Rio, Renato Lessa, diz em artigo que o governo Bolsonaro se estrutura a partir de uma linguagem com quatro núcleos: rejeição ao contraditório, horror à mediação, atitude antiglobalista e desprezo pela liberdade política e cultural experimentada pelo país nos últimos 30 anos. O autor chama de "presidencialismo de assombração" o sistema inaugurado pelo novo presidente.
"Comoventes os esforços da cobertura televisiva da posse de Jair Messias Bolsonaro. Fez-se de tudo para isolar nas falas neopresidenciais resíduos civilizatórios mínimos", afirma no artigo publicado neste domingo (6) na Folha de S.Paulo.
"Houve mesmo quem destacasse como sinal de alento positivo o juramento do empossado, de compromisso com a salvaguarda da Constituição, em esquecimento de que se trata de texto de leitura e declinação compulsórias, segundo as regras do ritual de entronização. Em ato performático complementar e, no mínimo, ambíguo, o vice-presidente, ao tomar posse, declamou a mesma peça como quem dirigia à tropa uma ordem unida".
"Cada um escuta o que quer. Nada a fazer a respeito. Há quem enfatize, ao ouvir o empossado, a vocalização dos lugares comuns de respeito à Constituição e de 'governar para todos'. Mas em época de hipervalorização do 'novo', parece mais apropriado destacar o inaudito: a plena vigência de uma ideologia de combate ao 'viés ideológico'. Supor que se trate de má-fé, pelo evidente contraditório da expressão, talvez seja conceder aos defensores da novidade generosa hipótese de natureza cognitiva".
(...) "O Presidencialismo de Assombração é o elemento operador do governo civil-militar ora implantado, decorrente da eleição de 2018. Possui —ou assim quer nos fazer crer— reservas de ímpeto, ancoradas em valores potencialmente letais ao modo pelo qual praticamos a democracia. Contém, dessa forma, elementos de inovação, que exigirão energias interpretativas renovadas. Não é brincadeira, a coisa".
0 Comentários