Da artista Mimura Rodriguez, o mural
"Enraizadas" foi pintado no Itaim Paulista, zona leste de São Paulo,
e apresenta um relato sobre o pesado e sublime fardo das matriarcas
O grafite "Enraizadas" ocupa uma área de 236,25m² (Foto: Miguel Salvatore)
Um grafite gigante que retrata gerações de mulheres matriarcas foi
inaugurado, nesta terça-feira (12), nos paredões de um conjunto habitacional da
Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) no Itaim Paulista,
zona leste de São Paulo. Intitulada "Enraizadas", a obra é assinada
pela artista visual e grafiteira Mimura Rodriguez.
Uma avó com as marcas dos anos vividos em seu rosto. Uma mãe que
amamenta o filho como pode e outra que carrega o bebê a tiracolo em meio ao dia
de labuta. No fundo, galhos e raízes de árvores que contam uma história sobre o
ciclo perene de famílias lideradas por mulheres, nas quais filhas encaram a
maturidade de virar mães, que depois tornam-se avós.
Esta é a imagem que passou a estampar os três paredões, anteriormente monocromáticos
e de pintura mal conservada, do Bloco 04-B do Condomínio Vitória, na Rua Manuel
Rodrigues Santiago, 88D. O desenho em grafite ocupa uma área de 236,25m².
"Enraizadas apresenta a
árvore em suas raízes, seu fruto e sua flor. Com uma poética que sugere não
somente a beleza, mas também a dureza e secura de muitas partes desse processo.
O ciclo. O eterno retorno. Cada criança que nasce é um ancestral que retorna.
Estou aqui porque já estive em todas as partes", detalha Mimura, a artista
da obra.
O grafite começou a ser pintado no dia 4 e levou cerca de uma semana
para ser finalizado. O desenho foi selecionado pelo projeto Museu de Arte de
Rua (MAR), da Secretaria Municipal de Cultura, da Prefeitura de São Paulo. Com
nota 106,3, a obra "Enraizadas"
foi classificada em 7° lugar, na categoria "Altura", com o tema
"Maturidade".
Mimura explica que o local escolhido para a pintura também se conecta
diretamente com a proposta poética da obra, já que os paredões do conjunto
habitacional abrigam histórias duras de diversas mulheres periféricas que ali
vivem e encaram uma rotina como matriarcas.
Fruto de um relato pessoal, o desenho se conecta ainda com a história
de sua criadora. Atuante no mundo das artes desde 2012, Mimura se tornou mãe em
2020, aos 31 anos e em meio à pandemia. Ao viver o maternar de sua filha e se
conectar com a avó, Mimura passou a ter as "mulheres" como o foco de
suas obras - sua avó está morando com sua mãe.
"Tenho aprendido muito sobre a potência das mulheres e como
sustentamos nossa comunidade em diversos aspectos, mesmo que estes não sejam
tão valorizados quanto deveriam. Tento trazer a força da ancestralidade, essa
que não é apenas sobre parentes que viveram há muito tempo, mas também sobre os
que estão aqui conosco", comenta a grafiteira, explicando que, em sua
arte, é a esses elementos que busca dar visão e voz.
A artista
A poética de Mimura é atravessada por reflexões sobre a vida, a natureza
e a ancestralidade (Foto: Arquivo pessoal)
Mestiça - filha de mãe japonesa e pai uruguaio -, Mimura é periférica,
nascida no bairro do Jabaquara, zona sul de São Paulo. Aos 34 anos, mora na
cidade de Guarulhos, na Região Metropolitana. Além de ter a força das mulheres
de sua família como inspiração, ela também enfatiza que o ambiente em que
cresceu é sua raiz e seu norte em tudo o que faz na arte.
Além de grafiteira, Mimura é graduada em cenografia pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Migrou do teatro para outras frentes das
artes em 2017, quando começou a tatuar. Durante a pandemia, retomou trabalhos
de xilogravura e tapeçaria. No ano passado, foi convidada a produzir murais com
temática especial para o dia das mães e logo se apaixonou por pintar em escala
cada vez maior e levar sua percepção de mundo para a rua.
"De mãos paradas minha cabeça fica cheia, preciso estar
constantemente movimentando e mudando o que vejo, sinto e percebo do mundo de
lugar. Seja com tinta, tecido, linhas. O importante é estar em movimento",
afirma a grafiteira que ainda compõe o rol de artistas latinos da agência "Cor Preta", que
possui uma galeria de arte online hospedada em Berlim.
Mimura já realizou cerca de 50 pinturas na carreira. Como grafiteira,
tem admiração pelos artistas de rua que abriram caminho para que a arte urbana
passasse a ser considerada uma profissão real. Além do prazer de pintar, a rua
trouxe à artista a vontade de "criar grande pra geral ver", além da "satisfação imensa" em saber que
é algo público e não privado.
Temas relacionados à ancestralidade, vivenciada através da maternidade
e de sua espiritualidade, compõem a poética de Mimura, que, além da capital
paulista, também realizou pinturas em muros no Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Jacareí, Guarulhos e Cubatão, e tem trabalhos de xilogravura e tapeçaria
expostos em São Paulo e em Berlim, na Alemanha.
Entre suas obras, destacam-se ilustrações para a coleção de sandálias
Ipanema (2021); grafite da obra "Comunidade" em um mural de 450m² no
CEU Butantã (2022); pinturas no Minhocão e murais em diversas regiões de São
Paulo, como na Baixada do Glicério, na Vila Ré, Jabaquara e na Avenida Cruzeiro
do Sul. Mimura também foi assistente de pintura em trabalhos para marcas como
Adidas e Ballentines (2021), já participou de exposições, foi palestrante e,
junto ao SESC de Osasco, realizou oficinas de xilogravura e lambe-lambe.
MAR
"Enraizadas", o mais novo trabalho de Mimura, faz parte do
Museu de Arte de Rua (MAR), da Prefeitura de São Paulo. O programa visa
aprimorar a vocação da cidade para a produção de arte urbana e ampliar seu
impacto positivo na cultura e identidade do município.
As obras em grafite, estêncil e fotografia são de diversos artistas.
Em grandes dimensões, as artes possibilitadas pelo MAR entregam à cidade
painéis em prédios e muros espalhados pelas cinco macrorregiões da capital,
como um verdadeiro museu a céu aberto.
O projeto incentiva o desenvolvimento da arte urbana pelas ruas e
avenidas da maior metrópole da América Latina. Este é o segundo ano que Mimura
é classificada pelo projeto.
Nesta edição de 2023, os projetos de intervenções de arte urbana do programa
são contemplados em nove temas diferentes - Infância e Juventude, LGBTQIAP+,
Maturidade, Meio Ambiente, Mulheres, Negritude, Povos Indígenas, Trabalhadores
e Tema Livre.
Os muros dos prédios CDHU foram mapeados pelo projeto “Na Raça”,
coletivo que obteve as autorizações e viabilizou o trabalho de diferentes
artistas, como de Mimura. Desde 2019, o projeto catalogou diversos espaços
disponíveis em regiões periféricas e, neste ano, ofereceu alguns desses pontos
para que os artistas propusessem os trabalhos junto ao MAR.
Imprensa
Obra "Enraizadas"
Local: Condomínio Vitória - Rua Manuel
Rodrigues Santiago, 88D, Bloco 04-B, Itaim Paulista.
Para mais informações e entrevistas com Mimura Rodriguez, contate a
assessora de imprensa Mainary Nascimento: (11) 96921-5666 / mainary.assessora@gmail.com
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INSTAGRAM: @mimurarodriguez
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“Este projeto foi
realizado com recursos financeiros do Projeto MAR – Museu de Arte de Rua -
Edital nº 03/SMC/2023 - Secretaria Municipal de Cultura - SP”
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