Máfia da Saúde: Interventor fará diagnóstico em 60 dias



Força-tarefa fará um pente-fino no CHS para apurar todas as fraudes em um trabalho de "começo, meio e fim"

Leila Gapy
      leila.gapy@jcruzeiro.com.br

O interventor do Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS), o médico Luís Claudio de Azevedo Silva, começará na próxima segunda-feira, dia 27, uma força-tarefa no hospital. A finalidade é fazer um diagnóstico técnico do funcionamento da unidade dentro de 60 dias, quando o resultado será apresentado ao governo do Estado. Até lá, se necessário, Azevedo Silva poderá fazer alterações imediatas no hospital. O objetivo é priorizar o atendimento médico no local. A nomeação do médico ocorreu na última segunda-feira e tem por objetivo estudar a situação do hospital, que era alvo de fraudes por um quadrilha desmantelada na última quinta-feira, dia 16, pela Polícia Civil. A intenção do governo é traçar estratégias de melhoramento da unidade.

Numa rápida entrevista à imprensa, no final da manhã de ontem, Azevedo Silva disse que o trabalho que desenvolverá no CHS terá "começo, meio e fim", ou seja, tem por objetivo pontuar os problemas desencadeados pela ação da quadrilha, enumerar as questões que envolvem administração de verba, pessoal e atendimento médico, para posteriormente ser traçado um plano estratégico de trabalho e melhoria dentro do hospital. "A minha função aqui não é de gestão, é de intervir, de fazer o diagnóstico. A prioridade agora é o hospital, por isso ficarei aqui em período integral, junto de uma equipe multidisciplinar, que instalará uma nova estrutura de organizar", disse descartando a possibilidade de assumir a diretoria. 

Além disso, o interventor destacou que podem ocorrer ações imediatas no hospital dentro dos próximos 60 dias. "Se houver necessidade, agiremos imediatamente. Obviamente tem coisas que não dá para esperar e é preciso agir", falou ele que formará uma equipe de administradores, médicos e enfermeiros na próxima segunda-feira. "Vamos a todos os setores, ouvir todos os profissionais e pacientes. Queremos descobrir as necessidades do hospital, reorganizar sua estrutura e focar num novo modelo de atendimento", disse. Azevedo Silva assumiu que a situação é de expectativa na unidade, devido aos escândalos que envolvem as últimas administrações, mas garantiu que sua intervenção não é de ordem política e sim uma forma de resposta às ações policiais. 

"O que aconteceu tem uma conotação pejorativa, mas há um trabalho honesto, com pessoas competentes e que precisa ser reorganizado", disse ele que pediu desculpas por não prolongar a entrevista com a justificativa de ainda precisava iniciar os trabalhos para se posicionar. Formado pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), Azevedo Silva tem especialização em Administração Hospitalar e Gestão de Sistemas de Saúde pela Fundação Getúlio Vargas. Possui também sete anos de experiência executiva, em níveis estratégico e de liderança, em instituições públicas de saúde como as santas casas de Lorena e de Espírito Santo do Pinhal, além de ser o atual diretor-executivo do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. 

Funcionários 
Apesar do clima de otimismo e esperança descrita pelos funcionários nos últimos dias, houve funcionários ontem que arriscaram dizer que precisarão ver mudanças no hospital, por parte do interventor, para acreditar que a ação da Polícia local foi eficaz. Três funcionários do setor administrativo, que preferiram não se identificar, usaram a expressão "ver para crer" para resumir seus sentimentos. "Estou aqui há mais de 30 anos. Estou calejado. Claro que temos esperança de coisas melhores, mas muitos já chegaram aqui com a proposta de melhorias, que por fim, não se concretizaram. Prefiro esperar e ver o que acontecerá para ter uma opinião mais clara dessa situação", falou um deles referindo-se a chegada do interventor. Um outro funcionário, presente no CHS há mais de 20 anos, disse que teme que a história não tenha um final justo. 

"Tem tanta coisa errada aqui, tanto material parado, coisa irregular, faltam macas nesse hospital e não é que não queremos comprar, é essa administração que não trabalha direito. Isso é revoltante e eu só vou acreditar que o interventor veio para mudar, quando isso acontecer. Tenho medo que as pessoas esqueçam tudo que aconteceu e que acabe em nada", disse outro deles. O terceiro funcionário disse que está feliz pelo trabalho da polícia, mas simultaneamente envergonhado. "Parece que todo mundo aqui é ruim, mas não é. Dos 2.500 funcionários do hospital, 2.400 são ótimos".
 
Novas verbas 
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, o CHS receberá, a partir do segundo semestre deste ano, R$ 60 milhões que serão revertidos na ampliação e na modernização das instalações. Os recursos serão utilizados na construção de um prédio de internações totalmente novo, anexo ao Hospital Regional, que contará com 220 leitos, dos quais 40 de UTI, centro cirúrgico com seis salas e serviços de radioterapia e hemodinâmica. As novas instalações, que ficarão prontas em 18 meses, deverão ampliar em até 80% a capacidade de realização de cirurgias no complexo.

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