15/07/2011

Cunhado é apresentado como autor dos crimes



Wellington Themistocles matou garotas porque foi surpreendido ao tentar furto

Leandro Nogueira
      leandro.nogueira@jcruzeiro.com.br

A menina com oito anos de idade caminhava para trás, em direção ao próprio quarto, e o jovem aproximava-se golpeando-a com a faca. Na sequência, o rapaz atacou a coleguinha da primeira vítima, essa com nove anos de idade e que havia dormido ali. A versão do crime sem testemunhas e dada à polícia pelo assassino confesso remete aos filmes de terror que ele tanto gosta de assistir. Foram 38 golpes aplicados com a faca da cozinha nos pescoços e costas das duas meninas: 21 facadas contra Maiara Natali da Silva e 17 em Nicoli Mayra da Silva Nogueira. Wellington Themistocles, 20 anos, segundo a polícia, é o assassino das crianças mortas no amanhecer da última segunda-feira em uma residência na rua de terra Serafim de Souza, paralela à avenida Ipanema, no Jardim Betânia.

Pai de uma criança com um ano e cinco meses, o assassino é casado com Luciene da Silva, irmã responsável pelos cuidados da vítima Maiara da Silva: Themistocles assassinou a própria cunhada e a amiga. Matou porque não suportou o fato de Maiara Silva ter acordado e questionado a presença dele na residência que havia invadido. De posse das chaves que pertence à esposa ele entrou sorrateiramente na intenção de furtar R$ 74,00 reservados ao pagamento da conta do cartão de crédito, para comprar cocaína. Assassinou e fugiu sem levar o dinheiro. Antes lavou-se preliminarmente no banheiro, jogou a faca no terreno baldio em frente, de volta à própria residência, a cerca de dez metros, limpou-se melhor, trocou de roupa e foi trabalhar como se nada tivesse ocorrido. A Polícia Civil desvendou no final da tarde da quarta-feira o caso que chocou Sorocaba e repercutiu no Brasil. O acusado está preso e foi apresentado para a imprensa na manhã de ontem.

"Foi eu mesmo", disse Wellington Themistocles à policia, de cabeça baixa, quando ao recobrar os sentidos. Ele desmaiou assim que um policial, na própria tarde da quarta-feira, comunicou que haviam encontrado a calça que vestia no momento do crime, com o molho de chaves perdidas da esposa e uma embalagem vazia de cocaína. A polícia não precisou fazer buscas para prendê-lo, pois estava no interior da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), para dar depoimento. ""O fato de estar lá foi positivo porque conseguimos chegar antes dos populares que procuravam o assassino. Quando achamos a calça começou haver aglomeração dos moradores do bairro, o pessoal começou a correr e houve muitas promessas de justiça com as próprias mãos. Graças a Deus ele estava na DIG"", disse ontem o delegado que esteve à frente das investigações, Acácio Aparecido Leite.

A polícia o considera uma pessoa fria. De frente com mais de uma dezena de jornalistas na manhã de ontem, Themistocles agiu diferente da maioria dos bandidos apresentados à mídia: respondeu às questões. Sem tentar esconder o rosto, com semblante calmo, com voz e cabeça baixas, sem qualquer agressividade ou movimentos bruscos, apesar da maioria das perguntas terem sido feitas em tonalidade de voz imperativa. A única reação do confesso foi fechar os olhos em alguns momentos, como quem estivesse refletindo. Estava com os braços algemados para trás e pés amarrados. Segundo a mãe da vítima Maiara e sogra de Themistocles, Nerci Cuchera da Silva, o assassino apoiou a família durante todo o tempo. "O meu sobrinho e o meu outro genro falavam que iam pôr a mão no assassino e ele dizia "nós vamos mesmo"... ele concordava", revolta-se a mãe.

O delegado Acácio prevê que Wellington Themistocles será acusado à Justiça por duplo homicídio triplamente qualificado: por motivo banal (torpe), contra pessoas de estatura muito inferior e sem nenhum senso de compaixão ou misericórdia (hediondo), além de outros agravantes, que deverão ser apontados pelo Ministério Público. Para cada qualificação, segundo o delegado Acácio, Themistocles deverá cumprir de dez a 30 anos de prisão, mas explica que isso tudo ainda dependerá de todo o processo, certamente com júri popular. Ainda não está decidido se haverá reconstituição do crime. Na noite da quarta-feira a Justiça decretou a prisão temporária de Themistocles, por 30 dias. 

A Polícia Civil agora aguarda a decisão da perícia para fazer o DNA na calça e constatar se o o sangue que está nela é compatível com os das meninas para ter o conjunto testemunhal e o conjunto técnico. "Embora que a presença de sangue no banheiro e nas roupas dele já são o suficiente, está provado que ele é o autor do crime", declarou o delegado. A polícia também trabalha para conseguir a prisão preventiva (até o julgamento), o que possibilitará a transferência para um estabelecimento prisional específico de crimes dessa natureza. 

"Ele é um preso que tem que ficar sozinho, tem que ser isolado de todo o convívio prisional porque a sua integridade física está em risco", declarou o delegado Acácio. Ontem a DIG havia feito contato com o diretor do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Sorocaba, que informou que ele não poderia permanecer na cidade. A direção do CDP tentava uma vaga em outro município para evitar alguma reação de outros detentos, ocasionando transtorno para a unidade prisional.
 
Crime mais grave dos últimos 20 anos 
As autoridades policiais da região de Sorocaba consideraram esse como o mais grave crime dos últimos anos em Sorocaba. O delegado titular do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior Sorocaba (Deinter 7), Weldon Carlos da Costa, disse ontem que nunca havia visto um crime como esse, cujas vítimas foram crianças, desde quando está no Deinter 7. O titular da DIG, José Humberto Urban Filho, afirmou não se recordar de um caso tão violento e hediondo nos 20 anos de polícia prestes a completar. 

Eles estiveram na entrevista coletiva em que foi apresentado o autor do crime, ao lado do delegado-assistente do Deinter 7, Renato Cruz Swenson e do delegado seccional em Sorocaba, André Moron. Weldon e Urban fizeram muitos elogios ao trabalho dos policiais. "Demonstra o grau de eficiência e o extremo senso de responsabilidade e profissionalismo dos policiais da Delegacia de Investigações Gerais de Sorocaba", disse Weldon.

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