Em 3 meses, polícia só prendeu um PM por homicídio



COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dos 129 casos de resistência seguida de morte que o DHPP (departamento de homicídios) investiga há três meses, a Polícia Civil de SP diz ter concluído 30% das ocorrências. Em apenas uma delas, foi considerado que o policial militar não agiu dentro da legitimidade, ou seja, assassinou a vítima.
No total, segundo a polícia, 148 pessoas --sendo 8 adolescentes-- morreram nesses casos de resistência seguida de morte. Além dos mortos, outras 128 pessoas teriam participado dos crimes que precederam os confrontos com os policiais. Os que não morreram, diz a polícia, estão presos ou foragidos.
O trabalho do DHPP nessas ocorrência começou no último dia 6 de abril e se restringe à Grande SP e capital. Em 2011, porém, já foram registrados, em todo o Estado, 256 casos de resistência seguida de morte --o que representa pouco mais de 50% dos casos registrados nos 12 meses de 2010.
Nos últimos cinco anos, mais de mil policiais militares foram demitidos --segundo o coronel Edson Silvestre, corregedor em exercício da PM. "Temos tolerância zero com os desvios de conduta", afirmou Silvestre.
ASSASSINATO
O caso divulgado pela polícia, nesta terça, envolve o PM Dionel José Ferreira de Melo, do 38º Batalhão, e o administrador Eduardo Cardoso de Lima, 29. No último dia 5, o policial teria marcado um encontro com Lima e forjado um roubo.
Após uma suposta troca de tiros, o PM --que estava de folga-- solicitou apoio de policiais do 10º Batalhão para levar o "suposto criminoso" a um hospital da região. "O problema é que a vítima foi socorrida com quatro tiros e, no hospital, contaram seis projéteis", diz José Carlos Carrasco, titular do DHPP.
A "farsa", segundo Carrasco, foi descoberta porque "um dos projéteis retirados do corpo de Lima foi identificado como da arma supostamente usada pelo autor do falso roubo".
Ainda segundo Carrasco, Melo e Lima --que há 12 anos é policial militar-- moravam próximos e havia uma posição antagônica entre eles. "A vítima tinha antecedentes criminais e como Lima é policial esse pode ter sido o motivo do crime".
A conduta dos dois policiais do 10º Batalhão também está sendo investigada. "Eles, no mínimo, foram omissos em identificar a farsa no local do crime. Além disso, tem os dois tiros que podem ter sido efetuados durante o trajeto do baleado ao hospital", diz Carrasco.
A Corregedoria da PM informou que os policiais já foram afastados dos serviços de rua.
PAMONHEIRO
Durante a apresentação do balanço da nova atividade do DHPP, Carrasco foi questionado se a morte do vendedor de pamonhas Geraldo Magela Lourenço, 37, --morto durante uma troca de tiros entre a PM e criminosos-- já estava esclarecido. O diretor disse apenas "que esse era um dos casos investigados e que não tinha mais detalhes".
Apesar da declaração, a polícia já reconheceu que Lourenço não foi morto por uma bala perdida. Inicialmente, a versão da PM foi de que o homem estava ajudando na fuga de criminosos que haviam invadido o Ipê Clube no dia 26 de abril para assaltar um caixa eletrônico.
Procurados pela Folha, os oficiais da PM que o chamaram de "suspeito" naquele dia para justificar a morte não quiseram falar.
Após confirmar que ele trabalhava havia 15 anos na porta de um hospital da zona sul, a polícia voltou atrás e considerou que ele "teve atitude suspeita" porque parou seu carro na avenida onde ocorria o tiroteio.
A perícia indica que a bala que matou Lourenço é de pistola calibre.40, arma padrão da PM.

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