Viciados fecham rua do centro


DIEGO ZANCHETTA

Centenas de dependentes da cracolândia montaram um acampamento no centro de São Paulo. Ao lado da Estação Júlio Prestes, um trecho de 300 metros da Rua Helvétia está fechado para a cidade e livre para o crack. Ali ninguém mais entra a pé ou de carro – nem o caminhão da coleta de lixo da Prefeitura. Até duas linhas de ônibus tiveram de mudar seu trajeto.
Dezenas de barracas foram erguidas nas calçadas por usuários de drogas que se mudaram em definitivo para a região. Com fogões de duas bocas e pequenos bujões de gás, alguns cozinham e fazem fogueira para espantar o frio. O dia todo é a mesma cena: motoristas apavorados dão marcha à ré ao tentarem entrar na Rua Helvétia e darem de frente com uma multidão de viciados.
A reportagem tentou entrar na rua de carro por duas vezes, na quarta-feira e quinta-feira passadas. Não foi possível passar. “Aqui é sempre contramão”, avisou um dos jovens que cambaleava no meio da rua. De dentro das lonas erguidas nas calçadas saíam idosos, crianças, estudantes com mochilas, mulheres grávidas, catadores de papelão. Todos andavam a esmo em uma rua que parece desconectada do resto da cidade.
E o confinamento dos “noias” realmente isolou a Rua Helvétia. Ele impede, por exemplo, a passagem de pedestres a caminho da Estação da Luz e da Pinacoteca do Estado. Para o motorista que está na Alameda Cleveland e vai para a Avenida Rio Branco, o único jeito é costurar um novo caminho pelo meio da região da Santa Ifigênia. Duas linhas de ônibus que passavam pela rua em direção ao Parque D. Pedro 2.º desviam a rota e contornam a praça da Estação Júlio Prestes, trajeto cerca de 400 metros maior.
Segundo moradores e vigias de empresas, a PM e a Guarda Civil teriam cercado os dependentes nesse espaço que está desabitado, cheio de pensões e bares lacrados em 2009 pela Prefeitura. Muitos viciados entraram nesses locais e estão morando nos imóveis.
Viaturas da PM passam pela rua, mas não dispersam os grupos no meio da rua. O território do crack fica a menos de 300 metros de uma base da corporação, na Praça Júlio Prestes.
Na quarta-feira, por exemplo, a reportagem observou dois carros da PM na Helvétia com a Alameda Dino Bueno, cruzamento onde havia centenas de dependentes. Os soldados desceram, revistaram algumas pessoas em um bar e foram embora.
“Depois da demolição da antiga rodoviária, eles (viciados) se aglomeraram aqui. Há uns dez dias fecharam a rua e ninguém mais passa”, conta um PM. Cercar os viciados no local seria uma forma de evitar que se espalhem. Quem admitiu a estratégia foram PMs ouvidos pela reportagem. O comando nega. “Essa aglomeração ocorreu de forma espontânea. Talvez porque a área está desabitada. Não foi uma ação da PM”, disse o coronel Pedro Borges, comandante da PM no centro.

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