30/05/2011

O medo bate à porta


Presa do lado de dentro: a moradora Graça Fernandes diz que é hábito trancar o portão para tudo, até mesmo para saídas rápidas na calçada para depositar o lixo

Moradores do Jardim Saira estão apavorados com a crescente onda de criminalidade e querem providências


Assis Cavalcante/Agência BOM DIA
Presa do lado de dentro: a moradora Graça Fernandes diz que é hábito trancar o portão para tudo, até mesmo para saídas rápidas na calçada para depositar o lixo
Carla de Campos
Agência BOM DIA
Antes de entrar na garagem de casa, o aposentado Oswaldo Cardoso, 68 anos, tem como hábito dar uma volta a mais pelo quarteirão para checar se há algo ou alguém suspeito. Já a dona de casa Graça Maria Fernandes, 54, jamais deixa o portão sem cadeado e, mesmo no curto período de tempo que vai à calçada para deixar o lixo, se arma de precaução para não ser surpreendida pela ação de bandidos.
Há muitos anos este clima de insegurança faz parte da rotina de quem mora no Jardim Saira, zona norte. Claro que a situação não é exclusiva do bairro, mas o comportamento dos moradores, que olham assustados para qualquer estranho que passa por ali, chama a atenção. E não é para menos: ali sobram histórias de roubos, furtos e até sequestros.
“Aqui todo mundo vive com medo de sair de casa”, resume o aposentado Oswaldo, que mora no local há 45 anos. Ele lembra que viu todo o desenvolvimento da região e, com ele, a chegada marcante da criminalidade. Apesar de estar há tanto tempo no Jardim Saira, Oswaldo pode considerar que está no lucro: só foi assaltado quatro vezes. Na última delas, há um ano, os ladrões arrancaram e queimaram a fiação externa para a retirada do cobre. Em outra ocasião, o prejuízo foi bem maior, com a invasão da residência e um arrastão geral.
“Eu pago segurança na rua. Não me sinto inteiramente protegido, mas dá uma sensação psicológica de alívio”, conta. “Mas não pode dar mole aqui. Tem de deixar tudo trancado, de dia e de noite. Não tem hora para acontecer o crime”, avisa.

Sempre em alerta 
Quando a dona de casa Graça Fernandes se mudou para o bairro, há 23 anos, encontrou um local tranquilo para se viver e cuidar da família. Com o passar do tempo, a situação foi mudando e a criminalidade, diz, se acentuou nos últimos anos. “Todo dia tem um caso de assalto aqui. A gente não vê a polícia fazendo ronda”, reclama, lembrando que na semana passada invadiram um prédio próximo a sua casa, levando os quatro pneus de um veículo.
Graça nunca foi vítima de furtos ou de roubos e nem pretende experimentar a onda de criminalidade que invadiu o bairro. Para isso, conta, ela toma todas as precauções antes de sair de casa, observando o movimento da rua. O cadeado também é fixo no portão.
Para ela, o ideal seria que todos os moradores se unissem contra a violência, mas sem contar com a polícia. “Nós poderíamos nos unir e pagar um segurança particular para percorrer o bairro. Mas alguém exclusivo para ficar aqui”, opina. Enquanto isso, ela se prepara para garantir a segurança da própria casa. Graça vai aproveitar a reforma do imóvel para implantar um sistema de videomonitoramento e alarmes. “Não tem como evitar. A gente precisa se proteger”, diz, informando que, assim como Oswaldo, já pensou em se mudar do Jardim Saira.

Bairro está próximo à rodovia 
O Jardim Saira é um bairro populoso na zona industrial de Sorocaba. Lá também estão instaladas empresas e hotéis. A prefeitura da cidade localiza-se em um bairro vizinho, no Alto da Boa Vista. A rodovia José Ermírio de Moraes (SP-75) passa entre o Saira e o Jardim Iguatemi, facilitando a fuga de bandidos e criminosos.

Denúncia anônima
Além de elaborar o boletim de ocorrência por qualquer tipo de crime que tenha ocorrido, a população também pode contribuir para o planejamento da ação policial pelo telefone 181, que recebe denúncias anônimas.

Insegurança impulsiona evasão do Jardim Saira
Morar no Jardim Saira é sinônimo de risco para a família de uma moradora de 27 anos. Ainda abalada pelo recente assalto, ela tem medo de se identificar. Na semana passada, enquanto saía com o veículo, ela e a mãe foram surpreendidas pela ação de dois bandidos. “Nós já morríamos de medo porque fomos assaltadas em outubro”, diz.
Ela e a mãe foram rendidas e ameaçadas com revólver. Os bandidos queriam o carro. Num descuido, ela conseguiu correr para dentro de casa e acionar a polícia. Enquanto isso, sua mãe era ameaçada do lado de fora. Mas a ação foi rápida e logo eles fugiram. Minutos depois a PM chegou. “Vieram três viaturas e nenhuma foi atrás deles, mesmo eu avisando que eles tinham acabado de sair”, diz.
Desde outubro, sua família reforçou a segurança de casa, mas o imóvel vai ficar para trás. “Vamos mudar daqui porque não conseguimos sair e nem voltar para casa com tranquilidade. Não posso nem ir de carro para a faculdade por isso”, desabafa.

Um desafio para a PM 
O comerciante Arlindo Alves, 50 anos, dirige um mercado no bairro há três meses. Há 15 dias ele foi vítima do seu primeiro assalto, uma situação nada inédita para o antigo dono do estabelecimento. Mas Arlindo resolveu fugir da postura passiva, denunciar e se mobilizar pela segurança do bairro. “Já estou encabeçando um movimento aqui. Vamos resgatar a associação de bairro e tentar segurança para o bairro. Estamos esquecidos aqui”, afirma.
Nesta quinta-feira, com apoio de uma rádio comunitária será promovido um debate. A proposta é reunir políticos e autoridades para tratar do assunto. No início da semana, Arlindo pretende distribuir panfletos avisando do evento e da importância da participação dos moradores.
“Eu desafio o comandante da Polícia Militar a vir aqui e mostrar a ronda que é feita neste bairro. Logo que fui assaltando os policiais vinham, paravam, davam uma olhada. Agora sumiram. Eu sei que isso não acontece só neste bairro, mas aqui vamos cobrar”, avisa.
Sem a garantia de segurança pública, o comerciante já decidiu que vai investir na proteção de seu estabelecimento. Serão cerca de R$ 4 mil para a instalação de câmeras e alarmes. “No país não deveria ter escola particular porque a educação é obrigação do governo. Assim como é a segurança. Por não contar com ela, vou ter de gastar um dinheiro que poderia investir em mercadoria para o meu comércio”, diz.
A Polícia Militar informa que entre 1º de janeiro e 20 de maio de 2011, foram registradas 19 ocorrências no bairro. No mesmo período de 2010, foram 21. Na comparação, predominam os casos de furtos de residências e de veículos.
Para orientar o policiamento, a PM possui um Plano de Patrulhamento, conhecido como CPP (Cartão de Prioridade de Patrulhamento). Mas é comum, segundo a PM, que a população não elabore boletim de ocorrência na Polícia Civil, o que dificulta o planejamento de patrulhamento.

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