Em 10 anos, qualidade da água na represa é a pior



Cetesb aponta que, pela primeira vez, água recebeu classificação 'regular'

Jornal Cruzeiro do Sul.
Giuliano Bonamim
giuliano.bonamim@jcruzeiro.com.br

A qualidade da água na represa de Itupararanga é a pior registrada nos últimos 10 anos pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb). O cálculo é baseado no Índice de Qualidade das Águas Brutas para Fins de Abastecimento Público (IAP). O relatório mais recente, referente a 2011, revela que a classificação caiu de boa para regular. O atual IAP da represa de Itupararanga é de 37, bem próximo da classificação ruim. Esse número é o pior registrado desde 2002, ano de início da medição. As médias anuais relatam a queda de 51 pontos em uma escala de 0 a 100, na análise feita pelo aparelho de medição instalado próximo à barragem, na estrada que liga Ibiúna a Votorantim.

O coordenador do curso de Gestão Ambiental da Universidade de Sorocaba (Uniso), Nobel Penteado de Freitas, integrante do Comitê da Bacia Hidrográfica dos rios Sorocaba e Médio Tietê, é pessimista em relação à qualidade da água de Itupararanga. Isso porque o queda dos índices de qualidade da água está associado ao aumento de lançamentos de esgotos domésticos no manancial, principalmente de cidades onde o tratamento é deficitário - como Ibiúna -, e de agrotóxicos e fertilizantes usados em lavouras às margens na represa, assim como a exploração agropecuária. "A tendência é piorar", diz. Segundo ele, faltam ações mais efetivas dos municípios à montante do rio Sorocaba. "Isso pode chegar a um ponto que comprometa o abastecimento público em nossa região", completa.

A classificação da Cetesb tem como base uma tabela com cinco categorias: ótima, entre 100 e 79 IAP; boa, entre 79 e 51 IAP; regular, entre 51 e 36 IAP; ruim, entre 36 e 19; péssima, entre 0 e 19. Itupararanga recebeu 88 pontos no primeiro ano de estudo e essas médias anuais são o resultado de coletas trimestrais da água, sempre no mesmo ponto da represa. O relatório, publicado no site oficial da empresa pública, aponta que "o reservatório de Itupararanga vem desde 2006 exibindo uma piora gradativa em relação à eutrofização (presença de grande quantidade de matéria orgânica na água)". O documento ressalta que o local tem apresentado piora em relação aos anos anteriores, principalmente com relação à presença de cianobactérias - que podem produzir gosto e odor desagradável na água e desequilibrar os ecossistemas aquáticos.

Segundo a Cetesb, os organismos do gênero Cylindrospermosis foram observados durante todo o ano de 2011 na represa de Itupararanga, com alguns períodos de dominância. Os valores de microcistina (substâncias químicas produzidas por cianobactérias e que podem ser altamente tóxicas para plantas, animais e humanos) estiveram abaixo do limite de detecção em todos os períodos amostrados. 

Saae confirma 
A queda na qualidade da água em Itupararanga é detectada ainda pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Sorocaba, por meio de análises feitas constantemente na Estação de Tratamento de Esgoto do Cerrado. De acordo com a assessoria de imprensa da autarquia, por enquanto não tem sido preciso fazer qualquer tipo de adequação no processo de tratamento. A Vigilância Sanitária Estadual divulga anualmente um relatório da qualidade da água para consumo em Sorocaba. Nos últimos cinco anos, o número de análises consideradas positivas chega a 99%. "Só não alcançamos os 100% por causa dos poços artesianos existentes na cidade", diz a assessoria do Saae.
 
O IAP 
A queda do IAP em Itupararanga é preocupante para os moradores de Sorocaba e Votorantim, que usam de forma direta as suas águas para o abastecimento. Os habitantes de Alumínio, Cotia, Ibiúna, Mairinque, Piedade, São Roque e Vargem Grande Paulista também as utilizam, mas dos rios que desembocam na represa. O IAP é o produto da ponderação de dois resultados. Um deles é o Índice de Qualidade de Águas (IQA), que analisa a temperatura, o pH, o oxigênio dissolvido, a demanda bioquímica de oxigênio (DBO), os coliformes termotolerantes, nitrogênio, fósforo, resíduos e turbidez. O outro é o Índice de Substâncias Tóxicas e Organolépticas (Isto), usado para analisar a presença de ferro dissolvido, manganês, alumínio, cobre e zinco.
 
Outros pontos 
A Cetesb disponibilizou um outro aparelho de medição em Itupararanga, no chamado "meio do corpo central" da represa, em frente à Praia do Escritório. Os números foram medidos somente entre 2002 e 2006. No primeiro ano, o IAP foi de 89 pontos e caiu para 68. O relatório da Cetesb, referente a 2011 d que analisa a qualidade da água para fins de abastecimento público, também registrou a situação em outros três locais na região. O rio Sorocamirim, em São Roque, apresentou qualidade regular, com IAP de 43 pontos. Já o rio Sorocabuçu, em Ibiúna, está em boas condições, com o IAP de 59 pontos. Ambos são afluentes (desaguam) do rio Sorocaba, que em Cerquilho registrou um IAP de 48 pontos.

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