Estratégia eleitoral e mobilização nas ruas são
temas debatidos dentro do partido por aliados do ex-presidente
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Ricardo Galhardo, O Estado de S.
Paulo
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Fevereiro 2018 | 20h23
Lula
foi condenado a 12 anos de prisão Foto: Leonardo Benassatto/Reuters
Enquanto torcem para
que o Supremo Tribunal Federal (STF) conceda um habeas corpus em favor de Luiz
Inácio Lula da Silva, petistas próximos ao ex-presidente discutem o que fazer
caso o líder máximo do partido vá para a prisão. Os petistas calculam que, se
consumada, a prisão de Lula deve ocorrer em março.
O debate ainda não
foi colocado formalmente para deliberação das instâncias partidárias, mas um
grupo restrito formado por dirigentes, parlamentares, ex-ministros e líderes de
movimentos sociais tem conversado sobre quais ações podem ser postas em prática
enquanto Lula estiver na prisão.
As discussões vão
desde a estratégia eleitoral em caso de impedimento de Lula até mobilizações de
rua, campanhas na internet e o comportamento do próprio ex-presidente na
cadeia. Segundo um petista próximo de Lula, o ex-presidente não vai reconhecer
“moralmente” a condenação a 12 anos e 1 mês de prisão imposta pelo Tribunal
Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), não deve ser um preso dócil e “vai dar
trabalho”.
Alguns petistas chegam
a falar em greve de fome, mas auxiliares mais próximos do ex-presidente
garantem que Lula nunca cogitou a ideia. Ele ficou seis dias sem comer quando
foi preso em 1980, durante a ditadura militar, por liderar uma paralisação de
41 dias dos metalúrgicos do ABC. Mas em 2005, quando era presidente, Lula
criticou essa forma de protesto quando o bispo Luiz Flávio Cappio fez uma greve
de fome contra a transposição do Rio São Francisco. “Greve de fome é judiar do
próprio corpo”, disse Lula, à época.
Algumas iniciativas
têm sido tomadas à revelia do ex-presidente. No dia 1.º de fevereiro a Frente
Brasil Popular (FBP), formada por cerca de 200 movimentos sociais ligados ao PT
e ao PCdoB, aprovou proposta do Movimento dos Sem Terra (MST) para a realização
de um acampamento na frente da casa do petista, em São Bernardo, a partir de
amanhã. O objetivo seria constranger a Polícia Federal ou até, no limite,
impedir o cumprimento de um eventual mandado de prisão. Lula não foi consultado
e integrantes da direção da Frente acham pouco provável que a proposta seja
colocada em prática.
Alguns dirigentes
petistas sugeriram a realização de uma vigília na frente da prisão em Curitiba
para onde o ex-presidente pode ser levado. Um grupo de parlamentares do partido
propõe organizar caravanas diárias para visitar Lula e, assim, propagar as
mensagens do petista para fora da cadeia e manter seu nome em evidência. Ainda
não há decisão se, em caso de prisão, ele vai se entregar ou esperar a chegada
da PF em casa. Os petistas acham difícil a manutenção de grandes mobilizações
populares.
Segundo auxiliares e
pessoas que estiveram com Lula nos últimos dias, ele está tranquilo e mantém o
bom humor. O ex-presidente encara a possibilidade de ser preso como um ato
político que tem como objetivo tentar tirá-lo da disputa presidencial. Ele tem
dito que em três anos de investigações, os responsáveis pela Lava Jato não
conseguiram desmoralizá-lo perante o eleitorado e seus aliados políticos.
Assessores de Lula
comparam a situação com a do senador Aécio Neves (PSDB-MG), flagrado em
conversa na qual pede dinheiro ao empresário Joesley Batista, da JBS, e
marginalizado por muitos de seus próprios companheiros de partido.
“Lula não é o Geddel
(Vieira Lima) nem o (deputado) João Rodrigues (PSD-SC, preso no dia 8 deste
mês)”, afirmou o deputado Carlos Zarattini (PT-SP). “Estamos vivendo uma
situação em que de um lado o prestígio de Lula e do PT aumentam sensivelmente e
do doutro a perseguição judicial não cessa”, completou.
Enquanto isso, os
petistas se mobilizam para tentar convencer o plenário do STF a aceitar o
habeas corpus de Lula. O ex-ministro do Supremo Sepúlveda Pertence, recém
incorporado à defesa do petista, tem circulado pelos gabinetes da Corte. O
périplo começou no mesmo dia (6 de fevereiro) em que sua inclusão foi anunciada,
quando houve a posse do ministro Luiz Fux na presidência do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE).
O ex-ministro da
Secretaria-Geral da Presidência Gilberto Carvalho, o advogado e ex-deputado
Sigmaringa Seixas, o deputado Vicente Cândido (PT-SP) e o ex-presidente da
Câmara João Paulo Cunha também foram escalados.
Otimismo. Depois da entrada de Pertence na equipe de defesa,
o clima de pessimismo foi substituído por um otimismo controlado. “Apesar de
todos sinais contrários, ainda tenho esperança de que vai se fazer justiça nas
Cortes superiores. Não aceito a normalização da prisão do Lula”, disse o
deputado Wadih Damous (PT-RJ).
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