Florianópolis acorda neste 9 de
setembro preparada para a segunda semana do Julgamento de Bolsonaro e de outros
sete réus: uma rede de outdoors está sendo desde hoje de manhã cedo afixada em
pontos estratégicos da cidade e arredores. Fazem parte da primeira fase da
campanha “Sem Anistia para golpistas e traidores da Pátria”, lançada por integrantes
do grupo Amigos da Viração e membros da União da Juventude Socialista que
uniram duas gerações de luta contra golpes para conclamar a defesa da
democracia e da soberania nacional.
O manifesto se inspira na
campanha lançada no mês de agosto em Goiânia, também por iniciativa dessa
corrente política que surgiu no movimento estudantil na década de 1980. Em
Florianópolis, a ação partiu igualmente de um grupo da saudosa Viração, com
cerca de 50 antigos militantes estudantis e simpatizantes, muitos dos quais
participaram da luta contra a ditadura. Eles se uniram aos jovens da UJS, que também
desejavam contribuir com o momento histórico que o Brasil está vivendo.
Através de suas redes sociais, o
grupo realizou uma vaquinha de acordo com as possibilidades de contribuição de
cada integrante. Com o dinheiro arrecadado, produziu de largada cinco outdoors
e 1000 adesivos, além de preparar materiais para divulgação da campanha nas
redes sociais. As mensagens defendem a punição dos golpistas acusados de
tentativa de golpe e ruptura violenta contra o Estado Democrático e de Direito.
Buscam conscientizar a população e também estimular outros movimentos sociais,
sindicatos, partidos, frentes políticas, parlamentares e figuras públicas a
promoverem iniciativas semelhantes, explica João Ghizoni, que foi coordenador
estadual da Viração na sua juventude e eleito a vereador por Florianópolis em
1989.
Os militantes entendem que é
preciso uma ação punitiva contundente para dar um basta ao ciclo de golpes
históricos que impedem o fortalecimento democrático e a independência econômica
do Brasil, jogando o país sempre para o retrocesso, para a pobreza e
infelicidade social. “Defendemos cadeia sem anistia para os golpistas e
traidores da pátria”, resume Ghizoni.
Na sequência das manifestações
ligadas à Semana da Pátria, os outdoors estão sendo instalados na Beira-mar, ao
lado do Terminal Trindade; outro na entrada do bairro Santa Mônica; outro na SC
401, próximo à Polícia Rodoviária; outro na Beira Mar Sul, próximo ao trevo da
Seta e outro ainda na BR 101, no município de Biguaçu.
Viração: ecos de uma luta histórica
Força jovem contra a ditadura
tardia, quando pessoas ligadas à resistência ainda eram perseguidas, presas,
mortas, desaparecidas, a corrente estudantil Viração emergiu a partir de 1980.
Durante pelo menos duas décadas, foi uma das mais atuantes dentro das
universidades brasileiras e escolas de ensino médio. Venceu inúmeras eleições
para a União Nacional dos Estudantes, União Brasileira dos Estudantes, União
Estadual dos Estudantes, Diretórios Centrais, Centros Acadêmicos e Grêmios por
todo o Brasil, conforme explica Nildomar Freire, que atuou na Viração em
Sergipe desde que era estudante secundarista e continuou cultuando a memória do
movimento ao vir para Florianópolis, onde ingressou como servidor na Justiça
Federal e se elegeu a vereador em 2000.
Essa corrente liderou
mobilizações por mais verbas para a educação, pela democratização do acesso
universitário e pela conquista do passe estudantil, que foi um marco na luta
por direitos sociais. “Atuou fortemente pelo fim da ditadura militar nas memoráveis
campanhas das Diretas Já (1984) e pela convocação da Assembleia Nacional
Constituinte”, lembra Nildão, como é conhecido.
Duas juventudes marcadas pela luta
contra o golpismo no Brasil
- A Campanha
Sem Anistia demonstra o comprometimento de duas forças jovens com a democracia:
uma muito atuante no passado, a Viração, que deu origem a outra força muito
atuante no presente e no futuro, a União da Juventude Socialista (UJS). Ao
dizer “sem anistia” dizemos que aqueles que atentam contra a democracia devem
ser punidos, pois quem atenta contra as instituições eleitas atenta contra o
Brasil. Isso é muito grave no momento quando forças reacionárias, inclusive
ligadas a movimentos fascistas, tentam minimizar a importância dos crimes
cometidos. Então esse posicionamento político da juventude é salutar porque
reconhece que a democracia é um valor fundamental. Ou seja: A juventude do
passado e do presente diz não à anistia e sim à democracia. Reconhece a importância
das eleições, das instituições democráticas e defende o Estado democrático e de
Direito. Viva a Juventude brasileira!
Lia Klein, nutricionista, professora da UFSC e vereadora por
Florianópolis em 1997-2000
- Existe um
coletivo vivo de memórias das lutas nacionais que as correntes estudantis
Viração e UJS viveram profundamente entre os anos 80-90 e que marcou história
contra a Ditadura Militar, pelas Diretas Já, o Fora Collor, em Defesa da
Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade. E hoje, quando o país volta a
ser atacado novamente na sua soberania e democracia, este mesmo coletivo
espalhado pelo Brasil se levanta com grande espírito vivo, atento e forte em
defesa do país. A Corrente Estudantil Viração SC, que marcou os anos 80 nas
lutas pelas Diretas Já, pela democracia e pela universidade pública, gratuita e
de qualidade, se junta hoje à UJS de Santa Catarina numa mesma trincheira.
Juntas, espalham pelas ruas em outdoors e adesivos uma mensagem direta: “Sem
anistia para golpistas! Em defesa da soberania nacional e da democracia!”.
Rosângela Folchini, bióloga, vice-presidente do DCE na gestão 1984-85,
instrutora de línguas em Massachusetts
- A Viração não apenas enfrentou
o autoritarismo, mas também semeou práticas de organização coletiva que
moldaram gerações de militantes e gestores públicos. E 45 anos depois, seu legado continua a
inspirar movimentos que defendem uma educação pública, gratuita e de qualidade
para todos, bem como a defesa da democracia, da soberania nacional e o avanço
nos direitos sociais do povo brasileiro.
Nildomar Freire,
servidor público federal da Justiça do Trabalho, vereador por Florianópolis em
2001-2004



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