Ao contrário de dado oficial, latrocínios cresceram na cidade




Sem contabilizar sete casos, governo divulgou que capital paulista teve uma queda de 12% de roubo seguido de morte

Em um dos casos, morte de vítima é relatada no boletim de ocorrência, mas aparece só como roubo em estatística


ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO

Ao contrário do que anunciou o governo de São Paulo no dia 15 deste mês, os latrocínios (roubos seguidos de morte) na capital paulista subiram ao menos 16%. A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) havia apontado queda de 12% desse tipo de crime.
O chefe da Polícia Civil, delegado Marcos Carneiro Lima, admitiu ontem existir uma falha a ser corrigida nos registros de boletins de ocorrência para evitar distorções.
Segundo a divulgação da Secretaria da Segurança Pública, a cidade de São Paulo teve 22 latrocínios no 1º trimestre deste ano contra 25 no 1º trimestre do ano passado.
Porém, ao menos sete latrocínios ocorridos neste ano ficaram de fora da contabilidade oficial. A maior parte foi registrada só como "roubo".
Com a inclusão dos casos não computados, os latrocínios subiram de 22 para 29 (30 vítimas, pois um caso teve dois mortos) só na capital.
A inclusão dos casos muda também a estatística no Estado. Agora, registra um aumento de 12%, e não de 2,5%, como divulgado.
O latrocínio contra o pizzaiolo José Arteiro Morais, 43, na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte, em 2 de março, é narrado com detalhes pelo delegado Thiago Reis no BO n.º 2.028/ 2011, do 72º DP.
"O autor do delito pediu dinheiro para a vítima e, após ela ter falado que não tinha, o autor ordenou que a vítima se ajoelhasse, momento este que desferiu-lhe um tiro no rosto, não levando nenhum pertence da vítima (sic)". Esse caso constava como "roubo" na estatística.
Ao consultar as estatísticas sobre latrocínios na área do 72º DP, na página da Segurança Pública na internet, o número divulgado é zero.
O mesmo ocorreu no caso do estudante de publicidade Nicholas Marins Prado, 20, morto com um tiro na cabeça por um ladrão que roubou seu carro na Vila Mariana, em 4 de março. A estatística oficial da delegacia da área, o 36º DP, onde o crime segue sem solução, aponta só um latrocínio no 1º trimestre deste ano, o de um homem atacado ao sair de um banco.
OUTROS CRIMES

SECRETARIA MUDA PARTE DOS NÚMEROS
O governo começou a corrigir parte das estatísticas divulgadas no dia 15. Em todas, houve pequeno aumento de casos. O número de roubo de veículos no Estado, por exemplo, passou de 18.440 para 18.610 no trimestre. Os latrocínios ainda não foram corrigidos.
OUTRO LADO

"Vamos corrigir essa falha", diz chefe da polícia

DE SÃO PAULO

O chefe da Polícia Civil de São Paulo, delegado Marcos Carneiro Lima, afirmou que irá criar uma normatização para evitar falhas no registro dos latrocínios no Estado.
"Existe uma falha, mas nós vamos corrigir. A partir de agora, vamos cobrar mais atenção dos delegados nos registros desse tipo de crime", disse o delegado-geral.
De acordo com Lima, as estatísticas oficiais sempre são aprimoradas ao longo das investigações de cada crime e, muitas vezes, um caso registrado inicialmente como tentativa de homicídio ou lesão corporal dolosa passa a ser tratado como homicídio.
"A alteração estatística é feita posteriormente", disse.
A Secretaria da Segurança Pública foi questionada sobre quantos casos de roubo registrados em 2010 foram alterados depois para latrocínio, mas não se manifestou.
A pasta também não respondeu quantas tentativas de homicídio e lesões corporais intencionais evoluíram para homicídio doloso.
O governo paulista mudou o sistema de divulgação de estatísticas neste ano. Além de detalhar os crimes por delegacias das cidades, a Secretaria da Segurança Pública promete divulgar dados mensais sobre a violência no Estado de São Paulo.

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