Promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial ao Crime
Organizado) e policiais da Delegacia Antissequestro, responsáveis por toda a
operação no CHS, passam o domingo estudando documentos
Fernanda Ikedo
Agência BOM DIA
Agência BOM DIA
Os responsáveis
pela Operação Hipócrátes que denunciaram o esquema de fraudes dentro do CHS
(Conjunto Hospitalar de Sorocaba) passaram o domingo analisando os depoimentos
colhidos dos acusados presos na quinta-feira passada.
O Gaeco (Grupo
de Atuação Especial ao Crime Organizado), e a Delegacia Antissequestro de
Sorocaba, responsáveis por toda a operação, perseguem resposta a várias
perguntas, algumas delas são: além do funcionário fantasma que recebia salário
que chegava a R$ 10 mil sem trabalhar, quem mais se beneficiava com esse
esquema? Como os chefes eram beneficiados? De que maneira quem rec ebia a mais
do que trabalhava repassava o dinheiro aos chefes do esquema?
Até o início da
noite deste domingo (19) não havia resposta a nenhuma dessas perguntas. “Não há
nada de novo a acrescentar” disse ao BOM DIA o promotor Wellington Veloso, do
Gaeco (Grupo de Atuação Especial ao Crime Organizado), que juntamente com o
delegado Wilson Negrão, titular da Delegacia Antissequestro de Sorocaba,
coordenou a operação inteira.
A estimativa
inicial apresentada pelas autoridades no dia da prisão dos acusados é de que o
prejuízo causado aos cofres públicos em licitações fraudulentas ou pagamento
irregular de hora extra a médico e dentista que nunca atenderam pacientes no
CHS é superior a cifra de R$ 2 milhões.
“Não posso
falar em valores e nem em prazo de conclusão do inquérito sem que tenhamos
concluído todo o estudo do material que colhemos”, enfatizou o promotor,
domingo.
Segundo o
promotor, “somente ao final de toda investigação é que poderemos dar o valor
exato do dano causado ao cofre público”. Por enquanto, “são muitos documentos
para analisar e não tenho como afirmar nada ainda, pois o momento é o de
analisar os processos licitatórios e os holerites dos funcionários”.
Fantasmas/ Uma das frentes de atuação da quadrilha dentro do CHS,
segundo a polícia e o MP, diz respeito ao pagamento de honorários por plantões
que jamais foram realizados. A investigação mostra que havia médicos,
enfermeiros, dentistas e outros profissionais que simplesmente recebiam sem ter
de trabalhar.
“Alguns
trabalhavam em um plantão e recebiam por vários. Outros pagamentos eram
efetuados em nome de funcionários fantasmas que tinham as assinaturas
falsificadas por integrantes do esquema”, afirma o promotor Wellington Veloso.
Alguns beneficiados recebiam mais de R$ 10 mil por mês por plantões
inexistentes.
O promotor
salienta um diálogo monitorado por escuta telefônica durante a investigação no
qual uma médica beneficiada pela fraude afirma a um dos coordenadores do
esquema que nem sequer sabia como chegar ao CHS.
O delegado
Wilson Negrão, que coordenou a operação, disse que para fins de despesa, os
médicos fantasmas tinham o peso de médicos que trabalham de forma correta. “A
folha de pagamento contemplava os falsos plantões, no entanto, a população
jamais tinha acesso a esses atendimentos.”
8 laudas/Ricardo José Salim (ex-diretor do CHS), que continua preso
provisoriamente ao menos até hoje, quando vence o prazo da prisão preventiva,
usou da garantia legal de não dar nenhuma declaração a polícia ou promotores em
relação a esse caso durante sua prisão preventiva.
O depoimento de
Heitor Consani, colhido na quinta-feira, durou seis horas e rendeu oito páginas
de texto. Heitor foi solto no sábado após decisão favorável do Tribunal de
Justiça ao pedido de habeas corpus (alvará de soltura) solicitado por seu
advogado Jaime Rodrigues de Almeida Neto.
Não é hora/ O BOM DIA procurou Heitor para que ele falasse sobre o caso,
mas não o encontrou. Em contato com seu advogado, Jaime explicou a reportagem,
via sua assessoria de imprensa, que qualquer manifestação será dada somente
após a evolução dos fatos.
Conforme o BOM
DIA apurou, o inquérito tem 35 volumes, material colhido pelo Gaeco (Grupo de
Atuação Especial ao Crime Organizado) e Delegacia Antissequestro de Sorocaba, e
foi com base nele que a justiça autorizou a prisão dos 13 acusados. Doze
indiciados foram presos e uma dentista (13ª acusada) segue foragida. Dos doze
presos, quatro foram soltos: Antônio Carlos Nasi (ex-diretor da Divisão
Regional de Saúde); a diretora do departamento de Recursos Humanos, Márcia
Regina Leite Ramos; Kleber Castilho (função não revelada); e o médico e diretor
exonerado do CHS devido a essa operação Heitor Consani (o único liberado por
determinação da justiça via habeas corpus dado sábado).
Continuam em
prisão temporária ao menos até o final do dia desta segunda (20): Ricardo
José Salim, Célia Chaib Arbage Romani, Tânia Aparecida Lopes, Tarley Eloy
Pessoa de Barros, Maria Helena Pires Alberici, Vera Regina Boendia Machado
Salim, Edson Brito Aleixo e Edson da Silva Leite.
Problemas seguem os
mesmos
Operação da polícia interrompe as fraudes, mas problemas de atendimento ainda são os mesmos
Operação da polícia interrompe as fraudes, mas problemas de atendimento ainda são os mesmos
O clima entre
os servidores do CHS (Conjunto Hospitalar de Sorocaba) continua sendo o de
insatisfação, mesmo com o andamento da Operação Hipócrates.
Para a auxiliar
de enfermagem Alzira Solange de Almeida, 46 anos, “paira no ar uma nítida
sensação de impunidade em torno dos envolvidos”.
Segundo ela,
que trabalha há 10 anos no CHS, “há anos servidores vem denunciando que faltam
funcionários para o número alto de pacientes”.
De acordo com
ela, o Coren (Conselho Regional de Enfermagem) além de fiscalizar se há
medicamentos vencidos, se há sujeira ou se o uniforme está sendo usado
corretamente pelos auxiliar de enfermagem, também deveria dar atenção à
fiscalização nessa área de pagamento de horas.
“Há um limite
de pacientes, que não são dependentes, que podemos atender, o estabelecido é de
seis para cada auxiliar, mas nós chegamos a atender 12 ou 13 ao mesmo tempo. No
caso dos entubados, o estabelecido são dois por profissional, mas sempre
cuidamos de no mínimo três”, denuncia.
Esse quadro de
descaso com a saúde pública é comum, segundo ela. “Na Clínica de Psiquiatria de
Salto de Pirapora onde trabalhei por quase três anos, à noite atendia uma ala
com cerca de 60 pacientes”, destaca. O resultado, claro, é um atendimento sem a
qualidade desejada pelo profissionais e pelo doentes.
Para a auxiliar
de enfermagem Alzira, uma das ferramentas que os usuários tem em mãos para
tentar melhorar os atendimentos, de forma geral, são os questionários que são
entregues nos quartos. “Os pacientes podem responder como está o atendimento
prestado, dar sugestões e fazer denúncias. Esses questionários vão para a
ouvidoria do hospital”, explica.
Temor/ Uma das preocupações da presidente da sub-sede do Sindicato
da Saúde do Estado de São Paulo, Maria do Amparo, é que o governo, diante dessa
crise, passe a gestão do Conjunto Hospitalar para as mãos de OS (Organizações
Sociais). “Seria um problema maior ainda, porque a verba é repassada, mas o
governo acaba não tendo o controle sobre o uso”, destaca.
Os crimes
Os envolvidos presos foram indiciados por formação de quadrilha, estelionato, fraude em licitações, falsificação de documentos e peculato (quando servidor público se apodera de dinheiro público).
Prisão temporária
Os envolvidos foram detidos mediante prisão temporária de cinco dias (que vence nesta segunda) e poderá ser renovada por mais cinco dias.
Os envolvidos foram detidos mediante prisão temporária de cinco dias (que vence nesta segunda) e poderá ser renovada por mais cinco dias.
Interventor
O secretário estadual de Saúde vai nomear nesta segunda (20) ou amanhã (terça-feira) o interventor na direção do Conjunto Hospitalar de Sorocaba. A informação foi dada sábado pelo governador do Estado, Geraldo Alckmin.
O secretário estadual de Saúde vai nomear nesta segunda (20) ou amanhã (terça-feira) o interventor na direção do Conjunto Hospitalar de Sorocaba. A informação foi dada sábado pelo governador do Estado, Geraldo Alckmin.
Secretário demitido
O governador Geraldo Alckmin aceitou neste domingo (19) o pedido de demissão do secretário estadual de Esporte, Lazer e Juventude, Jorge Roberto Pagura. Neurocirurgião de renome, ele é suspeito de receber dinheiro público da saúde sem trabalhar no Conjunto Hospitalar
O governador Geraldo Alckmin aceitou neste domingo (19) o pedido de demissão do secretário estadual de Esporte, Lazer e Juventude, Jorge Roberto Pagura. Neurocirurgião de renome, ele é suspeito de receber dinheiro público da saúde sem trabalhar no Conjunto Hospitalar
Improbidade
Tânia Aparecida Lopes, que permanece presa no alojamento do quartel do CPI-7 (Comando de Policiamento do Interior-7) é uma das envolvidas em ação de improbidade administrativa que está em andamento na Vara da Fazenda Pública da Comarca de Sorocaba. O valor da ação está registrada em R$ 56.8 mil e diz respeito a ilegalidades do processo licitatório para a contratação de empresa especializada em prestação de serviço de gestão de fluxo de matérias, gestão dos processos físicos, armazenagem, administração de estoque e movimentação
Tânia Aparecida Lopes, que permanece presa no alojamento do quartel do CPI-7 (Comando de Policiamento do Interior-7) é uma das envolvidas em ação de improbidade administrativa que está em andamento na Vara da Fazenda Pública da Comarca de Sorocaba. O valor da ação está registrada em R$ 56.8 mil e diz respeito a ilegalidades do processo licitatório para a contratação de empresa especializada em prestação de serviço de gestão de fluxo de matérias, gestão dos processos físicos, armazenagem, administração de estoque e movimentação
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