20/06/2011

Ex-integrante aponta irregularidade na Corregedoria



Folha de S.Paulo
A Corregedoria da Polícia Civil dá tratamento diferenciado ao investigar delegados que chegaram ao topo da carreira. Mais: há pressão para não responsabilizar policiais por crimes em inquéritos que podem se converter em processos na Justiça.
Feitas à cúpula da corporação e da Secretaria de Estado da Segurança Pública, as acusações são do delegado Mário Rui Aidar Franco, que, até abril, integrava a Corregedoria e, hoje, é plantonista em Santana de Parnaíba (Grande SP).
Há uma orientação, segundo Franco, para que delegados da classe especial, a elite da Polícia Civil, só sejam investigados por iguais.
O problema é que a divisão que apura os crimes de policiais civis não tem delegado de classe especial. Estão nessa categoria 114 dos 3.300 delegados do Estado.
Quem transmitiu a orientação foi José Ferreira Boucinha Neto, um dos chefes do órgão, durante reunião em março que foi gravada e cujo áudio a reportagem
teve acesso.
Boucinha Neto é acusado por Franco de ter dito que o atual diretor da Corregedoria, o ex-capitão da PM e hoje delegado Délio Montresor, "não deveria estar sentado na cadeira de diretor do órgão e, sim, no vaso sanitário".
Boucinha Neto nega ter dito a frase e haver ingerência na Corregedoria. "Sempre fui um dos delegados mais atuantes e, nos últimos anos, investiguei vários delegados de classe especial considerados poderosos", disse.
Outra acusação põe sob suspeita a isenção da Corregedoria. O órgão, segundo Franco, se esforça para não apontar culpados nos inquéritos enviados à Promotoria.
Segundo Franco, um dos casos em que houve ingerência envolve o delegado Waldomiro Milanesi, atualmente chefe da Divisão de Capturas da Polícia Civil e que já trabalhou no gabinete do secretário de Estado da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto.
Recompensa
Franco investigava dois policiais do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado) que haviam recebido R$ 50 mil cada um por ajudar a elucidar uma tentativa de sequestro da mulher de um empresário na capital.
O dinheiro havia sido supostamente dado pela família como um prêmio pela solução do caso. No entanto, havia a suspeita de que, na verdade, os dois policiais estivessem envolvidos no crime.
O ex-integrante da Corregedoria diz ter sido obrigado a ouvir Milanesi quando a investigação ainda estava em uma fase em que isso ia beneficiar os policiais suspeitos. Milanesi negou interferência no caso, que segue em investigação.

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