do jornal da estância
No final dos anos 70 e início dos anos oitenta a
vitivinicultura em São Roque
vinha sofrendo um processo de decadência acentuado, com o fechamento de várias
adegas, o abandono do cultivo da uva, e outros fatores advindos da própria
crise econômica que o País atravessava.
Também contribuíram neste processo o exodo rural, a especulação imobiliária,
a própria sucessão familiar na administração dos negócios do vinho e o fim da
“Festa do Vinho”. Neste processo aparece
o Sindusvinho, entidade fundada em 1936, e a partir dos anos 90 começa a revitalização
dos produtores de nossa cidade, fazendo com que o vinho voltasse a ter uma
importância muito grande em nossa economia.
E com a elevação da cidade ao status de “Estância Turística” hoje esse
segmento econômico é um dos principais pólos de nosso turismo. Fomos
entrevistar Claudio Góes, presidente do Sindusvinho e da Câmara Setorial do
Vinho no Estado de São Paulo, um dos responsáveis por essa revitalização.
JE – Como funciona o trabalho do Sindusvinho a nível de São
Roque?
Claudio Góes – O Sindusvinho de São Roque tem como objetivo
principal, o trabalho junto às vinícolas e a toda a cadeia produtiva. Desde o cultivo, a produção, comercialização
e a divulgação.
JE – Quantos vinhateiros estão sindicalizados ao Sindusvinho?
Claudio Góes – Hoje nós somos em 15 vinícolas que são
filiadas ao sindicato. É um número muito
pequeno perto das mais 150 que existiam há 30 ou 40 anos atrás. Mas é
importante esse número de filiados, pois nós estamos trabalhando forte nessa revitalização.
JE – Qual foi o papel do sindicato nesse processo de
revitalização?
Claudio Góes – O Sindusvinho é uma entidade criada em 1936,
até pelo próprio crescimento do setor em São Roque , em 1941 foi reconhecido pelo
Ministério do Trabalho como representante da indústria do vinho no Estado de
São Paulo. Esse sindicato tem uma história,
e por isso nós o levamos com muito orgulho e muita honra. E através dele
estamos fazendo esse trabalho sim. O
setor que no final dos anos 70 e início dos anos oitenta sofreu uma grande
queda, isso iniciou-se principalmente nos parreirais, onde a maioria das áreas
cultivadas foram postas de lado por força da especulação imobiliária, êxodo
rural, mão de obra foi para a indústria e com todos os problemas que uma cidade
próxima a São Paulo sente. São Roque não
foi diferente. Parreirais com uvas de
origem americana, próprias para a produção de vinhos comum e consequentemente o
valor agregado muito baixo, foi outro fator que não trazia o resultado esperado
pelo produtor. O vinho também sofreu
pouca oferta da matéria prima, e aí sim algumas empresas começaram a adquirir o
produto a granel do Rio Grande do Sul, comprando uvas de algumas regiões aqui
de São Paulo e outros estados, porém o setor começou a se enfraquecer devido a
essa configuração na cadeia produtiva.
Então percebemos que teria que haver uma maneira, um trabalho, pois
restou com bastante força a imagem do vinho de São Roque, de um produto típico
reconhecido não só no estado, mas também no Brasil, muita gente vinha de outros
estados para as festas do vinho, que foi extinta em 1986, devido à falta de
estrutura em sua organização geral e na própria estrutura da cidade para
atender a demanda de público, então nós percebemos que havia esta semente viva
e a possibilidade de ser recuperada.
Quando iniciamos o processo de gestão da nossa vinícola, no bairro de
Canguera, no início dos anos 90, nós percebemos que haveria um trabalho a ser
feito. Um trabalho de médio e até de
longo prazo. Iniciamos um trabalho de
interesse privado no início, onde a gente começou um processo de crescimento da
empresa e percebemos que havia a necessidade de um atendimento a demanda. O público estava esperando um produto de
qualidade. O Brasil com o crescimento do
consumo do vinho exigiu isso do vinhateiro.
E nós iniciamos esse trabalho.
Logo depois, ao assumirmos o Sindusvinho nós percebemos que o trabalho
deveria ser feito por todas as empresas ligadas ao vinho. Começamos a incentivar, a motivar, a
valorizar o produto. O modelo de gestão estava um pouco ultrapassado aqui em São Roque.
Era um modelo calcado na recepção dos clientes que vinham
para adquirir os produtos. Empresas de
pequena produção estavam aguardando a vinda do público consumidor. Como este público não estava vindo mais pela
suspensão da festa do vinho e também pela falta de competitividade em nível de
atacado, o setor se ressentiu desta situação.
E aí nós iniciamos um trabalho de marketing, a promoção do produto e a
atração do turismo. Vimos em várias
regiões do mundo onde eu estive o trabalho do enoturismo sendo levado muito a
sério. O enoturismo é uma grande
ferramenta que atua no sentido de fidelizar uma marca, uma região. Como setor vinícola no Brasil tem pouca
receita para a área de publicidade no geral, achamos por bem que o enoturismo
seria uma grande ferramenta, e ela foi utilizada com bastante inteligência e
estratégia. Reiniciamos o trabalho com a
renovação da Expo, a antiga festa do vinho, e também Expo Floral, que se
transformou em Expo São Roque ,
pois o intuito não era só expor o vinho de São Roque e sim divulgar os outros
atrativos do turismo em nossa cidade, como os hotéis, gastronomia, as pequenas
empresas de produtos alternativos, como licores, doces, temperos, conservas e
principalmente a alcachofra entrou nesse contexto com bastante força. Em 2005 reorganizamos a Expo São Roque de
uma forma bem profissional, para que não se tenha nenhuma reconversão àquela
situação que ocorreu nos anos 80, é nesse
contexto que a gente vem trabalhando no desenvolvimento do enoturismo em São Roque.
JE – Então a Expo São Roque exerceu um papel importante, não
só na revitalização do vinho, mas também nos outros segmentos do turismo.
Claudio Góes – Nós temos plena convicção de que nos últimos
6 anos de festa o nosso trabalho é no sentido da revitalização do turismo da
cidade. Claro que ainda o carro chefe é
o vinho, mas temos alcachofra, o Ski que é um atrativo que divulga a cidade
para o Brasil inteiro, e também as pequenas iniciativas dos produtores, seja
rural, artesanal, artista plástico enfim.
Muita gente hoje está recompondo seus negócios visando o turismo e este
ligado fortemente ao vinho, que é o diferencial. Poucas cidades do estado de São Paulo podem
trabalhar o enoturismo e isso gera toda a publicidade espontânea feita pelas
TVs, rádios, jornais e revistas. Esses
veículos são atraídos pelo bom trabalho que vem sendo executado.
JE – Quais os principais projetos do Sindusvinho para nossa
indústria vitivinícola?
Claudio Góes – O projeto do Sindusvinho não é só organizar a
Expo, ele é estratégico só que com próprio produto vinho que é um produto
milenar ele exige esse tempo. Eu sou de
um setor que eu iniciei junto com a minha família, recém saído da faculdade de
Administração, então posso dizer que esse tempo todo foi um trabalho de
reconstrução.
A Expo São Roque é um exemplo do que é possível fazer, no
sentido do marketing a duração da festa é de um mês, mas ela é organizada com o
sentido de mostrar o que a cidade pode fazer em 12 meses. Tanto que os nossos resultados financeiros
não tem sido grande, mas em contra partida o reconhecimento pela organização de
todos os setores da cadeia do turismo é reconhecido pela nossa competência e
seriedade. Junto a isso nós temos o
trabalho da requalificação das uvas de São Roque. Uma região que sofreu bastante pela falta de
avanços tecnológicos na agricultura no final dos anos 70, início dos 80, não
houve investimento em novas variedades e também na qualidade das vinícolas,
principalmente na formação de profissionais em enologia. Campo ,
uva nós temos as dificuldades da temperatura, do clima que mudou bastante e
principalmente com muita chuva no verão, não propiciando grande qualidade nas
uvas tradicionais plantadas aqui, por isso o trabalho de campo. Para isso tivemos que pedir apoio para a
Secretaria de Agricultura do estado e por ali resolvemos conversar com toda
cadeia produtiva do estado. Hoje estamos
trabalhando não só na revitalização da uva em São Roque , mas em todo o
estado. Hoje sentamos junto com várias cidades
para encontrarmos a região que tenha melhor condição para produção dessas
uvas. Temos feito pesquisas com uvas
européias finas, e com uvas hibridas aqui em nossa cidade. Temos o exemplo da uva chamada Lorena, que é
uma uva branca para originar um vinho e espumante de excelente qualidade já
produzido aqui em São Roque. Então esse é um exemplo de
trabalho técnico da viticultura. No
campo que é dentro da vinícola estamos para iniciar Instituto Federal o
primeiro curso de enologia no estado de São Paulo. Só tem dois cursos profissionais a nível
nacional, um em Bento
Gonçalves e outro em Petrolina. A
demanda por esse curso será muito grande, atraindo alunos de outras cidades e
estados. A intenção é formar
profissionais que trabalhem com bastante qualidade. O Sindusvinho está contribuindo na grade
curricular desse curso, aonde temos apresentado a demanda do setor. Outro dado importante é que São Paulo consome
45% do vinho comercializado no País, então porque não formar profissionais de
venda, por isso nossa contribuição na grade curricular. Estive num congresso latino americano de
enoturismo, onde o case da nossa vinícola foi citado como um dos maiores
receptores de público da América Latina, isto é o resultado de um trabalho de
muitos anos.
JE – Claudio, quais as novidades da Expo São Roque 2011?
Claudio – O trabalho e o conforto do turista. Este ano a festa trará o tema da colônia
portuguesa., que muito influenciou a vinicultura em nossa cidade. Vamos promover algumas reformas no espaço com
o intuito de acomodar melhor tanto o visitante como o expositor. Uma grande novidade será a replica da Casa do
Barão.
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