29/06/2011

O papel do Sindusvinho na recuperação da indústria vinícola de São Roque




do jornal da estância
  
No final dos anos 70 e início dos anos oitenta a vitivinicultura em São Roque vinha sofrendo um processo de decadência acentuado, com o fechamento de várias adegas, o abandono do cultivo da uva, e outros fatores advindos da própria crise econômica que o País atravessava.  Também contribuíram neste processo o exodo rural, a especulação imobiliária, a própria sucessão familiar na administração dos negócios do vinho e o fim da “Festa do Vinho”.  Neste processo aparece o Sindusvinho, entidade fundada em 1936, e a partir dos anos 90 começa a revitalização dos produtores de nossa cidade, fazendo com que o vinho voltasse a ter uma importância muito grande em nossa economia.  E com a elevação da cidade ao status de “Estância Turística” hoje esse segmento econômico é um dos principais pólos de nosso turismo. Fomos entrevistar Claudio Góes, presidente do Sindusvinho e da Câmara Setorial do Vinho no Estado de São Paulo, um dos responsáveis por essa revitalização.

JE – Como funciona o trabalho do Sindusvinho a nível de São Roque?

Claudio Góes – O Sindusvinho de São Roque tem como objetivo principal, o trabalho junto às vinícolas e a toda a cadeia produtiva.  Desde o cultivo, a produção, comercialização e a divulgação.

JE – Quantos vinhateiros estão sindicalizados ao Sindusvinho?

Claudio Góes – Hoje nós somos em 15 vinícolas que são filiadas ao sindicato.  É um número muito pequeno perto das mais 150 que existiam há 30 ou 40 anos atrás. Mas é importante esse número de filiados, pois nós estamos trabalhando forte nessa revitalização.

JE – Qual foi o papel do sindicato nesse processo de revitalização?

Claudio Góes – O Sindusvinho é uma entidade criada em 1936, até pelo próprio crescimento do setor em São Roque, em 1941 foi reconhecido pelo Ministério do Trabalho como representante da indústria do vinho no Estado de São Paulo.  Esse sindicato tem uma história, e por isso nós o levamos com muito orgulho e muita honra. E através dele estamos fazendo esse trabalho sim.  O setor que no final dos anos 70 e início dos anos oitenta sofreu uma grande queda, isso iniciou-se principalmente nos parreirais, onde a maioria das áreas cultivadas foram postas de lado por força da especulação imobiliária, êxodo rural, mão de obra foi para a indústria e com todos os problemas que uma cidade próxima a São Paulo sente.  São Roque não foi diferente.  Parreirais com uvas de origem americana, próprias para a produção de vinhos comum e consequentemente o valor agregado muito baixo, foi outro fator que não trazia o resultado esperado pelo produtor.  O vinho também sofreu pouca oferta da matéria prima, e aí sim algumas empresas começaram a adquirir o produto a granel do Rio Grande do Sul, comprando uvas de algumas regiões aqui de São Paulo e outros estados, porém o setor começou a se enfraquecer devido a essa configuração na cadeia produtiva.  Então percebemos que teria que haver uma maneira, um trabalho, pois restou com bastante força a imagem do vinho de São Roque, de um produto típico reconhecido não só no estado, mas também no Brasil, muita gente vinha de outros estados para as festas do vinho, que foi extinta em 1986, devido à falta de estrutura em sua organização geral e na própria estrutura da cidade para atender a demanda de público, então nós percebemos que havia esta semente viva e a possibilidade de ser recuperada.  Quando iniciamos o processo de gestão da nossa vinícola, no bairro de Canguera, no início dos anos 90, nós percebemos que haveria um trabalho a ser feito.  Um trabalho de médio e até de longo prazo.  Iniciamos um trabalho de interesse privado no início, onde a gente começou um processo de crescimento da empresa e percebemos que havia a necessidade de um atendimento a demanda.  O público estava esperando um produto de qualidade.  O Brasil com o crescimento do consumo do vinho exigiu isso do vinhateiro.  E nós iniciamos esse trabalho.  Logo depois, ao assumirmos o Sindusvinho nós percebemos que o trabalho deveria ser feito por todas as empresas ligadas ao vinho.  Começamos a incentivar, a motivar, a valorizar o produto. O modelo de gestão estava um pouco ultrapassado aqui em São Roque. 
Era um modelo calcado na recepção dos clientes que vinham para adquirir os produtos.  Empresas de pequena produção estavam aguardando a vinda do público consumidor.  Como este público não estava vindo mais pela suspensão da festa do vinho e também pela falta de competitividade em nível de atacado, o setor se ressentiu desta situação.  E aí nós iniciamos um trabalho de marketing, a promoção do produto e a atração do turismo.  Vimos em várias regiões do mundo onde eu estive o trabalho do enoturismo sendo levado muito a sério.  O enoturismo é uma grande ferramenta que atua no sentido de fidelizar uma marca, uma região.  Como setor vinícola no Brasil tem pouca receita para a área de publicidade no geral, achamos por bem que o enoturismo seria uma grande ferramenta, e ela foi utilizada com bastante inteligência e estratégia.  Reiniciamos o trabalho com a renovação da Expo, a antiga festa do vinho, e também Expo Floral, que se transformou em Expo São Roque, pois o intuito não era só expor o vinho de São Roque e sim divulgar os outros atrativos do turismo em nossa cidade, como os hotéis, gastronomia, as pequenas empresas de produtos alternativos, como licores, doces, temperos, conservas e principalmente a alcachofra entrou nesse contexto com bastante força.   Em 2005 reorganizamos a Expo São Roque de uma forma bem profissional, para que não se tenha nenhuma reconversão àquela situação que ocorreu  nos anos 80, é nesse contexto que a gente vem trabalhando no desenvolvimento do enoturismo em São Roque.

JE – Então a Expo São Roque exerceu um papel importante, não só na revitalização do vinho, mas também nos outros segmentos do turismo.

Claudio Góes – Nós temos plena convicção de que nos últimos 6 anos de festa o nosso trabalho é no sentido da revitalização do turismo da cidade.  Claro que ainda o carro chefe é o vinho, mas temos alcachofra, o Ski que é um atrativo que divulga a cidade para o Brasil inteiro, e também as pequenas iniciativas dos produtores, seja rural, artesanal, artista plástico enfim.  Muita gente hoje está recompondo seus negócios visando o turismo e este ligado fortemente ao vinho, que é o diferencial.  Poucas cidades do estado de São Paulo podem trabalhar o enoturismo e isso gera toda a publicidade espontânea feita pelas TVs, rádios, jornais e revistas.  Esses veículos são atraídos pelo bom trabalho que vem sendo executado.

JE – Quais os principais projetos do Sindusvinho para nossa indústria vitivinícola?

Claudio Góes – O projeto do Sindusvinho não é só organizar a Expo, ele é estratégico só que com próprio produto vinho que é um produto milenar ele exige esse tempo.  Eu sou de um setor que eu iniciei junto com a minha família, recém saído da faculdade de Administração, então posso dizer que esse tempo todo foi um trabalho de reconstrução.
A Expo São Roque é um exemplo do que é possível fazer, no sentido do marketing a duração da festa é de um mês, mas ela é organizada com o sentido de mostrar o que a cidade pode fazer em 12 meses.  Tanto que os nossos resultados financeiros não tem sido grande, mas em contra partida o reconhecimento pela organização de todos os setores da cadeia do turismo é reconhecido pela nossa competência e seriedade.  Junto a isso nós temos o trabalho da requalificação das uvas de São Roque.  Uma região que sofreu bastante pela falta de avanços tecnológicos na agricultura no final dos anos 70, início dos 80, não houve investimento em novas variedades e também na qualidade das vinícolas, principalmente na formação de profissionais em enologia. Campo, uva nós temos as dificuldades da temperatura, do clima que mudou bastante e principalmente com muita chuva no verão, não propiciando grande qualidade nas uvas tradicionais plantadas aqui, por isso o trabalho de campo.  Para isso tivemos que pedir apoio para a Secretaria de Agricultura do estado e por ali resolvemos conversar com toda cadeia produtiva do estado.  Hoje estamos trabalhando não só na revitalização da uva em São Roque, mas em todo o estado.  Hoje sentamos junto com várias cidades para encontrarmos a região que tenha melhor condição para produção dessas uvas.  Temos feito pesquisas com uvas européias finas, e com uvas hibridas aqui em nossa cidade.  Temos o exemplo da uva chamada Lorena, que é uma uva branca para originar um vinho e espumante de excelente qualidade já produzido aqui em São Roque.  Então esse é um exemplo de trabalho técnico da viticultura.  No campo que é dentro da vinícola estamos para iniciar Instituto Federal o primeiro curso de enologia no estado de São Paulo.  Só tem dois cursos profissionais a nível nacional, um em Bento Gonçalves e outro em Petrolina.  A demanda por esse curso será muito grande, atraindo alunos de outras cidades e estados.  A intenção é formar profissionais que trabalhem com bastante qualidade.  O Sindusvinho está contribuindo na grade curricular desse curso, aonde temos apresentado a demanda do setor.  Outro dado importante é que São Paulo consome 45% do vinho comercializado no País, então porque não formar profissionais de venda, por isso nossa contribuição na grade curricular.  Estive num congresso latino americano de enoturismo, onde o case da nossa vinícola foi citado como um dos maiores receptores de público da América Latina, isto é o resultado de um trabalho de muitos anos. 

JE – Claudio, quais as novidades da Expo São Roque 2011?

Claudio – O trabalho e o conforto do turista.  Este ano a festa trará o tema da colônia portuguesa., que muito influenciou a vinicultura em nossa cidade.  Vamos promover algumas reformas no espaço com o intuito de acomodar melhor tanto o visitante como o expositor.  Uma grande novidade será a replica da Casa do Barão.




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