05/07/2011

E o direito de ir e vir: Moradores controlam estacionamento em rua do Campolim




André Moraes
andre.moraes@jcruzeiro.com.br 

O Parque Campolim abriga diversos estabelecimentos comerciais, fazendo com que o movimento de pessoas e veículos no local se torne bastante intenso. Com a proibição de estacionar na principal avenida do bairro -- a Antônio Carlos Comitre --, os clientes do comércio daquela região se viram obrigados a procurar vagas nas ruas residenciais mais próximas, que são todas sem saída. Ao tentar estacionar seu carro na rua Valdir Gentil, próxima à pista de caminhada, a professora Mary Dantas Agostinelli, 62 anos, se viu impedida de fazer isso, já que os moradores resolveram fechar a rua. Os habitantes da rua se dizem incomodados com essa prática dos motoristas e defendem que a ação deles é fundamentada pela lei municipal n.º 6.144, e até disponibilizaram uma cópia da legislação na entrada da via. Segundo a Urbes - Trânsito e Transportes, os moradores de ruas sem saída de toda a cidade podem adotar essa medida, caso atendam a todas as normas da referida lei. 

A professora, que mora no Jardim América, conta que sempre precisa ir até o bairro, pois utiliza os consultórios médicos e estabelecimentos comerciais do trecho. "Já é um caos o trânsito do Campolim, imagine com eles fazendo isso", indaga Mary. Ela disse que um morador fica na entrada da rua Valdir Gentil impedindo a entrada de "estranhos", auxiliado por uma corrente. "Como pode me expulsar de uma rua? Eu não sou marginal, só queria estacionar meu carro", desabafa. 

Os moradores da rua Valdir Gentil alegam estar certos nessa prática e que a decisão foi tomada depois de se sentirem incomodados em ter suas garagens bloqueadas por carros de não moradores. "Nós queremos coibir abusos, que estava se generalizando", diz a advogada Célia Regina Bellia Monteiro, de 53 anos, que mora naquela via. De acordo com ela, a lei serviu para que eles exercessem um direito que possuem, já que o primeiro artigo da lei municipal 6.144, sancionada em 2 de maio de 2000 pelo então prefeito Renato Amary, mostra que "fica autorizado o fechamento ao tráfego de veículos estranhos aos moradores das vilas e rua sem saída residenciais, ficando limitado o tráfego local de veículos apenas por seus moradores e/ou visitantes." Segundo o texto da legislação, esse fechamento pode ser feito por cancela, portão, correntes ou similares, caso 70% dos moradores da rua concordem com a medida. 

O casal Levy Martins, 56, aposentado, e Nalu Balera, 52, designer, alegam que os problemas com carros estacionados na via são muitos, o que faz com que os moradores se sintam constrangidos. "Quando havia um bar aqui perto, não conseguíamos dormir. Muitos jovens ficavam sentados na calçada bebendo, urinavam em nossos muros. Uma vizinha aqui já mandou guinchar dois carros da frente da garagem dela", relata o aposentado. 
O aposentado Carlos Luís Canneva, 71, foi mais radical na hora de aplicar a lei e permanecia parado na entrada da rua, orientando os motoristas a não pararem naquela via, já que seria proibida essa prática. "O problema é simples de se resolver, pois existe uma lei", afirma. Ele mora há 25 anos no Campolim, quando o bairro costumava ser mais "sossegado", e diz que o local virou um caos. "Quando vim para cá não tinha nem ônibus e agora virou esse furor", reclama. 

Urbes concorda 
Segundo a Urbes, a prática de fechamento de ruas sem saída pode ser realizada, quando os requisitos da lei 6.144 são atendidos, como aconteceu na rua Valdir Gentil, em que mais de 70% dos moradores acataram à decisão. A professora Mary chegou a sugerir a abertura das ruas sem saída, dando acesso a avenida Antônio Carlos Comitre, como forma de desafogar o trânsito no Campolim. A autarquia alega que isso poderia causar ainda mais lentidão no local, já que seria obrigada a semaforizar todos os cruzamentos existentes, e ainda ressalta que a atual configuração das vias é a mais adequada para a demanda existente.

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