FELIPE BRANCO CRUZ
Este ano, a cidade de São Paulo completou 457 anos de fundação. Para o fotógrafo Fausto Chermont, no entanto, a história da capital paulista é recente. “No Rio de Janeiro, até as calçadas são históricas. São Paulo já demoliu e reconstruiu tudo várias vezes. Aqui, o novo convive com o velho”, diz ele.
Com o objetivo de retratar pontos históricos da cidade, Chermont reuniu 70 fotos no livro São Paulo Século XXI. “Dei esse título porque é como se olhássemos pela primeira vez para nossa história. O tamanho e a importância de São Paulo não são proporcionais à história que é retratada em nossos edifícios”.
O lançamento do catálogo será hoje, das 11h às 15h, na Caixa Cultural São Paulo (Praça Da Sé, 111. % 3321-4400).
Para o autor, a cidade não dispõe de marcos que a caracterizem. “Não temos uma representação iconográfica da capital”, declara.
Para o autor, a cidade não dispõe de marcos que a caracterizem. “Não temos uma representação iconográfica da capital”, declara.
Antes que tudo seja demolido e reconstruído novamente, o fotógrafo de 50 anos usou seu olhar particular para registrar, em belíssimas imagens, pontos óbvios, porém marcantes, como a Praça da Sé, o Vale do Anhangabaú, o Pátio do Colégio, o Parque da Luz, os edifícios criados por Oscar Niemeyer. “Talvez, com esse olhar, passemos a preservar mais a nossa história”.
O livro é um projeto que começou há oito anos, mas somente agora conseguiu ser publicado. A obra reúne uma série de ensaios. Um dos mais interessantes são as imagens que o fotógrafo captou com lentes conhecidas como “olho de peixe”, que mostram a imagem com uma visão mais aberta (como na foto principal desta reportagem, que mostra o edifício Copan ao centro).
“De nenhum ponto ao nível da rua se tem a percepção integral do conceito do prédio”, diz ele. No livro, cada imagem é seguida por um texto de Chermont, que revela os bastidores e o contexto no qual a imagem foi captada.
Trabalho libertador
Duas outras fotos também foram feitas com a olho de peixe, que dá esse efeito arredondado. A primeira mostra o teto da Sé. Da forma como a foto foi realizada, é como se estivéssemos olhando do chão da igreja. A outra exibe o teto do Mosteiro de São Bento, que, pelo olhar de Chermont, ganhou ares de catedral europeia.
Nas últimas páginas, há um ensaio com fotografias modificadas digitalmente. Para Chermont, publicar essas fotografias modificadas foi libertador. “Eu não sei desenhar. E isso é quase uma culpa para mim. Conseguir fazer esse trabalho estético foi libertador”, diz.
O fotógrafo foi alertado por alguns colegas de que mesclar fotografias com imagens manipuladas poderia prejudicar o livro. Mas ele discorda. “São experimentações. Foi uma mistura de arquivos digitais com fotos analógicas que eu escaneava, depois imprimia, pintava no papel, manipulava e escaneava novamente”, explica.
Independentemente dessa sessão mais artística do livro, a obra mostra um olhar bem particular que o autor tem da capital. Numa cidade forrada de concreto, Fausto Chermont conseguiu enxergar beleza e poesia. É como na frase do carioca Joaquim Paiva, que fecha o livro: “Como é amoroso o olhar do artista. Transforma em belo o que ele gosta”.
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