Supersafra criou movimento em cadeia no
Centro-Oeste e fez a população ocupada aumentar em 17 mil entre o 1.º trimestre
de 2015 e o 2.º trimestre deste ano; no Nordeste, crise da indústria fez esse
número cair 1,9 milhão no período
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Douglas Gavras, enviado especial, O
Estado de S.Paulo
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Setembro 2017 | 05h00
CABO DE SANTO AGOSTINHO
(PE) - Apesar de o emprego dar os primeiros sinais de reação, o mercado de
trabalho não se recupera da mesma forma em todo o País. Enquanto na região
Centro-Oeste o total de pessoas em atividade já recuperou os níveis
pré-crise, no Nordeste, essa trajetória vai na contramão: a queda da população
ocupada só se aprofundou entre o primeiro trimestre de 2015 e os três meses
encerrados em junho deste ano.
Fila em agência de trabalho em Cabo de Santo
Agostinho (PE), uma das cidades que mais fecharam vagas no Nordeste Foto:
Nilton Fukuda/Estadão
Nesse período, o
número de pessoas com trabalho no Brasil caiu 2,4 milhões, segundo cálculos da
consultoria A.C. Pastore e Associados, a partir da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Pnad-Contínua).
No Sudeste, a queda
na indústria e na construção civil ainda impedem uma recuperação mais robusta
no número de brasileiros ocupados. Sem depender demais de um setor específico,
a região Sul, por sua vez, é a que já está mais próxima da retomada. Já o
mercado de trabalho da região Norte, apesar de ter registrado queda no número
de ocupados na indústria e também ser dependente de investimentos, tem números
melhores que os dos Nordeste – uma queda amortecida, em partes, por resultados
positivos na indústria extrativa.
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A região que mais
chama a atenção positivamente, no entanto, é o Centro-Oeste. A população
ocupada no segundo trimestre superou em 17,1 mil a do primeiro trimestre de
2015, quando o País começou a ter redução no número de ocupados. A supersafra
gerou um movimento em cadeia na região, que aumentou as contratações não só na
agropecuária, mas também no setor de serviços. Lá, esse foi o segmento que
puxou o número de ocupados para cima nos últimos três meses, com 149 mil a mais
trabalhando desde 2015. Mato Grosso está atraindo mão de obra até de outros
Estados.
“A agropecuária, mais
dinâmica no Centro-Oeste, teve um desempenho tão positivo que ajudou a
recuperar o Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro semestre e acabou gerando
renda e afetando a região como um todo”, analisa o professor da FEA/USP Hélio
Zylberstajn.
Ao mesmo tempo, o
Nordeste ainda amarga a maior perda de pessoas ocupadas e é a única região sem
ter dois trimestres seguidos de queda no desemprego. Entre 2015 e junho, a
queda da população ocupada nos Estados nordestinos foi de 1,9 milhão – reflexo
da crise da indústria e da escassez de investimentos.
Retrato da crise. O município de Cabo de Santo Agostinho é um retrato
da situação precária do emprego na região: está entre as cidades do Nordeste
que mais perderam postos de trabalho entre janeiro e agosto deste ano. Foram
2.449 postos a menos nesse período. A cidade divide com a vizinha Ipojuca a
sede do conjunto que reúne porto, empresas, estaleiros e a refinaria de Abreu e
Lima.
O município, que
atraía mão de obra de outros Estados, hoje sofre com a falta de previsão para a
construção da segunda fase de Abreu e Lima, com investimento estimado em mais
de R$ 3 bilhões, e com o fim dos contratos para a construção de navios. Em
frente à antiga prefeitura, onde os recém-chegados logo conseguiam trabalho, os
moradores agora disputam uma vaga temporária – a maioria volta para casa sem
nada.
“No Nordeste, levou
mais tempo para que a crise econômica se refletisse no emprego. Enquanto o
emprego no Sudeste e no Sul já começava a desacelerar no fim de 2014, no
Nordeste, crescia. A demora para reagir agora faz parte do ciclo econômico”,
diz Fernando Holanda Barbosa Filho, do Ibre/FGV.
Segundo ele, parte do
cenário se explica pela queda dos investimentos públicos e da transferência de
renda. “A base eleitoral da chapa vencedora em 2014 estava no Nordeste, e a
política de deslocar recursos foi suficiente para ganhar a eleição. O ajuste
veio na forma de alta do desemprego e demora para recuperá-lo.”
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