10/01/2018

Alimentos foram âncora da inflação. É âncora boa, mas não é sólida

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Tanto os dados do IBGE sobre o IPCA de dezembro (e do ano cheio) quanto a carta do Banco Central explicando a inflação abaixo do piso da meta apontam os alimentos -especialmente os consumidos em casa – como grandes responsáveis pela inflação mais baixa em 2018.
De fato, se os alimentos tivessem tido uma alta de preços equivalente à da média dos demais índices que compõem  o índice, a inflação teria ficado um pouco acima de 4% e não nos 2,95% com que fechou 2017.
Veja no gráfico como, em grande parte do ano, a comida perdeu preço em relação aos demais itens de consumo.
A causa, admite o próprio BC, foi o “excesso de oferta” que, lido ao revés, por ser também chamado de “escassez de demanda”. Na primeira frase, a safra generosa do país; na segunda, a perda de poder aquisitivo.
A questão é que a tendência do índice, depois das quedas imensas, reencontrou o seu tradicional espaço para subir no início do ano e tem, no médio prazo, uma expectativa de safras bem menores.
Os economistas que quiserem fazer análises sérias e não “torcida”, devem se recordar que o Brasil já teve ima experiência  de conter a inflação com os preços dos alimentos, a chamada “âncora verde” do Governo Fernando Henrique Cardoso, ali por volta do final de 1995 e primeiro semestre de 1996. O resultado foi pontualmente bom e estruturalmente mau, desorganizando boa parte da pequena produção agrícola, porque a grande, geralmente vinculada á exportação, depende mais dos preços externos do que dos internos, que sobem quando aqueles se valorizam no mercado internacional.
Ainda não há dados para medir o impacto, desta vez, nos pequenos estabelecimentos agrícolas. Mas é bom colocar um pé atrás com a continuidade desta âncora que, num instante, se solta e sobe em alta velocidade.
A crise – como aliás pregam os manuais dos economistas ortodoxos – ajudou a conter a inflação. Mas ela não acaba com a causa profunda da inflação que é a da necessidade de equiparar ganhos de produção e comercialização com ganhos financeiros. Ao menos, quando o mercado de consumo o permite.
Do contrário, ficamos perto da história do cavalo do inglês, que morreu quando o dono o estava quase  acostumando a viver sem comer. De fome.

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