Entrega da primeira parte, entre a Trecho Oeste e a
Rodovia Fernão Dias estava prevista para março, dois anos após o prazo inicial;
obra completa, com 47 km, só deve ser concluída em dezembro
·
Fabio Leite e Adriana Ferraz, O
Estado de S. Paulo
10
Janeiro 2018 | 19h52
SÃO PAULO - O
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), admitiu nesta quarta-feira,
10, que a construção do Rodoanel Norte sofreu novo atraso e adiou a entrega do
primeiro trecho da obra, que estava previsto para março, para o mês de julho.
Já a abertura do segundo trecho dos 47 km que formam a última alça do aneal
viário metropolitano foi prorrogada de agosto para dezembro deste ano.
Com o novo prazo,
Alckmin não conseguirá inaugurar a principal obra viária de seu governo no
exercício do mandato, já que terá de deixar o comando do Estado em abril caso
seja confirmado como o candidato do PSDB à Presidência da República. A
construção do Trecho Norte, que teve início em 2013, no governo anterior do
tucano, havia sido prometida para março de 2016. Além do atraso, a construção
ficará cerca de 30% mais cara do que o orçamento inicial, chegando a R$ 9,7
bilhões.
Em 2016, o governo
tucano adiou em dois anos a entrega, que acabou posteriormente sendo dividida
em duas etapas: o trecho entre a Avenida Raimundo Pereira de Magalhães
(conexão com o Trecho Oeste) e a Rodovia Fernão Dias, em março deste ano, e
trecho até a Rodovia Presidente Dutra (conexão com o Trecho Leste) e a ligação
até o Aeroporto de Guarulhos, em agosto.
O novo atraso foi
anunciado por Alckmin após o leilão no qual a EcoRodovias sagrou-se vencedora
na disputa para assumir a gestão do Rodoanel Norte por 30 anos, com oferta de
R$ 883 milhões. A concessionária terá de investir R$ 804 milhões no período de
concessão e vai arrecadar dinheiro cobrando pedágio em cinco praças ao longo da
rodovia. O valor previsto da tarifa é de R$ 3,30 para veículos com dois eixos,
igual ao do trecho Sul do Rodoanel.
Alckmin atribuiu o novo atraso a problemas
envolvendo três processos de desapropriação de terrenos nas cidades de Arujá e
Guarulhos, na Grande São Paulo, e à falta de repasse de recursos para obra pelo
governo federal. "Nós estamos tocando a obra praticamente sozinhos.
Porque (o
financiamento) é um terço federal, desde a época
do governo Fernando Henrique (ex-presidente),
e dois terços do Estado. Nós investimos R$ 1,5 bilhão do Estado no ano
passado e o governo federal, que tinha R$ 620 milhões no orçamento, liberou R$
154 milhões", disse o governador.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin Foto:
Rafael Arbex/Estadão
Segundo o secretário estadual de Logística e
Transportes, Laurence Casagrande, desde o início da obra, em 2013, o governo
federal repassou apenas 13% dos 33% que deveria financiar de toda a construção.
A expectativa, segundo ele, é que esse dinheiro não chegue mais. "Este
ano, eles (governo
federal) estão prevendo apenas R$ 131 milhões.
Ou seja, os recursos não vão chegar. O Estado tem adiantado dinheiro, mas tem
seus limites, e por isso imprimiu um ritmo mais lento para não entrar em
situação de incapacidade financeira", afirmou.
20 anos. Lançado em janeiro de 1998 pelo ex-governador
Mário Covas (morto em 2001), o Rodoanel completará duas décadas de obras. Ao
todo, o anel viário projetado para interligar as rodovias que chegam à capital
paulista terá 177 km de extensão e será concluído no fim deste ao custo de
R$ 26 bilhões, valor 163% maior do que o previsto por Covas para todo anel (R$
9,9 bilhões, em valores corrigidos pela inflação). Na época, o ex-governador
prometeu entregar todos os trechos em oito anos, ou seja, 2006.
Os R$ 26 bilhões do
Rodoanel correspondem ao custo de 54 quilômetros de linhas de metrô, trem e
monotrilho, que atenderiam 1,6 milhão de pessoas. O cálculo considera o total
previsto para a Linha 6 e outras três linhas de transporte sobre trilhos
atualmente contratadas pelo Estado na capital.
Com
47 quilômetros, a última alça do anel viário sintetiza a sucessão de
atrasos e acréscimos de custos que marcaram a execução de todo o Rodoanel. Só
os contratos com as empreiteiras, alvo de investigação do Ministério Público
Federal (MPF) por suspeita de superfaturamento, tiveram reajustes de R$ 586
milhões, metade por causa da lentidão das obras civis, que vão custar R$ 4,5
bilhões. Já as desapropriações, apontadas pelo governo como o principal entrave
para o avanço da obra por causa de disputas judiciais, custarão R$ 2,5 bilhões,
mais do que o dobro do previsto. As desapropriações também são investigadas por
supostos desvios.
Sucessivos aumentos fizeram com que o Trecho Norte
se tornasse o mais caro entre as quatro alças do Rodoanel. Mas será o menos
usado. Segundo a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), o
trecho que vai conectar as rodovias Fernão Dias e Presidente Dutra, deve
receber uma média de 20 mil veículos por dia, 20% do fluxo do trecho oeste
(95,7 mil), inaugurado em 2002. Por todo o Rodoanel serão, em média, 192,2 mil
por dia – só nos 47 quilômetros das Marginais Pinheiros e Tietê, o índice é de
mais de um milhão de veículos.
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