Em entrevista, o influenciador defende a liberdade de expressão mas condena a radicalização causada pelas fake news
“A luta contra a disseminação de notícias falsas precisa partir daqueles que promovem essas notícias falsas”. Foi assim que Felipe Neto resumiu o papel das plataformas em moderar discursos de ódio e notícias falsas na internet.
O influenciador, com mais de 46,7 milhões de inscritos no YouTube, concedeu entrevista neste sábado (16/11) no CRIA G20 e explicou como o algoritmo das plataformas pode ajudar a aumentar a relevância de notícias falsas e discursos extremistas.
Quanto ao papel das redes sociais no combate à desinformação, como equilibrar liberdade de expressão e responsabilidade?
A gente precisa, antes de pensar em regulamentação de discurso, proteger a liberdade de expressão. Esse é o norte. Por isso, quando alguém fala que a vontade de regulamentar é a vontade de censurar é uma mentira. Porque a primeira pauta que a gente tem é proteger a liberdade de expressão.
A gente tem que entender que há a liberdade de expressão mas também existe a extrapolação da liberdade de expressão para o cometimento de crimes ou para o incentivo de teorias conspiratórias que levam à radicalização. Tudo isso é consenso jurídico. Tanto que você tem a questão da extrapolação da liberdade de expressão já em inúmeras sentenças e jurisprudência.
O que a gente precisa é entender qual é a responsabilidade da plataforma. Na nossa visão, deve partir do que a gente chama de “dever de cuidado”. A plataforma precisa entender a responsabilidade dela sobre os discursos que estão sendo propagados na internet. Tomar atitude quando esses discursos são denunciados e não simplesmente falar “lavamos as mãos, não temos responsabilidade, posta o que quiser”, que é o que o Elon Musk está fazendo.
E onde isso leva? Isso leva a uma radicalização, à divulgação de conteúdos mentirosos e à proliferação de riscos para o tecido social. Então, em uma pandemia, a gente vai ter gente dizendo que não deve se tomar vacina e gente defendendo que isso precisa ser feito. Isso não deve ser aceito.
A gente precisa lutar para que a desinformação seja abolida da internet. É uma tarefa árdua, porém realizável. A União Europeia está realizando, a Austrália está realizando. O Brasil, infelizmente, ficou para trás.
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Que estratégias você utiliza para lidar com ataques e fake news direcionados a você?
Sempre que eu recebo um ataque, seja ele mentiroso ou baseado em verdade, que às vezes você pode ser de fato criticado, eu tento entender se essa pessoa está tentando me fazer evoluir ou se ela está tentando simplesmente me escantear e tentar me diminuir, me inferiorizar, me ridicularizar. Esse tipo de discurso eu não levo a sério, não tomo para a vida.
Quando a pessoa tem alguma coisa útil a ser dita, eu tento aprender. Agora, quando eu fui vítima de um ataque sistêmico utilizando robôs, utilizando grupos de WhatsApp, utilizando sistemas criados para destruição de reputações, aí eu preciso me defender com todas as armas que eu tenho. A defesa vai ser no campo jurídico. A defesa vai ser no campo de construir vídeos mostrando a verdade, chamando meu público para poder divulgar essa verdade.
Foi o que eu tive que fazer quando fui acusado de pedofilia, quando fui acusado de crime contra a segurança nacional, de crimes como corrupção de menores.
Eu precisei lutar com todas as forças e ainda luto principalmente contra ameaças de morte também, para poder conviver com isso da melhor forma possível, se é que existe.
Na sua visão, como governos e plataformas podem colaborar de forma eficaz contra a disseminação de notícias falsas?
A luta contra a disseminação de notícias falsas precisa partir daqueles que promovem essas notícias falsas. As plataformas hoje são as grandes promotoras de conteúdo. Elas que promovem o conteúdo, elas indicam, recomendam. Hoje, se você não é recomendado para uma plataforma, dificilmente você tem alcance, tem audiência.
Então, quando tudo se torna recomendação das redes, a gente precisa lutar para que essa recomendação seja transparente. Qual é o algoritmo que recomenda? O que que tem nele? Por que ele prioriza uma notícia de extrema direita? Por que prioriza uma notícia de desinformação?
Compreender isso é compreender que as plataformas hoje visam mais o lucro que a ética. Elas visam mais o lucro do que a coexistência. Então a gente precisa subverter essa ordem e retomar a coexistência ética para o topo da pirâmide.
Para fazer isso a gente precisa de lei. E aí você vai precisar do jurídico, do Judiciário, do Executivo e do Legislativo trabalhando para que isso aconteça em harmonia, o que não acontece hoje no Brasil.
Que relação você vê entre a desinformação e o agravamento da emergência climática?
O clima não é exatamente a minha especialidade, mas acho que todos nós temos que falar sobre o assunto, né? E é mais do que evidente que esses negacionistas dos efeitos climáticos e das mudanças climáticas por ação humana, eles visam o lucro e o poder.
Por que eles negam que haja interferência climática? Porque eles sabem que para mexer nisso vai ter que mexer no lucro das pessoas mais ricas do planeta, então eles lutam para dizer que não. Dizem que é uma pauta comunista. Dizem que querem tirar o lucro dos grandes bilionários e para isso eles inventaram que o ser humano muda o clima.
O que é trágico é que isso que era para ser um discurso tido pela maioria como imbecil – porque é imbecil –, não só não é tido como imbecil, como eles elegem um presidente norte-americano que defende isso, que defende que todas as pautas para preservação climática devem ser abolidas e que deve se furar tudo atrás de petróleo.
E não tem que ter nenhum comprometimento da empresa, das empresas e da indústria para o clima. Isso é trágico. Enfim, agora a gente vai ter mais quatro anos de Donald Trump para a gente tentar enfrentar. Os norte-americanos vão ter um bom trabalho pela frente, para voltar esta pauta a ser relevante pro mundo.
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