Exército, Marinha e Aeronáutica são espaços cada vez mais consolidados de participação e liderança de mulheres. No 8 de Março, elas contam suas trajetórias guerreiras

No dia 8 de março, o mundo celebra o Dia Internacional da Mulher, uma data que simboliza a luta por igualdade, reconhecimento e respeito. Nas Forças Armadas Brasileiras, a data também reforça a importância e o impacto das mulheres nas mais diversas áreas das instituições.
A presença feminina na Força Aérea Brasileira remonta à Segunda Guerra Mundial, quando, em julho de 1944, seis enfermeiras passaram a integrar o Quadro de Enfermeiras da Reserva da Aeronáutica. A partir de 1982, a Instituição passou a incorporar mais mulheres, e, hoje, elas representam mais 15 mil militares em diversas funções, entre militares e civis.
Ao longo dos anos, a FAB tem ampliado as oportunidades para as mulheres, permitindo que muitas conquistem posições de liderança e se destaquem em áreas antes predominantemente masculinas.
Mulheres que desafiaram o céu
A Major Aviadora Joyce de Souza Conceição fez parte da primeira turma de mulheres Aviadoras da FAB, em 2003, e, 22 anos depois, tornou-se a primeira mulher a comandar uma Unidade Aérea. Assumindo o comando do Primeiro Esquadrão do Primeiro Grupo de Transporte - Esquadrão Gordo - em 2025, ela não apenas fortalece a presença feminina na aviação, mas também se torna um símbolo de liderança e competência dentro da FAB.
“Fazer parte da primeira turma de Oficiais Aviadoras foi um desafio e uma grande responsabilidade. A adaptação ao voo e a formação completa nos dois anos de atividade aérea exigiram dedicação adicional. Na minha trajetória, na Academia da Força Aérea, considero que o espírito de grupo, sobretudo com minhas colegas de turma, bem como o profissionalismo dos instrutores da AFA, foram fatores fundamentais para que as dificuldades pudessem ser superadas”, destacou.
A Major-Brigadeiro Médica Carla Lyrio Martins foi a primeira mulher a alcançar o posto de Oficial-General de três estrelas nas Forças Armadas do Brasil, no final do ano de 2023. A Oficial-General celebra uma trajetória marcada por pioneirismo e dedicação. "Se eu pudesse definir a minha carreira em uma palavra, seria 'comprometimento'. Dedico-me à Força Aérea Brasileira e à sociedade. A nossa carreira é uma carreira que impulsiona, cria oportunidades, nos desafia e nos dá a chance de ajudar e fazer o bem para a sociedade. Sou completamente feliz com todas as escolhas que fiz e tenho muito orgulho da carreira que trilhei”, afirmou a Oficial-General.
Superando desafios
No Grupamento de Apoio do Distrito Federal da Aeronáutica (GAP-DF), a Tenente Nutricionista Allana Raulino coordena uma equipe de 160 pessoas, lidando com as demandas de alimentação e suporte à tropa. “É um grande desafio, especialmente porque a maioria dos militares que trabalham no rancho são homens com anos de experiência. Mas a satisfação é enorme quando conseguimos alcançar nossos objetivos e somos reconhecidas pelo nosso trabalho”, relatou, destacando a importância do trabalho em equipe e a recompensa pelo esforço coletivo.
A Sargento Especialista em Eletrônica Yvy Amaral da Costa (foto acima), do Primeiro Esquadrão do Primeiro Grupo de Transporte (1º/1º GT) – Esquadrão Gordo – teve a oportunidade de fazer parte da histórica missão ao continente Antártico, integrando a tripulação do KC-390 Millennium. Para ela, a missão representou um grande marco em sua carreira. "Participar dessa missão foi um mix de emoções e responsabilidades, pois pude garantir o apoio vital aos pesquisadores no inverno antártico, essencial para que tivessem acesso a alimentos e água. Uma experiência inesquecível", compartilhou.
Mares doravante navegados
Há exatos 50 anos, as Nações Unidas celebraram pela primeira vez o Dia Internacional da Mulher. A escolha do 8 de março foi inspirada na conquista do direito de voto pelas mulheres russas em 1917 e, desde então, a data tornou-se um momento de reflexão sobre a evolução da presença feminina na sociedade.
Ao longo desse período, as mulheres ampliaram sua atuação e no Brasil elas já estão presentes em todos os Corpos e Quadros da Marinha, até mesmo nos mais operativos.
O assunto é objeto de estudo da professora de Direito da Universidade Federal do Tocantins, Graziela Tavares de Souza Reis, que contribuiu com discussões sobre o tema em diferentes edições do Congresso Acadêmico de Defesa Nacional, organizado anualmente pela Escola Superior de Defesa. Segundo ela, a antiga restrição à participação feminina nas Forças Armadas, assim como em outros ambientes predominantemente masculinos, tem raízes culturais, que associavam a figura da mulher aos espaços domésticos e aos papéis de cuidadora.
Combatendo estereótipos
“Permitir que elas estivessem em outros espaços públicos, civis ou militares, quebraria essa lógica cultural. Então, talvez até para justificar e mantê-la, criou-se uma ideia de que as mulheres seriam frágeis, do mesmo modo que se criou uma falsa ideia de que padeciam de racionalidade. Isso se sustentava, por exemplo, não permitindo que elas pudessem estudar ou chegar de forma igualitária nas ciências”, explica a professora, que percebe uma ruptura gradual dessa crença.
Quando as oportunidades se apresentam, elas mostram que não se enquadram em estereótipos. A resposta ao concurso para a primeira turma mista de formação de Soldados Fuzileiros Navais , até então única carreira operativa da Força Naval inacessível à participação feminina, é exemplo disso. Mais de 5 mil concorreram no ano passado às cerca de 120 vagas. O mesmo número de candidatas se inscreveu este ano para as vagas do Colégio Naval , instituição de Ensino Médio da Marinha do Brasil (MB), e já passam de 7 mil as jovens alistadas no inédito Serviço Militar Inicial Feminino.
Conquista atrás de conquista
Para a Soldado (Fuzileiro Naval) Fabiana Damasceno egressa daquela primeira turma e que se tornou, em fevereiro deste ano, a primeira mulher a conquistar o distintivo do Estágio de Qualificação em Operações no Cerrado , em Brasília (DF), essas vitórias poderão inspirar futuras gerações. “Eu não imaginava que seria a primeira, mas diante disso eu enxergo que a partir de mim virão outras mulheres que enxergarão que é possível, desde que haja muito esforço e muita dedicação”, afirma.
Quem também faz história na Marinha ao seguir sua vocação militar é a Segundo-Tenente Catarina Oliveira Dowsley Fernandes, primeira mulher a integrar o Quadro Complementar do Corpo da Armada . “Ser militar sempre foi um sonho desde quando era adolescente. Para mim, significa sacrificar sua vida em prol de algo muito maior que si mesmo: sua nação. Esse sentimento representa para mim a realização de viver por um propósito nobre”, acredita ela, que concluiu, em janeiro deste ano, o Curso de Formação de Oficiais, no Rio de Janeiro (RJ).
A Segundo-Tenente Catarina (foto acima), que já era graduada em Engenharia Eletrônica e da Computação, pode agora servir nos diversos navios de guerra da MB, exercendo funções de condução, operação e manutenção dos meios navais. “As mulheres têm capacidade intelectual para desempenhar qualquer papel nas Forças Armadas e em qualquer instituição. Mais do que tudo, precisam acreditar que podem fazer o que quiserem!”, garante a Segundo-Tenente, que reconhece a importância do caminho aberto pelas primeiras mulheres nas Forças Armadas para que outras pudessem segui-lo.
No topo
Algumas dessas pioneiras estão, hoje, alcançando alto círculo da hierarquia militar naval. É o caso da Capitão de Mar e Guerra (Médica) Daniella Leitão Mendes, atual Vice-Diretora da Diretoria de Saúde da Marinha, que deve ser promovida a Contra-Almirante no dia 31 de março. “É para mim um grande orgulho ter a oportunidade de representar o segmento feminino da tripulação, que é tão importante, e, ao mesmo tempo, uma grande sponsabilidade”, afirma a Oficial, que tem 29 anos de carreira.
1980, um marco histórico
A história das mulheres na Marinha começou com o Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha, criado em 1980, que contava com cerca de 300 militares de níveis superior e técnico, recrutadas principalmente para exercer funções administrativas. Atualmente, elas representam 12,6% da força de trabalho da MB, incluindo servidoras civis e militares, tanto de carreira quanto temporárias, em todos os Quadros e Corpos. Esse número deve aumentar nos próximos anos, com a sua inclusão em carreiras operativas, como a da Armada e a de Fuzileiros Navais.
Segundo a professora de Direito da Universidade Federal do Tocantins, a alta demanda das mulheres pela carreira nas Forças Armadas é uma clara constatação da premissa cultural em declínio. “Essa é a grande discussão das teorias igualitárias de direitos: que elas tenham autonomia sobre seus planos e sua participação na sociedade. É uma presença ainda nova e toda mudança traz desafios, rupturas. É um processo que demanda boa vontade, lealdade, boa-fé de todos que estão envolvidos”, avalia.
A presença feminina na navegação brasileira vem crescendo e ganhando cada vez mais força e espaço. Atualmente, mulheres ocupam funções estratégicas e operacionais a bordo de grandes navios que cruzam a costa do país. Para celebrar o Dia Internacional da Mulher neste 8 de março, o Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) trouxe histórias de profissionais que fazem a diferença no setor de transporte marítimo e de cargas.
O avanço feminino nos mares brasileiros não é apenas uma realidade, mas um sinal de que o futuro da navegação está cada vez mais diverso e inclusivo. A bordo do gigante Bartolomeu Dias, da Aliança Navegação e Logística – o maior navio porta-contêiner operando na cabotagem brasileira –, três mulheres contam suas histórias e mostram que lugar de mulher também é no comando dos mares.
Pioneirismo
“Estar no mar é um desafio diário, mas também uma grande realização. Espero que cada vez mais mulheres vejam que essa carreira é possível e cheia de oportunidades”, afirma Leomar das Graças Martins de Moraes, que atua na linha de frente das operações do navio como Imediato, sendo a substituta do comandante.
Ela conta que faz parte da primeira turma de mulheres do Brasil. “Quando me formei, éramos apenas nove mulheres. Foi um desafio incrível e conseguimos nos posicionar a bordo, trabalhando com muita responsabilidade, comprometimento e serenidade para abrir este espaço para as outras que estão vindo”, lembra.
Leomar destaca os avanços conquistados ao longo dos anos e reforça a importância do respeito mútuo no ambiente de trabalho. “O ambiente é predominantemente masculino? Sim! Mas aqui é um espaço de profissionais capacitados. Se estamos aqui, é porque fomos certificadas e treinadas para isso.”
Mãe de três meninas, ela concilia a rotina com o apoio do esposo e a ajuda da tecnologia, que permite matar a saudade da família. Sua filha adolescente já estuda para ingressar na Escola Naval da Marinha do Brasil e seguir o caminho da mãe. “Já pensou eu e minha filha comandando o mesmo navio?”, comenta emocionada.
1ª Oficial de Náutica
A jovem Isabelle de Castro Benevides, 1ª Oficial de Náutica, se orgulha de fazer parte de uma geração feminina que está conquistando cada vez mais espaço na navegação. “Já embarquei em navios onde metade da tripulação era composta por mulheres. Isso mostra o quanto o cenário mudou e acredito que no futuro será ainda melhor”, celebra.
A 1ª Oficial de Náutica é essencial para o funcionamento do navio, sendo responsável pela navegação, manobra e controle de cargas. “É incrível! Sou muito apaixonada pelo mar. Este é um trabalho complexo, mas fascinante em cada detalhe”, diz.
Isabelle incentiva futuras navegantes a investirem no conhecimento. “É preciso ver além do horizonte e buscar cada vez mais aprendizado. Além da navegação e documentação do navio, lidamos com a operação de carga e lastro. Trabalhamos em várias áreas e isso nos torna mais preparadas”, explica.
Ela finaliza emocionada: “É uma profissão gratificante! Viajamos, conhecemos vários portos e interagimos com pessoas do mundo todo. Fazemos parte da logística que movimenta tanto o mercado nacional quanto o internacional. Para quem deseja ingressar, eu digo: venham, vocês vão gostar!”
Auxiliar de Saúde
Manter a saúde da tripulação é a missão de Odelnice Maciel de Souza, mais conhecida como OD. Ela é responsável pelo bem-estar dos cerca de 20 tripulantes embarcados, prestando assistência médica e garantindo que todos estejam aptos para suas funções durante a viagem.
“A gente presta os primeiros socorros quando necessário. Se o caso exigir, acionamos a médica da empresa e, se estivermos no porto, comunicamos o Imediato e o Comandante para encaminhar o tripulante a um especialista”, explica.
OD relembra os desafios do início da carreira, especialmente a saudade da família. “No começo é difícil. Para quem trabalha embarcado, a distância de casa pesa muito, principalmente para quem tem filhos. Mas com o tempo e a tecnologia, isso se torna mais fácil de lidar.”
Ela deixa um conselho para quem deseja ingressar na profissão: “Corram atrás dos seus objetivos! Estudem, façam cursos e se preparem. Oportunidades existem para quem está disposto a se dedicar.”
Alistamento voluntário
Três mulheres e uma missão em comum: servir à Pátria. No dia em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, 8 de março, o Ministério da Defesa lança uma edição especial do "Por Dentro da Defesa", agora em formato de podcast. No décimo episódio do programa foram convidadas a Comandante de Mar e Guerra (T) Eliane Rocha, da Marinha do Brasil; a 2ª Tenente Marcelly Alencar, do Exército Brasileiro; e a 1ª Tenente Gilliane Rodrigues, da Força Aérea Brasileira, que compartilharam suas experiências na carreira militar e responderam as dúvidas sobre o Serviço Militar Feminino Voluntário, uma iniciativa pioneira nas Forças Armadas do Brasil.
Durante o bate-papo, temas como oportunidade de trabalho, progressão na carreira e promoção à equidade foram alguns dos destaques apresentados pelas oficiais. A Comandante Eliane disse que o Serviço Militar Feminino permite que as jovens conquistem o primeiro emprego e se identifiquem com a carreira. “Essa iniciativa possibilita que essas jovens conheçam as Forças Armadas e se perguntem: este é o meu lugar? É o que eu quero para a minha vida? As Forças são uma escola de vida e de profissionalismo.”, explicou.
A Tenente Marcelly ressaltou que o alistamento pode proporcionar crescimento profissional em diversas áreas de atuação. “Nas Forças, elas terão a oportunidade de vivenciar atividades nas áreas da saúde, administração, contabilidade e informática. Com as experiências poderão saber qual profissão querem seguir.”, destacou a militar.
Já a Tenente Gilliane reforçou que as Forças Armadas e o Ministério da Defesa estão empenhados e acompanhando os avanços nas adequações das instalações militares que receberão as jovens. “Nós temos visitas técnicas programadas durante o ano, onde vamos às cidades que recebem o serviço militar obrigatório, e agora que vão recebê-las. Recentemente, fomos a Manaus e constatamos que as instalações das três Forças estão em condições de receber as meninas que serão incorporadas.”, afirmou.
Inicialmente, o Serviço Militar Feminino são ofertadas 1.465 vagas, sendo 155 para a Marinha, 1.010 para o Exército e 300 para a Aeronáutica. As oportunidades estão distribuídas em 28 municípios de 13 estados, além do Distrito Federal. Até o momento, cerca de 25,4 mil mulheres efetuaram as inscrições, que seguem até 30 de junho, no site do Exército ou na Junta Militar da região.
Com informações das Forças Armadas
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