Entrevista com o bispo de guarulhos- hipocresia total‏

 
Dom Luiz Gonzaga nega ter recomendado voto em Serra
Ricardo Filho
Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo diocesano de Guarulhos, concedeu entrevista exclusiva à Folha Metropolitana ontem à tarde em sua casa, no bairro do Gopoúva, e explicou as várias questões sobre o folheto que conclama o fiel católico a não votar em Dilma Rousseff. O impresso, que estranhamente demorou a ser reconhecido como oficial pela CNBB, foi apreendido pela Polícia Federal no dia 17, sob suspeita de prática de crime eleitoral. De acordo com o clérigo, suas ações foram em defesa da vida.   “Nunca disse uma palavra, vote no Serra. Nunca.”  Acompanhe:

Folha Metropolitana – O senhor tem manifestado voto contra Dilma Rousseff. É uma indicação pessoal?

Luiz Gonzaga Bergonzini – É, como bispo, como cidadão, não somente pessoal, sempre tendo em vista a condição da defesa da vida.

FM – Mas o senhor se valeu do nome da CNBB para dar essa opinião.

LGB – Não. Absolutamente. (Me manifestei) Como bispo de Guarulhos, responsável pela Diocese de Guarulhos, sujeito única e exclusivamente ao papa. A CNBB não é um organismo hierárquico é uma conferência episcopal que coordena as atividades dos bispos do Brasil. Ninguém pode assumir atitudes a favor ou contra as instituições da Diocese.

FM –
Para fazer os folhetos, o senhor usou que recursos?

LGB – Recursos próprios.

FM – Não foi dinheiro da Cúria?

LGB – De Jeito nenhum. Pessoas que doaram. Eu não tenho recursos. Inclusive os empresários que doaram o fizeram com a condição de não divulgar o nome deles. Não sei quem doou, nem quanto cada um doou. Teve uma sobrinha, de R$ 1 mil mais ou menos, por causa da interrupção do trabalho da gráfica, que eu vou doar ao seminário.

FM – A CNBB disse que não indica partidos ou candidatos, diferentemente do senhor. Como nessa fase temos apenas dois candidatos, sobra o voto em Serra ou em branco ou em nulo. Qual a sua posição?

LGB – A minha palavra é uma só: não vote na Dilma. As outras possibilidades cada um vai ter de decidir. Eu dizia não vote em Dilma, no primeiro turno, desde que a campanha tinha oito ou nove candidatos (à Presidência). Eu não indiquei candidato nenhum.
FM – Mas o senhor está reiterando isso agora também?
LGB – Justo. Eu não mudei de posição. Eu não sou como ela, com todo o respeito à senhora Dilma, que mudou três vezes o plano de governo dela. A minha palavra continua a mesma: eu disse, mantenho, escrevo, assino e confirmo. Isso não significa que só agora que estejam na disputa apenas dois eu esteja recomendando o voto contra Dilma. Eu continuo dizendo: não vote na Dilma.

FM – Uma legislação de 1948 já prevê a interrupção da gravidez no Brasil. E há ainda uma norma técnica sobre o assunto de 1998, assinada em 2001 pelo então ministro da Saúde José Serra. Por que nos folhetos o senhor centrou fogo somente na petista?

LGB – Essa norma técnica foi feita para segurar a extensão do aborto...

FM – O senhor acredita que ela foi feita para segurar, para conter esse avanço?

LGB – A norma? sim. Não havia porque aplicar aquela lei. Eu não estou defendendo o Serra, não. Essa norma técnica afirma que é viável, é possível, é permitido oficialmente, legalmente, e legalmente não quer dizer moralmente, o aborto em caso de estupro, em caso de má-formação, de anencéfalo, e risco de vida para a mãe. (...) A vida pertence a Deus, parte Dele e Ele só pode tirar. Legalmente, dentro da lei brasileira, existem essas possibilidades, essas concessões, mas não são aprovadas pela Igreja.

FM – Mas o candidato Serra acabou se apropriando desse discurso...

LGB – Acontece que ele é contra o aborto. Não sei se você viu uma declaração em que ele disse temer que a liberação do aborto vire uma carnificina.

FM – Mas entre declarar e praticar... Recentemente, veio à tona que a esposa dele (Mônica Serra) teria feito aborto durante os anos de exílio nos Estados Unidos. No caso, temos uma candidata que defende e outro que a mulher já praticou o aborto. Com quem o senhor fica?

LGB – Eu não fico. Já disse ao senhor que sou contra o aborto e contra Dilma. Sou contra todo e qualquer partido ou político que defenda o aborto. Eu não estou defendendo o voto em Serra, você é quem vai decidir. Vote em branco, vote nulo, você é quem vai decidir. O voto é secreto e inviolável.

FM – Ao conclamar voto contra um dos candidatos o impresso deixa de ser um documento de orientação religiosa para ser um panfleto sem número do CNPJ. Isso configura crime eleitoral, não?

LGB – Onde você viu isso?

FM –
Eu estou fazendo uma pergunta.

LGB – Não senhor. É um documento assinado por três cidadãos, bispos, que têm residência fixa e podem ser encontrados a qualquer tempo. É um documento que foi assinado sim e distribuído.

FM – Eu queria entender a razão de sua posição tão veemente contra Dilma se temos dois candidatos com ideias sobre aborto tão parecidas.

LGB – Eu disse isso desde o primeiro turno quando tinha nove ou dez candidatos, agora sobrou só ela e Serra e eu continuo dizendo: não vote em Dilma.

FM – Não seria o caso de retomar o artigo ‘Daí a César o que é de César’ e ponderar sobre essas questões? Porque a impressão que dá é que o senhor está pregando voto em um dos candidatos. O senhor não se sente responsável...

LGB – De jeito nenhum. O que eu escrevi, eu assinei. E nunca disse uma palavra vote no Serra. Nunca. Desafio qualquer pessoa a dizer que eu recomendei voto no Serra, que recomendei por escrito ou de viva voz o voto no Serra. Ao contrário, disse não vote na Dilma ou em qualquer candidato que defenda o aborto. E não vou reformular o artigo. O que eu disse está assinado.

FM –
Após essa celeuma sobre o folheto, a CNBB se manifestou dizendo que não indica candidatos ou partidos e o Regional Sul 1 condenou a instrumentalização do documento para uso em campanhas. Depois silenciaram. Demorou para que assumissem a responsabilidade sobre o impresso. Por que isso aconteceu?

LGB – Eles devem ter se reunido e analisado melhor e visto a intenção de defesa da vida, e que não é uma visão político-partidária. Deve ser isso.

FM – O Senhor disse em uma ocasião que iria buscar orientação no Vaticano. O senhor chegou a fazer isso?

LGB – Sim, enviei uma carta endereçada ao papa dizendo que estava à disposição dele e que aguardava sua decisão com uma obediência filial.

FM –
O senhor não obteve resposta?

LGB – Não.

FM –
Acha que a CNBB pode ter recebido uma orientação do Vaticano no sentido de apoiar o documento?

LGB – Pode ser. Não vou perguntar a eles e eles não vão me dizer...

FM – Mas pode ter acontecido?

LGB – Pode. Coloca aí que o bispo disse que pode, mas que não afirma isso.

FM – Por que a Diocese usou o Kelmon Luiz de Souza como intermediário na encomenda dos folhetos?

LGB – Quando nós convidamos líderes de vários movimentos da Igreja para uma reunião sobre essas questões, decidiu-se que seria feito um impresso. E na divisão de tarefas o Kelmon ficou encarregado dessa parte de impressos.

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