Repressão ao 'dia da fúria' na Síria deixa 62 manifestantes mortos


Nove policiais morrem nos protestos contra o ditador Bashar Assad, que foram realizados em várias cidades sírias, entre elas Damasco, e pela primeira vez tiveram a participação de membros da Irmandade Muçulmana, grupo banido há mais de 40 anos


Lourival Sant?Anna - O Estado de S.Paulo
Pela primeira vez com a participação ostensiva da Irmandade Muçulmana, banida há quatro décadas, milhares de pessoas foram ontem às ruas de dezenas de cidades da Síria para exigir a renúncia do ditador Bashar Assad, nas maiores manifestações desde que elas começaram, em 15 de março.
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Multidão. Imagem feita por celular mostra sírios protestando na cidade de Banias após orações
As forças de segurança mais uma vez abriram fogo contra as multidões. Segundo relatos de testemunhas colhidos pelas agências de notícias, pelo menos 42 manifestantes foram mortos no chamado "dia de fúria". No entanto, grupos de defesa dos direitos humanos disseram que 62 manifestantes foram mortos, além de 9 policiais.
Foi também uma das poucas vezes em que os manifestantes saíram às ruas de Damasco. Apesar do forte esquema de segurança, testemunhas disseram que o protesto reuniu pelo menos 10 mil pessoas na capital.
Pichações. O governo sírio afirmou que quatro soldados foram mortos e dois capturados em um "ataque terrorista" contra um posto militar em Deraa, epicentro dos protestos, desencadeados pela prisão de três jovens em 15 de março nessa cidade do sul, por terem feito pichações contra o governo.
A Irmandade Muçulmana é um movimento fundamentalista sunita fundado em 1928 no Egito e presente em vários países árabes. Foi reprimida pelo Partido Baath desde sua ascensão ao poder na Síria, em 1963, e definitivamente banida pelo ex-ditador Hafez Assad, pai de Bashar, que assumiu em 1970. Os Assads pertencem à minoria alauita, seita xiita que representa apenas 11% da população síria, enquanto os sunitas são a imensa maioria - 74%. O líder da Irmandade na Síria, Ali Sadr Eddine Bayanuni, vive refugiado em Londres. Assim como no Egito e na Líbia, inicialmente o grupo manteve atitude discreta.
Aparentemente pelo receio de dar munição aos respectivos governos na acusação de que se tratava de conspiração islâmica, o que afugentaria o apoio do Ocidente e dos setores secularistas da classe média, importante motor das revoltas no mundo árabe.
Num indicador de que o fator religioso não basta para explicar o anseio por mudanças, tem havido protestos também em Latakia, reduto alauita na costa oeste, onde testemunhas disseram que as forças de segurança abriram fogo contra os manifestantes. Segundo grupos de defesa dos direitos humanos, mais de 500 pessoas já morreram nas seis semanas de confrontos.


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