Entidade de compositores apura atuação de funcionários em fraude


Laranja foi utilizado para desviar pagamento de direitos autorais


MARCELO BORTOLOTI
DO RIO

A UBC (União Brasileira de Compositores) está investigando o possível envolvimento de funcionários na fraude que levou o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) a pagar R$ 127,8 mil a um suposto compositor cadastrado na entidade como Milton Coitinho dos Santos.
Ontem a Folha revelou que o CPF usado para o cadastro na UBC é de um motorista que vive em Bagé, Rio Grande do Sul, e que se chama, de fato, Milton Coitinho dos Santos. O motorista, de 46 anos, afirmou jamais ter composto uma música, nem ter recebido direitos autorais.
Ele mora em uma casa modesta numa rua de terra na periferia de Bagé com a família e dirige um Gol 1996.
O suposto fraudador se cadastrou na UBC, uma das entidades que formam o Ecad, como autor de trilhas sonoras de dezenas de obras do cinema nacional.
Informou como endereço o hotel Palm Beach Resort, em Las Vegas. O hotel informou que não há nenhum hóspede com este nome.

SEM INQUÉRITO
De acordo com Marisa Gandelman, diretora-executiva da UBC, o golpe foi idealizado por alguém com acesso a informações restritas, como quais filmes tinham fichas técnicas com trilha sonora registradas na UBC.
Além de cadastrar fichas de filmes antigos que ainda não tinham registro, o autor do golpe modificou outras que já existiam, incluindo seu nome como co-autor.
"Queremos saber se existe um cúmplice aqui ou no Ecad", diz Gandelman.
As informações obtidas estão sendo encaminhadas para a Polícia Civil, mas segundo a diretora ainda não foi instaurado inquérito para apurar o crime.
Gandelman afirma que a fraude foi descoberta antes que novo pagamento fosse realizado. Ela também diz que a UBC já ressarciu todos os prejudicados na história.
Na semana passada, a pessoa que usa o nome de Coitinho mandou um e-mail para a UBC. Nele, diz que continua morando nos Estados Unidos e que não irá devolver o dinheiro porque já o gastou numa operação cirúrgica.
"Em suma, ele diz que, se a gente pagou, o problema é nosso. E que devemos abater em créditos futuros, mas ele não tem créditos a receber", diz Gandelman.
O Ecad não retornou o pedido de entrevista até o fechamento desta edição.
 
Painel
RENATA LO PRETE -
painel@uol.com.br

Bola dividida

Em privado, o governo federal manifesta temor de que as diferenças entre Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab, a cada dia mais visíveis, comprometam o projeto da sede paulistana da Copa de 2014. O comitê respaldado pela Fifa conta com representantes do governo do Estado e da prefeitura, que divergem sobre pontos como a alternativa para a Copa das Confederações, em 2013 (nova Arena do Palmeiras ou Pacaembu), e a política de isenções para a construção do Itaquerão (Alckmin rejeita; Kassab baixou pacote de alívio fiscal aos investidores). O único ponto de consenso é a convicção de que ambos serão responsabilizados pelo PT caso São Paulo não abra a competição.



Areia Contribuiu para o atrito governo estadual-prefeitura a ida de Gilmar Tadeu Alves, do PC do B do ministro Orlando Silva (Esporte), para a nova secretaria municipal encarregada da Copa.

Relógio Preocupa o comitê paulista a indefinição quanto aos horários dos jogos. Como a Fifa só fecha a grade após negociar os direitos de TV, o planejamento de trânsito fica prejudicado.

Sr. Google 1 Ainda que, no registro da agenda oficial, alguns encontros sejam a dois, é raro algum ministro despachar com Dilma sem a presença do assessor especial Anderson Dorneles, sombra da presidente.

Sr. Google 2 Munido de laptop abastecido com uma infinidade de dados do governo, Anderson é acionado toda vez que o ministro recita números e outras informações, não raro fornecendo matéria-prima para Dilma pegar o incauto no pulo.

Sorte grande Nos dias que antecederam sua refiliação ao PT, Delúbio Soares ocupou o Twitter para reproduzir as mensagens de apoio que recebeu. Normalmente, o tesoureiro do mensalão utiliza o microblog para postar seus artigos e notícias simpáticas ao governo petista, além de chamar a atenção dos seguidores toda vez que a Mega Sena acumula.

Esquece Na contramão de petistas de São Paulo que estimulam, mais ou menos veladamente, a candidatura de Gabriel Chalita a prefeito da capital, Lula não aprova a ideia. Sem prejuízo de nutrir simpatia pelo deputado, de saída do PSB para o PMDB, o ex-presidente considera que "Chalita é do Alckmin".

Oremos Tão logo volte de Roma, onde assiste hoje, ao lado de Chalita, à cerimônia de beatificação de João Paulo 2º, Michel Temer vai procurar Campos Machado, presidente do PTB-SP. O vice já opera para engordar o tempo de TV de seu candidato.

Locomotiva Chalita e Paulo Skaf, desafetos no PSB, terão de conviver no PMDB, para onde também o presidente da Fiesp migrará. Ele espera ser candidato ao governo novamente em 2014. Já o partido quer vê-lo disputando uma cadeira de vereador no ano de vem, puxando voto para a bancada.

Dois pesos A reposição salarial dos demais servidores do ensino paulista não deve acompanhar o índice de 36%, escalonado até 2014, oferecido aos professores da rede. Quem acompanha a área de perto teme que o tratamento diferenciado venha a comprometer a produtividade nas escolas.

Espuma Depois da debandada de quase metade da bancada de vereadores, os novos dirigentes do PSDB paulistano, sob a orientação do governador Geraldo Alckmin, prometem uma rodada de filiações para adensar a chapa de pré-candidaturas à Câmara Municipal em 2012. Os nomes dos "reforços" são guardados a sete chaves.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po0105201101.htm
Livros aprovados pelo MEC criticam FHC e elogiam Lula
Obras atacam privatizações feitas pelo tucano e minimizam o mensalão


Comissão formada por professores avalia os livros, que são usados por 97% das escolas da rede pública de ensino

LUIZA BANDEIRA
RODRIGO VIZEU
DE SÃO PAULO

Livros didáticos aprovados pelo MEC (Ministério da Educação) para alunos do ensino fundamental trazem críticas ao governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e elogios à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Uma das exigências do MEC para aprovar os livros é que não haja doutrinação política nas obras utilizadas.
O livro "História e Vida Integrada", por exemplo, enumera problemas do governo FHC (1995-2002), como crise cambial e apagão, e traz críticas às privatizações.
Já o item "Tudo pela reeleição" cita denúncias de compra de votos no Congresso para a aprovação da emenda que permitiu a recondução do tucano à Presidência.
O fim da gestão FHC aparece no tópico "Um projeto não concluído", que lista dados negativos do governo tucano. Por fim, diz que "um aspecto pode ser levantado como positivo", citando melhorias na educação e a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Já em relação ao governo Lula (2003-2010), o livro cita a "festa popular" da posse e diz que o petista "inovou no estilo de governar" ao criar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
O escândalo do mensalão é citado ao lado de uma série de dados positivos.
Ao explicar a eleição de FHC, o livro "História em Documentos" afirma que foi resultado do sucesso do Plano Real e acrescenta: "Mas decorreu também da aliança do presidente com políticos conservadores das elites". Um quadro explica o papel dos aliados do tucano na sustentação da ditadura militar.
Quando o assunto é o governo Lula, a autora -que à Folha disse ter sido imparcial- inicia com a luta do PT contra a ditadura e apenas cita que o partido fez "concessões" ao fazer "alianças com partidos adversários".
Em dois livros aprovados pelo MEC, só há espaço para as críticas à política de privatizações promovida por FHC, sem contrabalançar com os argumentos do governo.

MENSALÃO
Já na apresentação da gestão Lula, há dois livros que não citam o mensalão.
Em "História", uma frase resume o caso, sem nomeá-lo: "Em 2005, há que se destacar, por outro lado, a onda de denúncias de corrupção que atingiu altos dirigentes do PT, inúmeros parlamentares da base do governo no Congresso e alguns ministros do governo federal".
A Folha não conseguiu falar com os autores da obra.
Uma das críticas feitas a Lula é o fato de ter continuado a política econômica do antecessor.
Os livros aprovados pelo MEC no Programa Nacional do Livro Didático são inscritos pelas editoras e avaliados por uma comissão de professores. Hoje, 97% da rede pública usa livros do programa.
São analisados critérios como correção das informações e qualidade pedagógica. As obras aprovadas são resenhadas e reunidas em um guia, que é enviado às escolas públicas para escolha dos professores.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po0105201102.htm
OUTRO LADO
Ministério da Educação diz que adota critérios técnicos para aprovar obras


DE SÃO PAULO

O Ministério da Educação não comentou o tratamento dado a FHC e Lula nos livros.
Em nota, listou os critérios técnicos que usa para aprovar os livros, como o que veta obras que "fizerem doutrinação religiosa ou política".
A autora Joelza Ester Rodrigues, do livro "História em Documento", da editora FTD, afirmou que seu livro é imparcial.
Ela disse que detalhou as alianças com "conservadores" só no caso de FHC porque o contexto do livro deixa pressuposto que os "partidos adversários" aos quais o PT se aliou também eram conservadores.
A Abril Educação, que controla as editoras Ática e Scipione, afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que tem uma "política voltada à pluralidade de seus autores e à independência e excelência editoriais".
O professor Claudino Piletti, coautor do livro "História e Vida Integrada", da editora Ática, concorda que sua obra é mais favorável ao governo Lula. "Não tem o que contestar", afirmou.
Ele disse que é responsável pela parte de história geral da obra e que a história do Brasil ficou a cargo de seu irmão, Nelson Piletti, que está na Itália e não foi encontrado pela reportagem.
À Folha Claudino disse que critica o irmão pela tendência pró-Lula e vai tentar convencê-lo a mudar a obra.
"Não dá para ser objetivo. O professor de história tem suas preferências, coloca sua maneira de pensar. Realmente ele [Nelson] tem esse aspecto, tradicionalmente foi ligado à esquerda e ao PT", afirmou Claudino.
A reportagem não conseguiu encontrar até o encerramento desta edição autores de três obras das duas editoras: "História", "Projeto Radix - História" e "História em Projetos". A assessoria da Abril Educação não forneceu os contatos deles.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po0105201103.htm

Entidade de compositores apura atuação de funcionários em fraude
Laranja foi utilizado para desviar pagamento de direitos autorais


MARCELO BORTOLOTI
DO RIO

A UBC (União Brasileira de Compositores) está investigando o possível envolvimento de funcionários na fraude que levou o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) a pagar R$ 127,8 mil a um suposto compositor cadastrado na entidade como Milton Coitinho dos Santos.
Ontem a Folha revelou que o CPF usado para o cadastro na UBC é de um motorista que vive em Bagé, Rio Grande do Sul, e que se chama, de fato, Milton Coitinho dos Santos. O motorista, de 46 anos, afirmou jamais ter composto uma música, nem ter recebido direitos autorais.
Ele mora em uma casa modesta numa rua de terra na periferia de Bagé com a família e dirige um Gol 1996.
O suposto fraudador se cadastrou na UBC, uma das entidades que formam o Ecad, como autor de trilhas sonoras de dezenas de obras do cinema nacional.
Informou como endereço o hotel Palm Beach Resort, em Las Vegas. O hotel informou que não há nenhum hóspede com este nome.

SEM INQUÉRITO
De acordo com Marisa Gandelman, diretora-executiva da UBC, o golpe foi idealizado por alguém com acesso a informações restritas, como quais filmes tinham fichas técnicas com trilha sonora registradas na UBC.
Além de cadastrar fichas de filmes antigos que ainda não tinham registro, o autor do golpe modificou outras que já existiam, incluindo seu nome como co-autor.
"Queremos saber se existe um cúmplice aqui ou no Ecad", diz Gandelman.
As informações obtidas estão sendo encaminhadas para a Polícia Civil, mas segundo a diretora ainda não foi instaurado inquérito para apurar o crime.
Gandelman afirma que a fraude foi descoberta antes que novo pagamento fosse realizado. Ela também diz que a UBC já ressarciu todos os prejudicados na história.
Na semana passada, a pessoa que usa o nome de Coitinho mandou um e-mail para a UBC. Nele, diz que continua morando nos Estados Unidos e que não irá devolver o dinheiro porque já o gastou numa operação cirúrgica.
"Em suma, ele diz que, se a gente pagou, o problema é nosso. E que devemos abater em créditos futuros, mas ele não tem créditos a receber", diz Gandelman.
O Ecad não retornou o pedido de entrevista até o fechamento desta edição.
Entidade de compositores apura atuação de funcionários em fraude
Laranja foi utilizado para desviar pagamento de direitos autorais


MARCELO BORTOLOTI
DO RIO

A UBC (União Brasileira de Compositores) está investigando o possível envolvimento de funcionários na fraude que levou o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) a pagar R$ 127,8 mil a um suposto compositor cadastrado na entidade como Milton Coitinho dos Santos.
Ontem a Folha revelou que o CPF usado para o cadastro na UBC é de um motorista que vive em Bagé, Rio Grande do Sul, e que se chama, de fato, Milton Coitinho dos Santos. O motorista, de 46 anos, afirmou jamais ter composto uma música, nem ter recebido direitos autorais.
Ele mora em uma casa modesta numa rua de terra na periferia de Bagé com a família e dirige um Gol 1996.
O suposto fraudador se cadastrou na UBC, uma das entidades que formam o Ecad, como autor de trilhas sonoras de dezenas de obras do cinema nacional.
Informou como endereço o hotel Palm Beach Resort, em Las Vegas. O hotel informou que não há nenhum hóspede com este nome.

SEM INQUÉRITO
De acordo com Marisa Gandelman, diretora-executiva da UBC, o golpe foi idealizado por alguém com acesso a informações restritas, como quais filmes tinham fichas técnicas com trilha sonora registradas na UBC.
Além de cadastrar fichas de filmes antigos que ainda não tinham registro, o autor do golpe modificou outras que já existiam, incluindo seu nome como co-autor.
"Queremos saber se existe um cúmplice aqui ou no Ecad", diz Gandelman.
As informações obtidas estão sendo encaminhadas para a Polícia Civil, mas segundo a diretora ainda não foi instaurado inquérito para apurar o crime.
Gandelman afirma que a fraude foi descoberta antes que novo pagamento fosse realizado. Ela também diz que a UBC já ressarciu todos os prejudicados na história.
Na semana passada, a pessoa que usa o nome de Coitinho mandou um e-mail para a UBC. Nele, diz que continua morando nos Estados Unidos e que não irá devolver o dinheiro porque já o gastou numa operação cirúrgica.
"Em suma, ele diz que, se a gente pagou, o problema é nosso. E que devemos abater em créditos futuros, mas ele não tem créditos a receber", diz Gandelman.
O Ecad não retornou o pedido de entrevista até o fechamento desta edição.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po0105201116.htm

PIB da América Latina tem maior alta em 3 décadas
Crescimento de 6,1%, o maior registrado desde o ano de 1980, faz mudar o status de "região esquecida"


Recuperação chinesa, perfil demográfico mais jovem e expansão da classe média influem no boom, dizem analistas

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

"Nem pobre o suficiente para atrair piedade e ajuda, nem perigosa o suficiente para incitar cálculos estratégicos, nem tinha crescido rápido o suficiente até recentemente para acelerar pulsos em salas de reunião."
A descrição (em tradução livre) feita por Michael Reid em "O Continente Esquecido" explica a tendência do Ocidente em negligenciar a América Latina.
Mas esse status de região esquecida parece estar mudando, como Reid, editor de América Latina da revista "The Economist", previu em seu livro, lançado em 2007.
Recentemente, a região tem sido alvo de relatórios de bancos e centros de pesquisa e ganhado cada vez mais espaço na mídia internacional.
O "Financial Times", um dos mais respeitados jornais de finanças do mundo, dedicou cinco páginas na última terça-feira ao comércio exterior na América Latina.
Os olhares de fora voltados para ela se explicam pelo desempenho econômico. Em 2010, houve crescimento de 6,1%, a mais alta taxa de expansão desde 1980, antes da crise da dívida externa.
Outros dados econômicos positivos de 2010 não eram registrados há, pelo menos, 30 anos. A América Latina foi a segunda região que mais cresceu no ano passado, perdendo apenas para a Ásia.
Além disso, na lista dos 15 países do mundo com taxas de expansão do PIB mais altas, havia quatro sul-americanos: Paraguai, Argentina, Uruguai (parceiros do Brasil no Mercosul) e Peru.

CHINA
O forte desempenho econômico do Brasil, maior economia latino-americana, no ano passado contribuiu para a região. Mas, segundo analistas, a China é a principal causa do boom.
"Países da região se beneficiaram da recuperação chinesa, com forte crescimento das exportações de commodities", diz Robert Wood, analista da consultoria Economist Intelligence Unit.
A expansão da classe média é citada como outra fonte de dinamismo. "Isso contribui para o crescimento do consumo doméstico e deve garantir que a demanda por commodities produzidas na América Latina continue forte", avalia Marcos Aguiar, presidente do Boston Consulting Group no Brasil.
O perfil demográfico também é considerado um motor de crescimento. A média de idade na América do Sul é pouco inferior a 30 anos.
Isso significa que a população economicamente ativa deste continente ainda é grande em relação à parcela dos que não trabalham (crianças e idosos), o que deve continuar contribuindo para a expansão econômica.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0105201112.htm

Indústria propõe reciclagem total de vidros no Brasil
Atualmente, país recicla 47% dessas embalagens, média acima da americana (28%), mas abaixo da europeia (62%)


Proposta das empresas do setor é garantir a compra de todo o caco de vidro que for produzido no país

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

A indústria de vidro negocia um acordo que poderá fazer do Brasil uma potência verde, capaz de reciclar de 95% a 100% das embalagens de vidro consumidas no país, acima das médias europeia e americana, de 62% e 28%.
Hoje, o país recicla 47% dessas embalagens, segundo a Abividro (Associação Brasileira da Indústria do Vidro).
Quinto maior mercado consumidor na próxima década, o Brasil tem história e know-how na reciclagem.
Só em catadores, são entre 800 mil e 1 milhão de profissionais, além de uma indústria ainda informal com 40 mil coletoras organizadas de sucata e 700 cooperativas.
Para viabilizar essa ambição, indústrias como a Veral- lia, do grupo francês Saint Gobain, se propõem a comprar todo o caco brasileiro.
"Temos como reciclar todo o vidro brasileiro. O Brasil é um dos países de maior potencial no vidro "verde", que é o futuro das embalagens", diz Jérôme Fessard, presidente mundial da Verallia.
As duas exigências são que o caco tenha volume suficiente para operacionalizar o processo e que o preço desse dejeto seja o mesmo do que pagariam pela matéria-prima virgem; do contrário, teriam de repassar os custos.
Segundo Lucien Belmonte, superintendente da Abividro, o setor foi o primeiro a apresentar um projeto ao governo após a sanção do marco regulatório dos resíduos sólidos, no final de 2010.
No Brasil, as metas são ambiciosas: extinguir os lixões, universalizar a coleta seletiva até 2015 (só 443 de 5.560 cidades têm coleta seletiva) e reciclar 40% do lixo seco até 2031 (hoje, menos de 15% são reciclados).

RESISTÊNCIAS
O problema é fazer o custo da reciclagem caber nesse orçamento sem que ninguém tenha de absorver aumento de preço. Todos os 31 países que prosperaram na reciclagem tiveram custos maiores.
A maior resistência é das envasadoras. Empresas como Nestlé, Unilever, P&G, Coca-Cola e AmBev resistem em pagar suas partes, como fazem nos EUA e na Europa.
Para "reciclar" uma tonelada de caco, a indústria paga hoje R$ 260 -R$ 120 aos catadores, R$ 40 aos beneficiadores (limpeza), R$ 80 ao frete (depende do local), R$ 10 vão para campanhas de educação e R$ 10 para custos administrativos dos gestores dessa logística.
Se processar matéria-prima virgem, o custo fica em R$ 220 (€100). É esse o valor que a indústria se dispõe a pagar. Na Europa, o caco sai entre €60 e €70 a tonelada.
Para fechar a conta, a proposta é que os R$ 40 restantes fiquem para os envasadores e para o governo, sob forma de incentivo fiscal.
"Esse modelo não é só para o vidro; vale para todas as embalagens. O trabalho dos catadores é o mesmo", disse André Vilhena, diretor do Cempre (Compromisso Empresarial com a Reciclagem).
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me0105201113.htm
Processar lixo com segurança será negócio de alto valor agregado
DE SÃO PAULO

Se as empresas brasileiras ainda têm dificuldade em levar seus produtos até os consumidores, agora terão de criar uma logística completa para retirá-los, tempos depois, das casas deles e levá-los de volta à indústria, a chamada logística reversa.
A única experiência dessa no Brasil é o serviço de saneamento, que leva água potável ao consumidor e retira simultaneamente o esgoto.
Uma das últimas leis sancionadas pelo então presidente Lula, o marco regulatório dos resíduos sólidos estabelece responsabilidades e determina que todos os entes da economia -indústria, comércio, consumidor e poder público- cuidem, proporcionalmente ao benefício obtido, dos respectivos dejetos.
A indústria que produz, por exemplo, bebida engarrafada vai ter de se responsabilizar por retirar essa embalagem de circulação.
Mas não fará tudo sozinha: o consumidor terá de participar da coleta seletiva; o comércio terá de disponibilizar pontos de coleta; as prefeituras terão de escoar o lixo e a indústria terá de utilizar esse dejeto como matéria-prima.
E tudo isso deverá ser viável economicamente, funcionando sem subsídios. Se possível, implementado sem multas e punições, mas por meio de acordos setoriais amplos, que envolvam cadeias inteiras da indústria.
Mais do que uma imposição em favor das próximas gerações, o beneficiamento e o processamento de resíduos sólidos serão dos negócios mais rentáveis e de maior valor agregado no futuro.
Retirar, separar, compactar e dar um fim saudável -e legalmente seguro, evitando processos- para resíduos de diferentes toxicidades será um serviço caro, essencial, que empregará profissionais especializados e criará riqueza. Na China, uma das maiores fortunas foi criada por Yan Cheung, "importadora" e recicladora de papelão dos EUA e da Europa.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me0105201114.htm
Pré-sal de Santos terá injeção de US$ 73 bi
Petrobras usará 74% de recursos próprios


DO RIO

A Petrobras vai investir US$ 73 bilhões no pré-sal da Bacia de Santos até 2015. Deste total, 74% -pouco mais de US$ 54 bilhões- serão recursos próprios.
Os investimentos no pré-sal foram definidos em reunião do Conselho de Administração na sexta-feira, quando se discutiu a revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do Polo Pré-sal da Bacia de Santos.
A estatal planeja atingir, daqui a quatro anos, a produção de 613 mil barris diários de petróleo na área. O montante supera em 108 mil barris diários a previsão que constava do plano anterior. Desse total, 60% da produção é própria e 40% pertencem aos parceiros.
Em nota, a Petrobras informou que o "elevado índice de sucesso exploratório", a "expectativa de grandes acumulações com elevada produtividade" e o "petróleo de ótima qualidade" da região têm levado à redução do percentual de investimentos necessários para exploração.
Em 2008, o Plano Diretor destinava 45% de seus investimentos para o pré-sal. No plano de 2010, a participação havia se reduzido para 32%.
A empresa avalia que antes de 2017 a região produzirá 1 milhão de barris diários.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me0105201121.htm
São Paulo perde seu último bonde
Veículo que circulava pelo Brás, no centro, foi levado para Santos onde está sendo restaurado e vai permanecer


Na capital, sem ser cuidado, o bonde 38 virou abrigo de usuários de crack, além de passar por cheias e furtos

CRISTINA MORENO DE CASTRO
DE SÃO PAULO

Bancos originais de 1917, feitos, como as colunas, do resistente pinho de Riga. Teto e assoalho da rara cabreúva. Detalhes em bronze, cobre e latão e pintura original de tom verde-musgo.
Eis o bonde prefixo 38, de 94 anos, o último a circular na cidade de São Paulo.
No final de fevereiro, ele voltou a Santos para ser restaurado e passar a funcionar em sua cidade natal. Lá, ele circulou entre 1917, vindo da Escócia, e 1971.
Na capital, fazia o pequeno trecho entre o Memorial do Imigrante, na zona leste, e a estação de metrô Bresser-Mooca, a 500 metros dali.
Nada a ver com os longos trajetos que os bondes da cidade faziam entre 1900 e 1968, movidos a eletricidade -o 38 tinha sido transplantado com um motor do carro Tempra na primeira restauração por que passou.
Nos últimos dois anos, depois que um problema mecânico o imobilizou e sua proprietária, a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, não conseguiu verba para a manutenção, o tempo passou a ser implacável.
Depois de proporcionar passeios entre 1998 e 2008, viu-se como abrigo de usuários de crack, virou vítima de enchentes constantes, teve baterias e outras peças de pouco valor furtadas, viu cerca de um terço de sua madeira original se depredar.
"Quer preservar um bem histórico? Põe pra funcionar", justifica o diretor-administrativo da ABPF-SP, Carlos Alberto Rollo.
Em Santos, o bonde ganhou um banho de loja, para ser oficialmente apresentado ao povo em um desfile no próximo sábado, que vai comemorar um milhão de passageiros desde que a cidade decidiu criar um museu vivo de bondes, em 2000.
Ele terá de andar rebocado em outro dos cinco bondes que funcionam na cidade, até receber um motor e voltar a funcionar, com 42 lugares. Está cedido em comodato por dez anos, renováveis.
Em seu lugar, em São Paulo, a Secretaria de Estado da Cultura cogita colocar um bonde como "elemento cenográfico" quando o Memorial voltar a funcionar.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0105201107.htm

Fomos tolos, eles poderiam estar por aí rodando, mas só nos resta a saudade


RALPH GIESBRECHT
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há cerca de um mês, o bonde que estava encostado sobre os trilhos da rua Visconde de Parnaíba, à frente da antiga Hospedaria dos Imigrantes, foi colocado sobre um caminhão e levado dali para sempre.
Ele havia vindo de Santos, onde teve a mesma função até 1971, quando foi retirado de circulação.
Porém, ele nada tinha a ver com a cidade de São Paulo, que teve seus bondes elétricos como transporte urbano por 68 anos, de 1900 a 1968. Estes bondes da Light e depois da CMTC que circularam aqui, foram quase todos desmontados após seu fim.
Alguns poucos foram doados. Um deles está no Clube Pinheiros, outro em Bertioga, no SESC, e outro no museu do Transporte Coletivo na avenida Cruzeiro do Sul, todos parados e maltratados.
Finalmente e felizmente, alguém conseguiu devolvê-lo à cidade praiana.
Hoje, está sendo restaurado para rodar com poucos irmãos sobreviventes pelo centro da cidade.
Cidade plana, Santos sempre admirou os bondes, mais ainda do que São Paulo. Sua retirada em 1971 foi pressionada pelo lobby rodoviário.
Em São Paulo, a última linha, praça João Mendes-Santo Amaro (zona sul), havia terminado melancolicamente, no ano de 1968.
Eu, ainda criança e adolescente, andei nos bondes de São Paulo, que tinha os "camarões" (fechados) e os abertos, onde o cobrador andava pelos estribos com as notas de cruzeiros dobradas entre os dedos das mãos.
Os bondes foram uma tradição forçada a acabar depois de uma campanha de morte, onde se os culpavam por tudo de ruim no trânsito.
Injustiça e morte de algo que, ao contrário do que se apregoava então, nada tinha de obsoleto. Poderiam estar rodando até hoje, com adaptações e modernizações, como ocorre em inúmeras cidades europeias.
Como fomos tolos. No litoral, a cidade litorânea de Santos os colocou de volta.
Nós nem isso: somente ficamos com a saudade.

RALPH GIESBRECHT é pesquisador ferroviário e da história de São Paulo e edita o site estacoesferroviarias.com.br.

Frota na cidade chegou a ser de 472 veículos circulando


DE SÃO PAULO

Além do bonde 38, que funcionou no Memorial do Imigrante, não se sabe de outros bondes mantidos na cidade para fins de turismo.
"Infelizmente não pensaram no potencial turístico. Essa desativação radical deixou um vazio", lamenta Henrique Di Santoro, 62, administrador do Museu dos Transportes Públicos da prefeitura de São Paulo.
Ele defende a criação de um circuito de bondes nos locais históricos do centro de São Paulo, a exemplo do que ocorre no bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro. "Seria uma forma de deixar uma lembrança inesquecível daqueles tempos."
No museu é possível resgatar um pouco dessas memórias. Ali há, por exemplo, uma fotografia do primeiro bonde que circulou em São Paulo, em 1872, usando tração animal.
E outra da multidão atraída pelo bonde elétrico de 1900, apesar do temor geral de que poderia dar choque.
A frota de bondes da capital chegou a ter 472 veículos. Eles cruzavam toda a cidade a 60 km/h.
A viagem final ocorreu em 27 de março de 1968. (CMC)

Dengue leva petistas a convidar secretário

Morte de adolescente preocupa vereadores, que querem falar com secretário interino
Notícia publicada na edição de 30/04/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 6 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.
Wilson Gonçalves Júnior
      wilson.junior@jcruzeiro.com.br
O secretário interino da Saúde, Ademir Watanabe, será convidado pela bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) para dar explicações na Câmara de Vereadores de Sorocaba sobre a situação da dengue no município. O pedido será formalizado ao líder do Governo, José Francisco Martinez (PSDB), durante a sessão ordinária de terça-feira. A situação da doença no município, que já era crítica diante dos 895 casos registrados, chegou ao extremo com a confirmação da primeira morte, uma jovem de 17 anos moradora do Jardim Iporanga 2.

O petista Izídio de Brito disse que o convite será repassado ao líder da bancada governista na terça-feira, porém se o secretário se esquivar de prestar os esclarecimentos no plenário da Câmara, o partido vai correr atrás das sete assinaturas necessárias para convocá-lo. A ideia do convite surgiu após os dois vereadores do partido, Brito e Francisco França, consultarem o presidente do partido na cidade, José Carlos Triniti.

De acordo com Izídio de Brito, uma das medidas para tentar sanar o problema da dengue seria convocar imediatamente agentes da vigilância epidemiológica para o trabalho, já que apenas dois foram nomeados no último concurso público realizado pela Prefeitura de Sorocaba. Para ele, essas pessoas poderiam orientar aos moradores dos bairros para atuarem em conjunto no combate aos pontos de proliferação dos focos do mosquito. "Não adianta convocar uma guerra, se não existe exército."

Outra crítica do vereador é a quantidade de pneus espalhados pela cidade, principalmente em terrenos baldios situados nos bairros. Segundo Brito, a campanha municipal de combate à dengue deve ser preventiva e realizada permanentemente durante todo ano. "Assim como no caso das enchentes, o trabalho tem que ser feito antes do período de calor." Na próxima segunda-feira, a Secretaria de Saúde (SES) vai divulgar, no final da tarde, o novo balanço da doença em Sorocaba.

Audiência
Uma audiência pública com o tema "Dengue - Avanço da doença, providências tomadas e envolvimento de toda sociedade para superar o problema", a pedido do vereador Claudemir Justi (PSDB), será realizada às 19h30 na segunda-feira (dia 11), na Câmara de Sorocaba.
Imposto em energia pode diminuir

Ministro do Desenvolvimento diz que carga tributária elevada no setor elétrico tira a competitividade da indústria brasileira 

    Fernando Dantas, de O Estado de S.Paulo
    RIO - O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, disse na sexta-feira, 29, no Fórum Econômico Mundial do Rio que o governo prepara medidas para baratear o custo da energia no Brasil, que poderiam estar ligadas à carga tributária que incide sobre o setor. Para ele, junto com a sobrevalorização do real, o alto preço da energia é um problema para a competitividade da indústria brasileira.
    "A nossa energia é uma das mais caras do mundo, se não for a mais cara", disse Pimentel, durante um debate com os governadores de São Paulo e do Rio de Janeiro, Geraldo Alckmin e Sérgio Cabral. Segundo o ministro, metade do custo da energia no Brasil está ligada à tributação.
    O Fórum Mundial no Rio encerrou-se ontem, e houve certa decepção com o cancelamento a da participação da presidente Dilma Rousseff.
    Pimentel deixou claro que a iniciativa de barateamento da energia não envolve a "leviandade" de cortes de impostos que causassem grandes problemas para as finanças estaduais e da União. Ele acrescentou que "muito brevemente teremos uma solução", e explicou que a iniciativa vai envolver um acerto com os governadores.
    Alckmin e Cabral apoiaram a proposta de Pimentel de baratear a energia, mas alertaram para a necessidade de evitar prejuízos para Estados e municípios. "O ideal é que viesse no bojo da reforma tributária", disse Alckmin. Cabral afirmou que era preciso evitar perdas como as da Lei Kandir, de estímulo às exportações, que reduziu alíquotas de ICMS, imposto estadual.
    Pimentel não quis revelar nenhum detalhe adicional do projeto de barateamento da energia, mas frisou que Dilma, ex-ministra das Minas e Energia, não só estava pessoalmente empenhada, mas era especialmente capacitada para resolver o problema. Perguntado por um jornalista se a iniciativa envolveria o escalonamento dos impostos, ele disse apenas que "é uma boa ideia".
    Segundo Franklin Feder, presidente da Alcoa, fabricante de alumínio, no Brasil, o preço da energia do contrato da Alcoa com a Eletronorte, cerca de US$ 70 por megawatt/hora, é o dobro da média mundial (são 25 fábricas no planeta). "É o mais caro", disse.
    Para Feder, "no caso do alumínio, se não houver alguma solução, o Brasil vai virar exportador de bauxita, porque não vai dar mais para processar a bauxita em alumínio".
    Mas o executivo parece otimista com a iniciativa do governo nessa área. Ele discutiu a questão com Pimentel há algumas semanas. "O governo federal, e particularmente a presidente Dilma, estão muito conscientes, e, se tem alguém no Brasil que conhece esse problema, é a presidente Dilma", observou.
    Segundo Feder, uma abordagem puramente tributária não resolveria a questão do preço da energia, que envolve muitos aspectos, como estímulos à expansão da geração, menos burocracia e mais eficiência dos órgãos de controle. Ele citou também a possibilidade de produtores eletrointensivos, como fabricantes de alumínio, siderúrgicas e indústria química, terem tarifas diferenciadas, mais baratas.
    "Não há solução única, é preciso política industrial, e definir se o Brasil quer indústria de alumínio, se quer siderurgia, se vamos processar matérias-primas."
    Nucleares. O futuro da geração de energia no Brasil pode ser a construção de usinas nucleares, mas com a abundância de matrizes energéticas, a prioridade deve ser esgotar os demais recursos disponíveis, como hidrelétricas e parques eólicos. A tese foi defendida ontem pelo presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Mauricio Tolmasquim, num fórum sobre energia do Fórum Econômico Mundial.
    "É provável que a energia nuclear seja a melhor opção no futuro porque o Brasil tem uma das maiores reservas de urânio do mundo. Além disso, é um dos poucos países que detêm a tecnologia para o enriquecimento. Mas o País pode pensar no programa nuclear com tranquilidade, sem afobamento", afirmou, admitindo que o acidente nuclear no Japão levará a aperfeiçoamentos do plano nuclear brasileiro, mas sem descartar novas usinas, como Angra 3. (Colaboraram Luciana Nunes Leal, Daniela Amorim e Alexandre Rodrigues)
    Menos álcool na gasolina evita reajuste

    Mercado acha que Petrobrás deve aumentar gasolina em maio e a mudança na mistura impediria que a alta chegasse aos consumidores

      Kelly Lima e Gustavo Porto, de O Estado de S.Paulo
      RIBEIRÃO PRETO/RIO - A redução do porcentual de etanol na gasolina pode ser a saída que o governo procura para reduzir o impacto da alta dos combustíveis na inflação. Também anularia o efeito de um eventual reajuste da Petrobrás no preço de refinaria, que o mercado cogita para maio.
      Ontem, o ministro de Agricultura, Wagner Rossi, admitiu que o governo pode reduzir a mistura dos atuais 25% para 18%, seguindo o novo piso estabelecido por Medida Provisória editada pela presidente Dilma Rousseff anteontem. "Tem sinalização, sim e pode ser que haja a redução de mistura", afirmou Rossi.
      Segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), se o governo autorizasse hoje a redução, a gasolina C (já misturada) chegaria às distribuidoras com um desconto de 5,1%. Caso a Petrobrás fosse autorizada a reajustar a gasolina para zerar a defasagem com o mercado internacional (em torno de 25%), este desconto, ainda segundo cálculos do CBIE, cairia para 2,8%.
      A redução, no entanto, não chegaria ao consumidor. A tendência é de desaparecesse depois do acréscimo de impostos (57%), mais margens de distribuição e revenda. Desta forma, a redução na mistura funcionaria como um colchão para absorver o impacto do reajuste da Petrobrás, da mesma forma que o governo fez no passado ao mexer na Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico (Cide).
      Quando a Petrobrás elevou os preços em 2008, a Cide foi reduzida, evitando que a oscilação chegasse ao consumidor final. Efeito semelhante, de forma inversa, ocorreu em 2009, quando o preço nas refinarias caiu. Agora, além de evitar o repasse ao consumidor, a alteração na margem do etanol descarta uma redução na arrecadação tributária, já que não haveria necessidade de mexer na Cide.
      A estratégia de redução da mistura chegou a ser rechaçada por vários especialistas do setor que argumentam que a Petrobrás teria que aumentar sobremaneira a importação de gasolina para suprir esta demanda.
      Distribuidores. Para o presidente do Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), Alísio Vaz, a medida apenas serve para alertar as usinas e frear a alta neste início de safra, até que o etanol que começou a ser produzido chegue ao mercado. Ontem pós 13 altas semanais seguidas, o anidro caiu12,62% e o hidratado recuou 8,20% segundo apurou o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq).
      Segundo o diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, a companhia trabalha com um prazo médio entre a última semana de maio e início de junho para que seja possível perceber a volta do consumidor da gasolina para o etanol. "Vai depender muito de como o preço vai se comportar neste início de safra, qual vai ser a oferta que chegará ao mercado e se o consumidor vai se sentir seguro e disposto para voltar para o etanol."
      Costa frisou que, caso a migração não ocorra na medida esperada, a "Petrobrás estará pronta para importar gasolina novamente." Para ele, "isso não é nenhum problema, porque as quantias são pequenas", minimizou o diretor. A estatal importou uma carga total de 1,5 milhão de barris de gasolina em abril e já encomendou mais um milhão para maio, volume equivalente a cerca de cinco dias do consumo nacional.
      A necessidade de importação se deve à incapacidade das refinarias nacionais de aumentarem seu ritmo de processamento, já muito próximo do limite. O diretor descartou que haja hoje qualquer ponto de desabastecimento no País.
      Política

      Novo presidente do PT ressalta 'falência de ideias' da oposição

      Por: Agência Brasil
      Publicado em 30/04/2011, 17:40
      Última atualização às 17:42
      Novo presidente do PT ressalta 'falência de ideias' da oposição
      Rui Falcão, presidente do PT, após reunião do Diretório Nacional, em Brasília (Foto: ©ABr)
      Brasília – O Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) aprovou nesta sábado (30) resolução em que ressalta a fragmentação dos partidos de oposição no país. Nomeado na sexta (29) presidente da sigla, Rui Falcão disse que os partidos que fazem oposição ao governo da presidenta Dilma Rousseff perderam sua perspectiva de projeto por causa da "falência de ideias". Segundo ele, ideias "conservadoras e neoliberais".
        "Existe fragmentação dos partidos de oposição", afirmou Falcão, em entrevista concedida no início da tarde, após reunião do diretório em Brasília. "A oposição parece ter perdido a sua perspectiva de projeto, muito devido à falência de algumas das ideias que defendiam e que entraram em crise no plano internacional, ideias conservadoras, neoliberais."
      Por dois dias, o Diretório Nacional do PT discutiu o calendário anual de encontros setoriais do partido e a preparação para eleições municipais de 2012. Para Falcão, a popularidade do partido é cada vez maior, depois de dois governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do início da gestão Dilma.
      "O amplo apoio resulta da grande confiança iniciada pelo [governo] Lula e pelas primeiras ações do atual governo, que vêm reforçando as bases do desenvolvimento econômico com justiça social", disse Falcão, que foi eleito nessa sexta-feira novo presidente do PT até 2013, em substituição a José Eduardo Dutra, que renunciou ao cargo por motivo de saúde.
      Ontem, o Diretório Nacional do PT aprovou a refiliação do ex-tesoureiro Delúbio Soares. Delúbio deixou o partido em 2005 em decorrência de acusações envolvendo o esquema de compra de votos no Congresso Nacional, conhecido como mensalão..
      Falcão negou que os petistas tenham concedido anistia a Delúbio.  "Não é anistia, os erros estão lá, não foram extintos. Mas não há pena perpétua no PT. Ele sustentou a estrela e ideias do PT, mas nada depôs contra ele nesse período que dura quase seis anos", disse.

      Reforma

      Na reunião deste sábado, o partido definiu em resolução os temas que defende para a reforma política. O documento traz cinco pontos: a manutenção do voto direto proporcional, o financiamento público exclusivo em campanha, aa lista fechada de forma democrática, a fidelidade partidária, o estímulo e a remoção de obstáculos que impedem o exercício da participação popular de forma intensa, como referendos ou plebiscitos.
      No texto, o PT defende a preservação de alguns tópicos, que chama de "virtudes" do atual modelo, como "o sistema de proporcionalidade nas eleições parlamentares, o voto obrigatório e ausência de cláusula de barreira".
      Sudeste perde fatia no consumo nacional

      Maior mobilidade social da classe D para a C e da C para B em outras regiões do País provoca migração das compras, aponta estudo

        Márcia De Chiara - O Estado de S.Paulo
        O consumo das famílias brasileiras, que envolve desde gastos com alimentos, despesas com refeições, com artigos de vestuário e até a prestação da casa própria, está se desconcentrando. O Sudeste, o principal polo econômico, deve perder neste ano R$ 12 bilhões de participação no bolo total de compras do País, projetado em R$ 2,5 trilhões para 2011.
        Os dados são do estudo IPC Maps, feito pela IPC Marketing Editora, e obtido com exclusividade pelo Estado. No estudo consta o Índice de Potencial de Consumo (IPC) para os 5.565 municípios brasileiros.
        Essa bolada que seria gasta com compras no Sudeste deve migrar para outras regiões, onde o movimento de ascensão social para as classes B e C tem sido mais intenso, como no Centro-Oeste. Nessa região, o consumo das famílias deve aumentar R$ 4,6 bilhões este ano, seguido pelo Sul, com um acréscimo de R$ 4,1 bilhões, e as Regiões Norte e Nordeste com aumentos de R$ 2,4 bilhões e de R$ 812 milhões, respectivamente.
        "O Sudeste será a única região com perda de participação no consumo nacional em 2011, apesar de responder por 52,2% do total gasto com compras", diz Marcos Pazzini, responsável pelo estudo. Ele projetou o potencial de consumo dos brasileiros, que deve crescer em 2011 quase 12% ou R$ 250 bilhões em relação a 2010, com base nas contas nacionais e na estrutura de gastos da população medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados foram cruzados com informações paralelas, de outras fontes de pesquisa, levando-se em conta que o Produto Interno Bruto do País aumente 4,3% este ano.
        Na análise de Pazzini, o avanço do potencial de consumo das demais regiões em relação à perda do Sudeste é explicado pela maior mobilidade social nessas outras regiões. Um número maior de brasileiros ascendeu da classe D para a C e da C para B, de 2010 para este ano, nas Regiões Nordeste, Norte, Centro-Oeste e Sul, comparativamente à Região Sudeste. E isso aumentou o potencial de compras nessas regiões.
        Entre 2010 e 2011, o potencial de consumo das classes B e C dos que vivem no Sudeste cresceu 1,2 ponto porcentual, abaixo da média do País (1,7 ponto porcentual). Nas Regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, os acréscimos foram de 3,6 pontos porcentuais; 2,2 e 2 pontos porcentuais, respectivamente, de 2010 para 2011.
        Migração. Prestadores de serviços e empresas do varejo já perceberam a mudança que vem ocorrendo no mapa do consumo.
        Metade das 27 franquias que a Giraffas, quarta maior rede de restaurantes do País, deve inaugurar até o fim deste ano estão localizadas fora dos grandes centros da Região Sudeste, entre Rio de Janeiro e São Paulo, conta o sócio e diretor executivo da empresa, Cláudio Miccieli.
        A rede está avançando para cidades do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e interior do Estado de São Paulo. Ela vai abrir restaurantes em cidades como Imperatriz, no Maranhão; Gurupi, Tocantins; Trindade e Cidade Ocidental, em Goiás. Nessa lista de inaugurações previstas até o fim do ano e que vão absorver investimentos de R$ 19 milhões, constam unidades em Fortaleza (CE), Manaus (AM), Palmas (TO), Campo Grande (MT) e Campina Grande (PB). Em São Paulo e no Rio de Janeiro, estão cidades do interior, como Campo dos Goytacazes (RJ), Indaiatuba (SP)e Barretos (SP).
        "Até o fim do ano, vamos estar no Acre e no Amapá", promete o executivo, que revela ter, além dessas, mais 12 franquias em fase de negociação. Na análise do empresário, o movimento de desconcentração do consumo foi desencadeado pela estabilização da economia, que levou investimentos de vários setores para as cidades do interior do País.
        Com melhora no nível de emprego e mais renda no bolso, diz ele, a mobilidade social das classes de menor renda para as de maior poder aquisitivo ganhou força. E, neste caso, impulsionou não apenas a compra de bens, mas também despesas com alimentação fora de casa.
        Estreia. Na quinta-feira, a Scala, fabricante de lingerie sem costura, que pertence ao Grupo Scalina, também dono da marca Trifil, abre a primeira loja em Rio Verde, em Goiás, cidade na qual a economia está crescendo aceleradamente por causa do agronegócio. É a 102.ª franquia da rede, que está em todos os Estados, menos no Acre e em Roraima.
        Victor Serra, presidente do grupo, conta que, cinco anos atrás, o Grupo decidiu mapear o potencial de consumo do mercado brasileiro e optou por desconcentrar a sua expansão. Hoje, das 102 lojas, 23% delas estão localizadas no eixo Rio/São Paulo.
        E pelos planos da companhia, essa estratégia se mantém. "Neste ano, o grupo deve abrir entre 25 e 30 franquias da marca Scala e 70% das lojas estarão fora do eixo Rio/São Paulo", conta.
        Entre os focos de atuação, Serra diz que, em primeiro lugar, estão as cidades da Região Nordeste, seguidas pelos municípios do interior de São Paulo e do Centro-Oeste. "No interior de São Paulo, uma das nossas prioridades é Sorocaba."

        Tucanos esconderam latrocínios em SP. Depois de comemorar !

        Olha o mate geladinho, quem vai ? (Nem ele acredita !)
        Sugestão de amiga navegante Cardoso:


        “Ao contrário de dado oficial, latrocinios cresceram na cidade (de São Paulo).”


        “Sem contabilizar sete casos, governo (tucano há dezesseis anos – PHA) divulgou que capital paulista teve uma queda de 12% de roubo seguido de morte”

        E, atenção, pasme, amigo navegante:

        “Em um dos casos, morte de vítima é relatada no boletim de ocorrência, mas só aparece como roubo em estatística.”

        Este Conversa Afiada já observou que os tucanos (há dezesseis anos no poder, em São Paulo) tinham celebrado os números de latrocínios: que bom !

        Também já observou que o responsável pelas estatísticas da polícia de São Paulo vendia números e informações aos construtores de imóveis e omitia dos compradores de imóveis.

        É por isso que na Secretaria de Segurança do Rio ninguém, nem o vendedor de mate gelado, acredita nos números da segurança de São Paulo.


        Paulo Henrique Amorim


        (*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que avacalha o Presidente Lula por causa de um  comercial de TV; que publica artigo sórdido de ex-militante do PT; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.
        http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/04/30/tucanos-esconderam-latrocinios-em-sp-depois-de-comemorar/

        Eldorado dos Carajás: A escola é orgulho, para romper com passado de exclusão

        Há quinze anos, depois do massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, 690 famílias foram assentadas num latifúndio que tinha, então, 37 mil hectares. Muitos assentados eram analfabetos. Hoje, um dos orgulhos do “17 de Abril” é a escola, que permite às novas gerações romper com a história de exclusão das famílias. No terceiro retrato da vida no assentamento, que visitou recentemente, a repórter Manuela Azenha fala sobre educação:
        Altamiro da Silva e sua esposa voltaram a estudar “depois de velhos”, como ele mesmo diz. Vivem no assentamento 17 de abril. Altamiro veio de Goiás para trabalhar no garimpo do sul do Pará, mas chegou tarde para a extração manual, atividade já enfraquecida, então. Foi quando decidiu entrar no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Isso foi há 16 anos.
        Ele e a esposa, ambos com mais de 40 anos de idade, estão matriculados agora no ensino fundamental pelo EJA, o programa federal de alfabetização voltado para jovens e adultos.  “Essa camisa aqui é o uniforme da escola. Está vendo o meu nome?”, mostra Altamiro.
        A filha deles, Gislane, tem 18 anos. A primeira sala de aula em que entrou foi na escola Oziel Alves Pereira, orgulho do assentamento, onde estudou até o terceiro colegial. Os atuais professores do ensino fundamental e muitos do ensino médio se formaram e hoje dão aulas na Oziel.
        Ela atende a mais de mil alunos em três turnos, do maternal ao terceiro colegial. A escola leva o nome de um jovem militante que, já no hospital, foi espancado até a morte, no dia do massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996.
        Hoje, Gislane é professora e trabalha no programa estadual de alfabetização “Sim, eu posso”, também voltado para jovens e adultos. O programa tem 14 professores no assentamento, cada um com cerca de 10 alunos, número máximo por turma. As professoras dão aula em suas próprias casas, mas se for preciso vão até onde os alunos vivem. Gislane viu seis de seus alunos serem certificados este ano.
        Ao longo de mais de uma década de militância, o pai dela, Altamiro, ocupou inúmeros cargos dentro do movimento e hoje é fiscal da Associação de Produção e Comercialização dos Trabalhadores Rurais do Assentamento 17 de Abril (ASPCTRA)
        O lote de terra que ele ocupa é tido como exemplo de plantio orgânico bem sucedido. Altamiro orgulha-se particularmente do cultivo de cacau, que em 2010 rendeu duas toneladas e meia – mais do que qualquer outro produtor do município.
        Muitos dos assentados passam por um processo de formação do MST. Mas, para Altamiro, foi na experiência cotidiana que aprendeu o que sabe: “Já vi muita miséria. Aprendi simplesmente porque colono não pode errar, se não a família toda sofre. É como na escola: quem tira nota baixa não passa de ano”.
        Altamiro gosta de se explicar fazendo comparações. Em relação à terra, parece ser ela sua suprema companheira: “ É igual com mulher: no começo você fica deslumbrado, mas depois que se acostuma com ela, já quer trocar. Não pode ser assim, tem que tratar bem a terra, cuidar dela, que a relação dura para sempre”. Quando perguntado se aplica agrotóxicos em seu lote, responde com ternura: “Imagina, você ter uma planta bem linda e alegre, depois você vai jogar veneno nela?”
        Segundo Luis Lima, presidente da ASPCTRA, a escola adota o método Paulo Freire, que associa a aprendizagem às questões concretas do cotidiano. Os programas para adultos são sempre divididos em módulos: o estudante passa 45 dias na escola e, em seguida, 60 dias no trabalho prático do campo, para que não se desligue de sua realidade.
        Diversas citações de Freire estão pintadas nas paredes da Oziel Alves Pereira.
        A escola é reconhecida como uma das melhores da região. É uma construção espaçosa e arejada, de 12 salas de aula equipadas com ar-condicionado, auditório para 100 pessoas, laboratório de química, salas de informática, de vídeo e biblioteca. Os equipamentos doados ao laboratório de química ainda estão encaixotados, já que os professores do próprio assentamento ainda não estão capacitados para utilizá-los: “Já pedimos à Universidade Federal do Pará (UFPA) que mande alguém para dar assistência aos professores. Tem produto químico que já está até vencido”, explica a coordenadora Risângela Almeida.
        O objetivo da escola é montar um programa pedagógico que contemple a realidade do campo. Na biblioteca estão guardados dezenas de livros didáticos que foram doados pela Secretaria Estadual de Educação mas que, segundo a coordenadora, são inadequados para qualquer escola fora do Sudeste: “Os jovens estão saindo do campo para trabalhar em qualquer subemprego na Vale do Rio Doce. Queremos formá-los para que criem vínculos com o campo e com sua história”.
        Risângela vivia em Brasília quando foi visitar a irmã no assentamento e decidiu que queria viver ali. “No começo é difícil, mas depois a gente vai pegando amor pelas coisas daqui, pelas pessoas. É assim que tem de ser”. Ela já tinha prestado o vestibular várias vezes quando conseguiu entrar no curso de Letras da UFPA através de um convênio entre a universidade e o MST. Durante o dia assistia às aulas e, à tarde, voltava para o assentamento.
        Risângela reclama da falta de autonomia em relação à Secretaria de Educação, que é quem financiou a construção da escola. Os trinta professores são selecionados pelo município de Eldorado dos Carajás: “Conseguimos ao menos que a Secretaria desse prioridade a professores do assentamento. Não queremos gente de fora”.
        A coordenadora ressalta a importância do currículo de português. Acredita que os alunos devam aprender a ler e a escrever com fluência antes de estudarem a gramática: “Temos de dar o que eles realmente precisam. Discutimos e interpretamos muitos textos na sala de aula”. Uma vez por ano, é organizada a “Noite com poesias”. Na quadra da escola, todos os alunos, do maternal ao colegial, declamam poesias de autoria própria ou de poetas consagrados, como Cecília Meirelles, Vinícius de Morais e até Charles Trocate, militante do MST e autor de três livros de poesia.
        Um exemplo sempre citado no assentamento é o de Leonildo, que entrou na escola sem saber ler ou escrever. Agora, com mais de sessenta anos, está na oitava série. Durante a semana de atividades para relembrar o massacre de 17 de abril, ele subiu no palanque da praça central do assentamento para declamar um poema em formato de cordel que ele mesmo escreveu.
        Charles Trocate entrou no MST aos 16 anos de idade. Passou nove meses em um programa de estudos. “É aí que se consolidaram em mim preocupações mais gerais, o hábito da leitura, a profunda fé no trabalho coletivo e as primeiras formulações poéticas”, conta.
        Hoje ele é da coordenação nacional do movimento. Um poeta reconhecido: “Falam que meus poemas são difíceis, mas eu não sei escrever de outro jeito. Com 16 anos entrei para a escola do movimento e ficava lendo Marx, Gramsci… Imagina só o jeito que eu saía falando das aulas!”, explica. A poesia do uruguaio Mario Benedetti foi uma de suas primeiras leituras. “O poeta se constrói ao construir. Não fica satisfeito até conseguir criar uma grande metáfora. Lia [Walt] Whitman, que me ensinou o poema-conceito; Drummond, que é a base da nossa educação sentimental; Maiakovski, que fala do trabalho na arte”.  Tanto aprecia Maiakovski que está aprendendo russo para traduzir um de seus poemas para o português.
        Expulso da escola depois de um ano, Charles nunca mais retornou ao sistema de ensino convencional.  Quando menino, trabalhou no garimpo por dois anos. Como não era permitida a entrada de mulheres, nem de bebida, os garimpeiros iam à chamada “Cidade do Trinta”, atual Curianópolis, onde Charles passou a vender cuscuz às prostitutas na porta de boates. Trabalhou de bananeiro a engraxate. Foi alfabetizado pela irmã mais velha, que o ensinava a ler placas: “A gente morava na beira do rio, então descíamos para lavar as placas e aprender as letras. Até hoje tenho mania de ler todas as placas que vejo”.
        Charles já publicou três livros de poesia pela editora Expressão Popular. No ano passado, foi convidado para fazer parte do Academia de Letras do Sul e Sudeste paraense: “Houve quem se opôs à minha aceitação porque sou do MST”.
        Apreciador e estudioso de música, ele também coordena um grupo composto por jovens assentados e inspira-se em compositores consagrados: “Minha mãe colocou o disco do Bob Dylan para tocar quando eu tinha dois anos de idade. Desde então, sou marxista e poeta”, conta aos risos.
        Atualmente, está escrevendo um texto sobre a relação entre a arte e o movimento político: “Não acredito em arte camponesa porque não acredito na arte operária. Arte é catarse, emancipa o homem e não pode estar presa a uma classe social”, defende Charles.
         
        30/04/2011 21:17

        Violência tira famílias da calçada

        Criminalidade e sensação de insegurança tranca rio-pretenses dentro de casa e põe fim à conversa de fim de tarde com vizinhos na calçada

         
        Milena Aurea/Agência BOM DIA Aposentada Pascoalina Candida Batista Berti no portão da casa onde mora há 47 anos Aposentada Pascoalina Candida Batista Berti no portão da casa onde mora há 47 anos
        Nany Fadil
        Agência BOM DIA

        As peripécias das pescarias, os causos para dominar aquele dourado de quase 15 quilos, o que aconteceu durante o dia. O bom papo de final de dia, sentado na calçada com vizinhos, vendo a criançada brincar  na rua está apenas na memória de Benedicto  Sant’Anna, 84 anos, o seu Ditinho.

        Ele que foi o segundo morador da Vila Imperial e viu o bairro crescer e se tornar uma das áreas mais movimentadas da cidade.
        Sente falta da tranquilidade e segurança de 20, 30, 40 anos atrás. “Criei meus filhos livres, não convivíamos com o medo das drogas e nem de bandidos.”
        Hoje vê que os vizinhos são obrigados a acompanhar diariamente os filhos até a escola Professor Oscar Pires, que fica duas quadras de onde mora. “Antigamente, as crianças vinham caminhando para estudar. Agora os pais precisam levar na escola, mesmo que fique a uma quadra de distância”.
        Ditinho, que  tinha hábito de criar galinhas no quintal, foi obrigado a trocar uma pequena cerca no quintal por uma grande alta e ainda colocar outra  que divide a área da frente da casa. As duas grades são  mantidas trancadas com  cadeados.

        A violência em Rio Preto e mais a sensação de insegurança mudou o comportamento da população e tirou das calçadas os moradores, que se trancam dentro de suas casas.
        As atitude que Ditinho se viu obrigado a tomar com o tempo para escapar das  ações de criminosos é apontada pelo comandante do CPI-5 (Comando de Policiamento do Interior) de Rio Preto, coronel Antonio César Cardoso, como uma medida de segurança primária.
        “A população deve colaborar com atitudes seguras para evitar alguns crimes.” Estatísticas divulgadas no  dia 15 de abril pela SSP (Secretaria de Segurança Pública) do estado mostraram que de janeiro a março o  número de furtos e roubos aumentou em Rio Preto.  Foram 2.174 furtos nos três primeiros meses deste ano  e 2.023 no mesmo período do ano passado. Nos casos de roubos, o aumento foi de 372, em 2010, para 449 neste ano.
        Apesar de ter apenas 35 anos, o empresário Nelson Bifano Júnior, também nota  a diferença entre a infância dele e a dos  filhos. Ele mora no bairro Mançor Daud desde que nasceu. Quando pequeno ia sozinho à escola, que fica a sete quadras de onde mora. Os filhos são levados de carro.  “A gente não pode descuidar. A criminalidade aumentou muito por causa do consumo de drogas e seria uma imprudência expor meus filhos a riscos.”
        Portão fechado depois das 18h
        Crimes como o que aconteceu com a técnica em radiologia, de 48 anos, que levou um tiro de um assaltante, no dia 11, ou do autônomo Luíz José da Silva, 66, que foi morto, no dia 21, depois que  bandidos renderam a filha dele na garagem de casa, assustam e criam novas formas de lidar com a violência. A aposentada Pascoalina Candida Batista Berti, 70 anos, mantém a grade do portão de casa fechada com cadeado, que só é aberto até as 18h. Depois disso, nem o lixo coloca na rua.
        Ela mora na mesma casa no bairro Boa Vista, um dos mais antigos  de Rio Preto, há 47 anos, e diz que não se sente segura mais quando começa o anoitecer. “Não abro o portão para ninguém que não conheço [inclusive para a reportagem do BOM DIA] e quando saio, na volta já trago a chave do cadeado na mão. Entro bem rápido para dentro de casa.”
        Pascoalina sente falta da época que passeava na praça  Gandi, que fica a meia quadra da casa onde mora e que já foi local de encontro entre ela e os amigos. “Trancada dentro de casa acho que nada de ruim vai acontecer comigo. Por isso, prefiro não ir mais para a praça e nem me arriscar na rua.”
        Para Giovana Pascoli, 43 anos, nem a casa é mais sinônimo de segurança. Ela também mora no bairro  Boa Vista e tem três cães para tentar evitar ser vítima da violência. “Há menos de um ano tentaram entrar em casa, mas meus cachorros afugentaram o bandido.”
        Há poucos dias, passava pela lotérica que fica na esquina de onde mora, por volta das 20h, e mais uma vez foi alvo dos bandidos. “ Um rapaz estava sentado em frente. Ele baixou a cabeça quando passei e ao olhar de novo já estava do meu lado. Gritei e dois homens vieram em meu socorro e o assaltante fugiu.”
        Depois disso, decidiu que não sai mais de casa sozinha à noite. “Não temos liberdade para nada, nem para ir ao supermercado.”
        Com 80 anos, o aposentado João Longui, que também mora no bairro  Boa Vista, diz que anda pelas ruas em qualquer horário, mas sempre observando quem está por perto. “Não tenho como correr e sei que os bandidos preferem os velhos para atacar. Tomo cuidado.”
        Pesquisador diz que violência seria combatida com envolvimento social
        Há 10 anos como pesquisador do NEV/USP (Núcleo de Estudo da Violência), Marcelo Batista Nery, 36, especialista em violência urbana, se diz otimista e não descarta a possibilidade de as pessoas  saírem de dentro de suas casas-prisões com  mais segurança. Mas para isso seria imprescindível que a população se envolvesse nos problemas da comunidade onde mora, que as autoridades criassem instrumentos e condições para esse envolvimento e que novos mecanismos fossem implantados, como instituições mediadoras de conflitos. Em entrevista ao BOM DIA ele fala mais sobre violência e criminalidade.
        A que atribui essa cultura do medo?
        É fundamental entender a complexidade do tema violência e criminalidade. É possível números da polícia mostrarem queda de determinado crime em um local específico e ainda assim a população se sentir mais acuada, com mais medo. O que é efetivamente registrado não mostra a realidade. Há muita subnotificação por falta de confiança da população nas instituições responsáveis pela segurança pública. Só os dados criminais não são suficientes para que a sensação de insegurança diminua.
        E como não ser dominado pelo medo?A sensação de segurança se dá quando a pessoa tem um conflito e percebe que existe a quem recorrer, sejam as polícias Civil, Militar e Federal, o Ministério Público, as instituições mediadoras de conflitos, organizações sociais ou instituições comunitárias. A sensação de segurança está vinculada tanto a questão real do aumento da violência como à falta de apoio e confiança nas instituições públicas.
        Segurança é bandeira de todos os políticos. Eles estão perdendo essa batalha?É preciso ressaltar que se gasta muito com segurança pública e também há o componente econômico e político. Será que algum grupo, em algum momento, não acharia interessante manipular a sensação de insegurança das pessoas?
        Como assim?A segurança privada é uma das atividades econômicas que mais cresce no país. Cada vez mais as pessoas estão dispostas a pagar para se sentir seguras. Devido a importância dessa questão é razoável imaginar que existam instituições interessadas em manipular a sensação de insegurança.
        Por isso as pessoas preferem ficar presas dentro de casa?Com o tempo, as pessoas foram perdendo a confiança nas instituições de tal forma que não estão mais nas ruas, não conversam mais com os vizinhos, fazem muros altos, colocam grades. Cada vez mais é dito que cresce a criminalidade e a pessoa não sente que tem a quem recorrer. Por isso, estão “optando” pelo recolhimento. Uma imagem simbólica disso foram os ataques do PCC. As pessoas foram para suas casas e as ruas ficaram vazias.
        E o que fazer?Uma outra opção que é a mais interessante é no lugar de se recolher, a população se envolver em grupos sociais e tentar encontrar soluções. Uma pesquisa feita pelo NEV, no ano passado, em 11 capitais mostra que não chega a 5% da população que discute com frequência questões ligadas à segurança ou violência. E passa de 50% quem nunca se reuniu para discutir esses assuntos.
        E o que mudaria efetivamente se esses assuntos fossem discutidos pela maioria?É fundamental que se criem planos para resolver problemas de cada localidade, porque um bairro tem condicionais sociais, econômicos e culturais diferentes de outro. Por isso é necessário o envolvimento da comunidade. É necessário também uma aproximação do poder público e da sociedade civil. É  fundamental o investimento na formação dos responsáveis pela segurança pública, a criação de instrumentos mediadores de conflito e a ampliação da polícia comunitária. É assim que se combate verdadeiramente a criminalidade e devolve às pessoas a sensação de segurança.
        Acredita que um dia será possível voltar a sentar na calçada?
        Tenho uma visão otimista. Acredito que é possível sim as pessoas sentarem nas calçadas para conversar com os vizinhos. A taxa de homicídio doloso em 1999, na cidade de São Paulo, chegou ao seu ápice. Era superior a 50 para cada 100 mil habitantes. Hoje, está próximo de 10 para cada 100 mil habitantes. Se foi possível no passado fazer um movimento para cair a taxa de homicídios é possível fazer um movimento agora para melhorar o ambiente. Mas, como eu já disse, isso só vai acontecer quando a sociedade civil e o poder público se unirem.


        Política


        Lippi ganha tempo para por fim a cargos

        Prefeitura solicita mais 60 dias para apresentar uma solução sobre a extinção de 206 vagas pedidas pelo MP

        Pedro Guerra
        Agência BOM DIA

        A Prefeitura de Sorocaba pediu prazo para acatar  recomendação feita pelo Ministério Público para extinção de 206 cargos de confiança. Essas vagas são ocupadas sem concurso público e o MP havia recomendado 30 dias para o prefeito Vitor Lippi (PSDB) tomar uma decisão se acabava com as vagas.
        Lippi pediu mais 60 dias para dar explicações e o documento foi protocolado no dia 19 de abril.  De acordo com nota da Secretaria de Comunicação, “as pastas de Negócios Jurídicos e de Gestão de Pessoas, a administração municipal pediu prazo uma vez que cada cargo está sendo analisado de modo particular.”
        O BOM DIA publicou com exclusividade na edição do dia 18 de março a solicitação feita pelo MP. Caso o prefeito Vitor Lippi  não aceite a recomendação  acabe com os cargos o promotor público Orlando Bastos Filho afirma que vai entrar com pedido de improbidade administrativa contra Lippi.
        Outra alternativa para o prefeito é adequar os cargos por meio de concurso público ou outro meio legal. O promotor Orlando Bastos Filhos disse que as vagas são técnicas, o que não justifica serem de livre nomeação da administração.
        Vergonhoso e Má Fé  Em 2009, a Procuradoria  Geral do Estado entrou com uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) da Lei 5.394/97. O pedido era a extinção de 42 cargos, entre eles o de administrador de próprios.
        O promotor Orlando Bastos Filho coloca a criação do cargo de gerente de unidade e serviços I e II como “vergonhoso” e acusa o prefeito de “ma-fé”.
        Por meio da lei 9.134/10, o prefeito Vitor Lippi só modificou o nome do cargo de administrador de próprios para gerente de unidade de serviços . Para Orlando Bastos essas vagas são “verdadeiro depósito de correligionários e vereadores alinhados não reeleitos”.
        Lippi ganha tempo para por fim a cargos

        http://www.redebomdia.com.br/Noticias/Politica/52537/Lippi+ganha+tempo+para+por+fim+a+cargos
        30/04/2011 22:20

        Bater com as dez está pela hora da morte

        Dependendo do tipo de caixão, localização do jazigo e serviços à parte –que podem incluir sala de velório com frigobar e micro-ondas – enterrar uma pessoa em Sorocaba pode sair por mais de R$ 20 mil

        Mayco Geretti
        Agência BOM DIA
        A morte pode ser encarada como um fim ou uma passagem mas, inegavelmente, é um excelente negócio. Em Sorocaba um velório sofisticado, com caixão (ou urna funerária, como é chamada entre os profissionais) feito em madeira de lei e com enterro em cemitério privado pode ultrapassar os R$ 20 mil.
        O mercado que gira em torno da morte   oferece opções para todos os gostos e, principalmente, bolsos. Só no ano passado, foram 3.724 óbitos em Sorocaba. No primeiro trimestre de 2011, mais de 900.
        Danilo Natálio Martins, encarregado pelo setor de funeral da Ofebas, explica que existem dois tipos distintos de pessoas que procuram uma empresa especializada para tratar sobre um velório e um enterro: aquelas que perderam alguém querido e às pressas e sob forte emoção precisam definir todos os detalhes, até aquelas que estão se antecipando e definindo os trâmites fúnebres que serão aplicados a familiares ainda vivos ou a si próprias. “Quando há uma morte confirmada as famílias costumam eleger as pessoas mais calmas para tomar as decisões, mas mesmo se tratando de uma emergência existem familiares bastante atentos a detalhes”, revela.
        Danilo explica que alguns clientes fazem questão de apalpar o forro dos caixões para verificar se são fofos, ou mesmo querem informações sobre a qualidade da madeira. “O cuidado é semelhante entre clientes mais metódicos que pagam um plano funerário e estão escolhendo a própria urna”, explica.
        Uma urna em cedro, revestida em cetim, com a tampa entalhada com motivos religiosos e alças em alumínio sai por pouco mais de R$ 10 mil. Escolher a urna é a ponta do iceberg e o começo dos gastos. Até na escolha da sala de velório existem opções. Em Sorocaba existem salas com micro-ondas e frigobar.
        A opção visa atender famílias que têm parentes em cidades distantes que podem chegar com fome durante a madrugada, por exemplo. Pela regalia, são R$ 400 a mais.
        A última impressão
        Muitos gastos extras envolvendo um velório dizem respeito à preparação do corpo. A quantidade de flores, a roupa usada pelo finado, tudo é opcional e está à venda. “Se o enterro é no inverno, existem até famílias que nos solicitam roupa de frio para o cadáver. Existe esse culto ao corpo, um respeito. Há pessoas que pedem que o cadáver seja até perfumado”, afirma o preparador de cadáveres, Francisco Metidieri.
        O custo também aumenta se a morte é resultado de um episódio envolvendo violência. Nesse caso é aplicada a tanatopraxia, técnica na qual perfurações de tiro, cortes e outros ferimentos são ocultados através de maquiagem. A tanatopraxia também permite a conservação do corpo por mais tempo – para evitar odores inconvenientes durante  velórios longos, por exemplo – graças à troca do sangue por um líquido especial. O serviço custa R$ 450 adicionais, em média.
        Entenda a expressão 'Bater com as dez'
        Sinônimo de morrer. Expressão do jogo de Buraco, usada para definir o lance no qual o jogador compra uma carta do monte e consegue se livrar de todas as outras nove que tem nas mãos.
        Planos funerários
        Os planos funerários são boa opção principalmente para aqueles que não querem ter dor de cabeça no momento da morte de um familiar. Eles disponibilizam desde a urna, até o velório e traslado até o cemitério para o titular do plano e seus dependentes.
        Em Sorocaba a adesão a um plano desse tipo custa cerca de R$ 250, com parcelas mensais de cerca de R$ 20 por pessoa no plano familiar. A maioria dos planos têm 30 dias de carência, ou seja, só cobrirão as despesas se o falecimento ocorrer  após o período pré-estabelecido. Segundo a Ofebas, a procura por este tipo de plano triplicou em 10 anos. Já a Ossel não se manisfestou.
        Quem decide se precaver, convive com as críticas
        Ao comprar um jazigo, tudo o que a dentista Giovana Senna queria era se precaver da correria e do transtorno de ter de tomar uma série de decisões quando uma pessoa querida partir. Isso ou dar trabalho a quem fica, caso ela seja “a próxima da lista”. Após fechar o negócio, no entanto, ela afirma que enfrentou críticas e até pequenos protestos movidos por familiares e amigos que não se conformam com o fato dela gastar dinheiro com uma sepultura quando ela tem 43 anos e goza de plena saúde.
        “Me chamaram de tonta. Perguntam como posso gastar com isso ao invés de com uma viagem. Eu ignoro pois acho super normal pensar em algo que é inevitável”, afirma. A dentista conta que não pesquisou preços antes de comprar o jazigo de três lugares por aproximadamente R$ 3 mil. “Desde que comprei, já até tive propostas de pessoas que querem comprar em razão da boa localização dentro do cemitério.”
        Visual conta
        O analista de sistemas Roberval Correia diz que para definir a localização do jazigo de sua família, levou em conta o visual. “Optei por um cemitério sem túmulos, apenas com aquele gramado bonito”, ressalta. Roberval afirma que o assunto não tem nada de sinistro e, mostrando as faturas com as parcelas pagas, afirma ter feito um excelente negócio. “Na hora da dor, as empresas cobram o quanto querem porque os familiares não têm opção. Quando já pensamos nisso em vida, cotamos preços e podemos até aproveitar promoções.”
        Tem de graça
        Em Sorocaba há seis cemitérios, dois particulares e quatro municipais. No PAX, um jazigo para três pessoas custa à vista R$ 4,7 mil para sepultamento imediato. Se a compra for  feita sem que haja falecimento, o parcelamento pode ser feito em 24 vezes e o valor cai para R$ 4,9 mil. No Memorial Park, outro particular,  um jazigo também para três lugares custa R$ 3 mil.
        Dos cemitérios municipais, somente dois ainda estão disponíveis para o enterro de alguém que faleça hoje e não possua jazigo. No Cemitério de Aparecidinha a área para sepultamento custa R$ 129. Já o Cemitério Santo Antônio, no Wanel Ville, é gratuito, para famílias de baixa renda. Os cemitérios da Saudade e da Consolação tiveram seus títulos de posse negociados há décadas e só recebem corpos de famílias já proprietárias de jazigos.
        Pagamento de enterro vai parar na  Justiça
        No começo desse ano o Colégio Recursal de Sorocaba confirmou a decisão do juiz Douglas Augusto dos Santos, da Segunda Vara do Juizado Especial Civel, que obriga dois homens a ressarcirem um primo que arcou com as despesas do enterro da mãe dos mesmos.
        A vítima, que pediu para não ser identificada, conta que não era íntima dos primos, mas colaborou pagando os R$ 910 do velório e enterro com seu cartão de crédito.
        O pagamento foi dividido em quatro vezes e apesar de se comprometerem em pagar as parcelas, os irmãos não honraram o compromisso. Sem dinheiro, a vítima pagou apenas os valores mínimos das faturas, sofrendo com o acúmulo de juros. A setença estipula indenização de R$ 3,8 mil, que cobre o valor original, mais os juros rotativos.
        CPI das funerárias é enterrada
        Foi pouco conclusivo o resultado da Comissão Parlamentar de Inquérito aberta pela Câmara de Vereadores de Sorocaba para investigar a atuação das  duas funerárias da cidade, a chamada CPI das Funerárias. Isso porque a Ossel conseguiu na Justiça o direito de não enviar alguns documentos solicitados pelos vereadores. Apesar da apuração ter sido parcial, a comissão foi encerrada no começo desse ano.
        O foco da CPI era investigar se as funerárias Ofebas e Ossel estão respeitando a lei municipal que prevê fornecimento de caixão, transporte, velório e enterro gratuitos a famílias que declararem não ter renda suficiente para pagar pelo serviço.
        A investigação do Legislativo (os vereadores também contrataram uma empresa de auditoria para auxiliá-los) foi aberta em julho do ano passado, pouco após o vereador Irineu Toledo (PRB) ser procurado por uma família de baixa renda que alegou não ter conseguido o benefício previsto em lei.
        O presidente da CPI, vereador Gervino Gonçalves (PR), o  Cláudio do Sorocaba 1, alega que os documentos solicitados pelos vereadores serviriam para constatar o número de velórios, caixões e transporte cedidos pelas funerárias à famílias carentes ao longo dos anos.  Na documentação enviada pela Ofebas, explica o parlamentar, não foram encontradas irregularidades. “Já a  Ossel buscou na Justiça essa liminar que acabou obstruindo as atividades dos vereadores. Não sabemos o motivo do receio, o caso é que ficamos de mãos atadas e sem condições de darmos prosseguimento”, alega.
        Regulamentação
        Um projeto de lei do vereador Helio Godoy (PTB) visa regulamentar os serviços funerários em Sorocaba, definindo uma melhor distribuição das empresas que desempenham essa função. O projeto prevê que deva existir uma funerária para cada 100 mil habitantes. As empresas seriam escolhidas através de concessão pública.
        Godoy elaborou seu projeto com base em concessões de serviços funerários feitas nas cidades de Curitiba (PR) e Joinville (SC). Nesses municípios, segundo o vereador, os serviços são operados por diversas concessionárias regulamentadas por leis municipais.
        O vereador explica que antes de encaminhar o projeto para a pauta de votação ainda aguarda as respostas de alguns questionamentos feitos à prefeitura a respeito da atuação das duas empresas em operação na cidade. “O projeto já está pronto desde a metade do ano passado, mas como esperava que a CPI respondesse a muitos dos questionamentos, aguardei”, explica  o autor. A previsão é de que o vereador apresente o projeto no segundo semestre.
        http://www.redebomdia.com.br/Noticias/Dia-a-dia/52538/Bater+com+as+dez+esta+pela+hora+da+morte+na+cidade


        Postar um comentário

        0 Comentários