Sem acordo sobre a indicação do secretário-geral da Executiva estadual, o
PSDB adiou a escolha para quinta-feira. A convenção de hoje definirá apenas o
deputado estadual Pedro Tobias como presidente. A vaga de secretário opõe a
bancada federal, que quer indicar o deputado Vaz de Lima, e o grupo do deputado
federal e secretário de Energia de Geraldo Alckmin, José Aníbal, que defende a
manutenção de César Gontijo no posto.
Segundo participantes da reunião, o clima foi tenso. Gontijo afirmou
repetidas vezes que não abria mão de concorrer e que, se fosse preciso, levaria
a questão a voto. Ele teria discutido com o deputado federal Edson Aparecido,
secretário de Articulação Metropolitana de Alckmin.
O cenário repete exatamente a eleição para a Executiva tucana na capital.
Em abril, o partido escolheu Júlio Semeghini presidente – tal qual Tobias, ele é
aliado de Alckmin. Mas adiou a escolha da secretaria-geral e dos demais cargos,
já que o grupo de Aníbal e João Câmara fazia restrições a nomes de vereadores.
Durante o impasse, seis dos 13 vereadores tucanos deixaram o partido. Pouco
depois, houve acordo para colocar na secretaria o vereador Adolfo Quintas, que,
com isso, voltou atrás no plano de abandonar o PSDB.
Deputado tucano avalia que há risco de saída de parlamentares federais do
partido se não houver acordo na Executiva estadual. “Eles estão desamparados em
Brasília, como oposição. Sem espaço no governo paulista e no próprio partido,
podem ir para a janela do PSD (partido que está sendo criado por Gilberto
Kassab)”, avalia.
Um funcionário do mercado anunciava que o preço da picanha congelada tinha
baixado de 34 para 16 reais o quilo. Coisa de gringo esperto: provocar aquele
fuzuê que estimula as pessoas a comprar coisas que não haviam planejado comprar
(já notaram que não tem janela, nem relógio em supermercado? Parece cassino).
Nessa, tem gente que nem se liga na qualidade, nem na data de validade do
produto.
Uma família deixava o lugar com uma TV de 42 polegadas em um carrinho,
protegendo o objeto como se fosse algum santuário.
Uma outra discutia diante de cartazes gigantes que anunciavam um novo navio
de uma empresa de cruzeiros. Era a porta de uma agencia de viagens, que estava
cheia. O jovem argumentava que era muito difícil conseguir visto para os Estados
Unidos, que a mãe deveria desistir do sonho de conhecer a Disney e fazer um
cruzeiro no Caribe. Como argumento, apontou para o novo navio: “Tem até pista de
patinação, mãe!”.
Meu impulso de repórter foi de perguntar se algum dos três sabia patinar no
gelo.
Duvido que algumas das centenas de pessoas que vi no hipermercado,
consultadas, diriam que são eleitoras do PT. Mas é óbvio que uma boa parte
delas, inclusive da perseguida nova classe média, identifica o quadro econômico
com o “governo que está aí”. Disputar eleição com o “governo que está aí”
equivale, assim, a suicídio político.
Aos tucanos resta, portanto, inventar a hiperinflação. Afinal, não é sempre
que um Nobel de Economia recomenda que os Estados Unidos sigam o exemplo do
Brasil, atacando a desigualdade e dando mais poder de
barganha salarial aos trabalhadores.
Para os tucanos, na falta de uma proposta alternativa, o medo é o menos
ruim dos cabos eleitorais. Lembram de 2010? Medo do aborto, medo da
guerrilheira, do sapo cururu e do Zé Dirceu. Sobrou até para os blogueiros
sujos…
*A doutrina Hans Bintje consiste em “plantar” minhocas. Os
bichos cavam como se fossem Navy SEALs descontrolados, arejam a terra, ajudam a
fortalecer plantas e raízes. As frutíferas produzem mais, atraindo mais abelhas
e pássaros, que se divertem com as minhocas desprevinidas. Um círculo virtuoso,
como o que os tucanos querem desfazer agora na economia pregando juros, juros e
mais juros.
7 de maio de 2011 às 13:43
Stiglitz: O que é bom para o Brasil, é bom para os Estados Unidos
The IMF’s change of heart
The International Monetary Fund has realised that a nation’s economic
well-being depends on social equality and justice [O Fundo Monetário
Internacional se deu conta de que o bem-estar econômico de uma nação depende de
igualdade e justiça social]
Joseph E Stiglitz, 07 May 2011 15:14
O encontro anual de primavera do Fundo Monetário Internacional foi notável
ao marcar uma tentativa do FMI de se distanciar de suas próprias doutrinas de
longo prazo sobre controle de capitais e flexibilização do mercado de trabalho.
Parece que um novo FMI tem gradualmente, e cautelosamente, emergido sob a
liderança de Dominique Strauss-Kahn.
Cerca de 13 anos antes, no encontro do FMI em Hong Kong, em 1997, o fundo
tinha tentado emendar sua carta para ganhar mais poder para empurrar países à
liberalização do mercado de capitais. O momento não poderia ter sido pior: a
crise do Sudeste da Ásia estava em gestação — uma crise que foi resultado
principalmente da liberalização do mercado de capitais naquela região que, dado
o alto índice de poupança, era desnecessária.
As mudanças tinham sido defendidas pelos mercados financeiros ocidentais —
e pelos ministros das finanças ocidentais que serviam lealmente aos mercados. A
desregulamentação financeira nos Estados Unidos foi uma causa primária da crise
que irrompeu em 2008, e a liberalização financeira e do mercado de capitais em
outros lugares ajudou a espalhar o trauma “made in USA” por todo o mundo.
A crise demonstrou que mercados livres e sem restrições não são eficientes,
nem estáveis. Eles também não fazem um bom trabalho no ajuste dos preços (vejam
a bolha do mercado imobiliário), inclusive das taxas de câmbio (que na verdade
são o preço de uma moeda em relação a outras).
Emerging markets, concerned countries
A Islândia demonstrou que responder à crise impondo controle de capitais
poderia ajudar pequenos países a gerenciar o seu impacto. E o “quantitative
easing” (QEII) do Banco Central dos Estados Unidos [através do qual o BC
americano compra papéis do Tesouro, inundando o mundo de dólares] tornou o
descarte da ideologia dos mercados sem restrições inevitável: o dinheiro vai
para onde os mercados acreditam que o retorno será maior. Com os mercados
emergentes em boom, e os Estados Unidos e a Europa em dificuldades, estava claro
que muito da nova liquidez criada encontraria o caminho dos mercados emergentes.
Isso era especialmente verdadeiro considerando que os dutos do crédito nos
Estados Unidos estavam entupidos, com vários bancos regionais e comunitários
ainda em posição precária.
A inundação de dinheiro nos mercados emergentes [ver a valorização do real
no Brasil] significa que mesmo os ministros das finanças e governantes dos
bancos centrais — que se opõem ideologicamente à intervenção — acreditam que não
tem escolha. Na verdade, um país depois do outro tem escolhido intervir para
evitar que o valor de suas moedas dispare.
Agora o FMI abençoou tais intervenções — mas, numa concessão aos que ainda
não estão convencidos, sugere que isso só deve ser feito como último recurso. Ao
contrário, deveríamos aprender com a crise que os mercados financeiros precisam
de regulamentação, e que os fluxos de capitais através de fronteiras são
particularmente perigosos. Tais regras deveriam ser uma peça-chave de qualquer
sistema para garantir a estabilidade financeira; recorrer [ao controle de
capitais] apenas em último caso é uma receita para contínua instabilidade.
Existe um grande número de ferramentas disponíveis para o gerenciamento do
fluxo de capitais e seria melhor que os países usassem um menu delas. Mesmo que
não sejam completamente eficazes, são tipicamente muito melhor que nada.
Mas uma mudança ainda mais importante é a conexão que o FMI finalmente
desenhou entre desigualdade e instabilidade. A crise foi largamente o resultado
das tentativas dos Estados Unidos de dar impulso a uma economia enfraquecida por
desigualdade crescente, através de uma taxa de juros baixa e do relaxamento da
regulamentação [permitindo que os norte-americanos se afundassem em dívidas,
parte delas feita com o refinanciamento de imóveis. O gajo refinanciava a casa,
pegava dinheiro do banco e pagava a faculdade dos filhos, comprava um carro novo
e assim por diante] — o que resultou em muita gente emprestando além de sua
capacidade de pagar. Serão anos para desfazer as consequências deste
endividamento excessivo. Mas, como outro estudo do FMI nos lembra, não é um novo
padrão.
Unemployment, rising class-divide
A crise também colocou em teste outros dogmas de longo prazo que culpam a
rigidez do mercado de trabalho pelo desemprego, já que países com salários mais
flexíveis, como os Estados Unidos, se deram muito pior que países do norte
europeu, inclusive a Alemanha. Na verdade, quando os salários enfraquecem, os
trabalhadores terão ainda mais dificuldades para pagar o que devem, e os
problemas no mercado imobiliário serão ainda piores. O consumo continuará
represado e uma recuperação forte e sustentável não poderá ser bancada com outra
bolha baseada em dívidas.
Os Estados Unidos são tão desiguais quanto eram antes da Grande Recessão e
a crise, gerenciada da forma como foi, aumentou ainda mais a desigualdade de
renda, tornando a recuperação ainda mais difícil. Os Estados Unidos estão a
caminho de criar sua própria versão da malaise de estilo japonês [baixíssima
taxa de crescimento desde os anos 90].
Mas existem formas de escapar deste dilema: reforçar o poder coletivo de
barganha [dos trabalhadores], reestruturar dívidas imobiliárias, usar cenouras e
porretes para forçar os bancos a retomar os empréstimos, reeestruturar a
cobrança de impostos e os gastos públicos para estimular a economia agora
através de investimentos de longo prazo, e implementar políticas sociais para
garantir oportunidade para todos. Do jeito que está, com quase um quarto da
renda e 40% da riqueza dos Estados Unidos indo para o 1% do topo, os Estados
Unidos são agora ainda menos uma “terra de oportunidades” que a “velha”
Europa.
Para progressistas, esses fatos abismais já são parte de uma litania de
frustrações e ultraje justificado. O que é novo é que o FMI aderiu ao coro.
Quando Strauss-Kahn concluiu seu discurso na Brookins Institution pouco antes do
recente encontro do Fundo, disse: “No fim das contas, emprego e igualdade são
tijolos da estabilidade econômica e da prosperidade, da estabilidade política e
da paz. Este é coração do mandato do FMI. Precisa ser colocado no coração da
agenda política”.
Strauss-Kahn está se provando um líder sagaz do FMI. Podemos apenas esperar
que os governos e os mercados financeiros ouçam as palavras dele.
Joseph E. Stiglitz is a professor at Columbia University, a Nobel
laureate in Economics, and the author of Freefall: Free Markets and the Sinking
of the Global Economy. He is also a former Senior Vice President and Chief
Economist of the World Bank.
[] As frases entre colchetes são notas de tradução, para
facilitar o entendimento.
http://www.viomundo.com.br/politica/stiglitz-o-que-e-bom-para-o-brasil-e-bom-para |
08/05/2011
Impasse faz PSDB adiar escolha
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