Emilio Botín e onze parentes foram alvo de investigação por evasão fiscal que se estenderia a contas que foram abertas durante a Guerra Civil Espanhola
Raphael Minder, de The New York Times
MADRI - O já frágil setor bancário da Espanha ficou chocado na quinta-feira com a notícia de que Emilio Botín, o banqueiro mais influente do país e chairman do Banco Santander, e onze parentes seus foram alvo de uma investigação por evasão fiscal que se estenderia a contas que alegadamente foram abertas nos dias sombrios da Guerra Civil Espanhola.
O tribunal nacional de Madri concordou em ouvir uma investigação de procuradores antifraude da receita espanhola envolvendo declarações de imposto de renda passadas entregues por Botín e seus parentes.
A receita disse que o inquérito remontava a maio do ano passado, quando a Espanha recebeu uma lista de contas não declaradas em bancos suíços que foi inicialmente entregue à França por um ex-especialista em tecnologia da informação do HSBC.
Jesús Remón, um advogado da família Botín, disse na quinta-feira que os Botín esperavam que o tribunal resolvesse o caso "rápida e satisfatoriamente" porque "a família normalizou voluntária e completamente sua situação fiscal e é cumpridora de todas suas obrigações fiscais."
Uma pessoa informada sobre a situação, que pediu anonimato, disse que a família havia pago cerca de 200 milhões (US$ 282 milhões), em impostos atrasados no ano passado.
Nos últimos 25 anos, Botín não só foi uma figura dominante na cena corporativa espanhola como transformou seu banco em um dos maiores da Europa, com investimentos significativos no Brasil, nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, incluindo a aquisição, em 2004, do Abbey National, uma importante empresa de crédito hipotecário.
O anúncio do tribunal surgiu na véspera de uma reunião de acionistas, na sexta-feira, em Santander, a cidade do norte da Espanha onde o banco nasceu.
A agencia fiscal enfatizou que sua ação judicial foi motivada por uma questão de timing, pois ainda precisava examinar uma extensa documentação fornecida pela família, mas enfrentava um problema de expiração do prazo em 30 de junho de um estatuto de limitações que ameaçava tornar impossível examinar alguns dos dados fiscais mais antigos.
Entre os membros da família que estão sendo investigados estão a filha de Botín, Ana Patricia Botín, hoje encarregada dos negócios britânicos do Santander, e o irmão Jaime. de Botín, que é o principal acionista do Bankinter, outra instituição de empréstimos espanhola.
Banqueiros na Espanha não quiseram comentar publicamente uma questão sob investigação judicial, mas muitos expressaram espanto sobre a alegada associação de Botín a contas suíças não declaradas no arquivo do HSBC. A estatura de Botín na Espanha é tal que seus raros pronunciamentos sobre a economia espanhola podem eclipsar as de políticos na mídia nacional.
Na quinta-feira, o caso dominou as conversas num encontro do setor em Madri no qual estava sendo entregue um prêmio a Francisco González, o chairman do BBVA, principal concorrente espanhol do Santander.
Uma pessoa familiarizada com a situação de Botín, que falou sob a condição de anonimato, disse que os negócios da família com o HSBC datavam de 1937, quando o pai de Botín, que também se chamava Emilio, abriu uma conta na Suíça quando partiu da Espanha para Londres após o início da Guerra Civil Espanhola. O Botín pai morreu em 1993; segundo a mesma fonte, seu filho e outros herdeiros só no ano passado foram informados pelas autoridades espanholas do dinheiro que ele mantinha na Suíça.
A lista do HSBC incluiu 569 clientes espanhóis. Sua divulgação permitiu que a Espanha recuperasse cerca de 300 milhões em receita fiscal previamente não declarada no ano passado, segundo Juan Manuel López Cabajo, o presidente da receita espanhola. Essa quantia deve aumentar neste ano por conta dos casos pendentes envolvendo os maiores detentores espanhóis de contas secretas na subsidiária de private banking suíça do HSBC.
(Tradução de Celso Paciornik)
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