21/06/2011

Grupo de investigadores solicita prisão temporária para envolvidos em escândalo



Rodrigo Rainho
Colaboração para o BOM DIA
O médico Heitor Fernando Xediek Consani, ex-diretor do CHS afastado por suspeita de envolvimento no esquema de fraudes em plantões no complexo hospitalar, pode ser recolocado na prisão nos próximos dias.
Os policiais do Grupo Antissequestro e promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial ao Crime Organizado) reuniram a imprensa para anunciar ontem que decidiram tomar medidas para reverter a soltura do médico, preso entre quinta e sábado. 

Heitor conseguiu um habeas corpus do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, o que abreviou dois dias de sua permanência na prisão improvisada no quartel do CPI-7 (Comando de Policiamento do Interior 7. “Estamos tentando reverter a soltura de Heitor Consani na Procuradoria Geral do Estado, que é a instância da justiça que tem a competência para fazer a análise do caso”, disse a promotora Maria Aparecida Castanho, do Gaeco, que tenta prorrogar, por mais cinco dias, a prisão temporária dos oito suspeitos de fraudar plantões do CHS (Complexo Hospitalar Sorocaba) e outros hospitais da rede estadual de saúde. 

O grupo de investigadores solicitou à Justiça a concessão da prorrogação da prisão dos envolvidos. O objetivo é manter Heitor e os suspeitos atrás das grades para que não intimidem as testemunhas. “É importante manter essas pessoas presas para encorajar as testemunhas a depor.

Diversas nos procuraram espontaneamente para prestar depoimento sobre fatos importantes. As informações delas têm nos ajudado bastante. Os nomes de todas estão sendo preservados”, disse Wilson Negrão, delegado da Antissequestro.

“Essas pessoas, muitas funcionários do CHS, não falavam porque temiam represálias desses suspeitos que estão presos”, esclarece. Maria Castanho, afirma que já esperava que gente da cúpula do governo do Estado, como o ex-secretário do esporte Jorge Pagura, e o coordenador geral de saúde, Ricardo Tardelli, estivessem envolvidos. “A primeira fase da investigação pegou os alvos. Agora, vamos pegar que são os beneficiados”, disse. 

Mais de 40 suspeitos devem ser convocados para depor. A investigação não tem prazo para terminar, segundo o promotor Cláudio Bonadia. Pagura, na figura de ex-secretário estadual, só pode ser investigado pela Procuradoria Geral do Estado.
Os delegados lembraram da necessidade de se investir em ponto eletrônico para horas extras em plantões dos hospitais do Estado. “Houve falha do sistema da Secretaria de Saúde, que favoreceu as fraudes. Auditorias devem ajudar a coibir novos golpes”, disse Negrão.
Anúncio /O governo estadual nomeou na segunda o médico Luís Cláudio de Azevedo Silva, diretor executivo do setor de radiologia do Hospital das Clínicas, o interventor do CHS. “Ele terá como atribuição, num prazo de 60 dias, fazer um diagnóstico da situação assistencial e administrativa do hospital”, diz a nota da Secretaria de Saúde.
Secretaria anuncia ponto eletrônico em nota
A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo determinou a implantação obrigatória de sistemas de ponto eletrônico nos hospitais ligados à pasta.

Além disso, a Secretaria estabeleceu que os plantões dos médicos, enfermeiros e outros profissionais sejam registrados de forma distinta ao da carga horária regular de trabalho dos profissionais nas unidades aos quais estão vinculados.

O objetivo da determinação é modernizar a gestão e proporcionar maior clareza e transparência na administração do expediente dado pelos servidores da pasta. Também foi determinada a realização de uma auditoria em todos os hospitais onde há a realização de plantões médicos, para verificar como eles estão sendo feitos, qual o controle que cada hospital tem sobre eles e quais os médicos que vem realizando plantões na rede, para identificar possíveis falhas e corrigi-las.

A pasta já solicitou que todos os hospitais encaminhem um levantamento prévio sobre plantões feitos nos últimos três anos.
A Secretaria irá investir cerca de R$ 60 milhões para ampliar e modernizar as instalações do CHS (Conjunto Hospitalar de Sorocaba), a partir do segundo semestre. Os recursos serão utilizados na construção de um prédio de internações totalmente novo, anexo ao Hospital Regional, que contará com 220 leitos, dos quais 40 de UTI, centro cirúrgico com seis salas e serviços de radioterapia e hemodinâmica. As novas instalações, que ficarão prontas em 18 meses, deverão ampliar em até 80% a capacidade de realização de cirurgias.

O novo coordenador de Serviços de Saúde, que substituirá Ricardo Tardelli, será definido nos próximos dias.

Apesar da medida do governo para implantar o ponto eletrônico com o argumento de coibir novas fraudes, 30% dos hospitais de São Paulo já têm ponto eletrônico, inclusive o CHS. Muitos funcionários em plantão extra não usam.

Dentista continua foragida da Justiça
Tânia Maris de Paiva, cirurgiã-dentista do CHS, teria recebido R$ 49 mil por 80 plantões não trabalhados em 2010. Entre os 12 suspeitos de integrar a quadrilha, está solta. Os policiais não tem pistas da funcionária.
Gravação mostra conversa de Heitor Consani com Salim
Acusado de fraudar os plantões do CHS (Conjunto Hospitalar de Sorocaba), Heitor Consani apareceu em uma das gravações da polícia divulgadas no domingo pelo Fantástico, da TV Globo. Depois de 28 de fevereiro, data que assumiu a direção geral do CHS, Heitor, figura antes respeitada pela população de Sorocaba, aparece em um telefonema, em meados de maio passado, recebendo um conselho do seu ex-chefe Antônio Carlos Nasi, diretor de saúde de Sorocaba entre 2007 e fevereiro deste ano. Ambos parecem saber da investigação.
Confira o teor de um trecho da gravação:
Antônio Carlos Nasi: “ Uma das coisas que talvez fosse interessante, era pensar na devolução do dinheiro” 
Heitor Consani: “Tá.” 
Antônio Carlos Nasi: “Isso a gente chama de uma defesa prévia. Já fui uma vez indiciado. Procurei o promotor, fiz os cálculos e fiz a devolução do dinheiro. Saí como bom moço da história. “
Funcionários do CHS pedem fim do plantão extra
Funcionários do pronto-socorro do CHS e sindicalizados do SindSaúde condenam excesso de plantonistas e propõem novos concursos.
Em visita ao CHS na terça, a reportagem conversou com enfermeiros e vistoriou setores do pronto socorro do hospital. O ambiente, apesar de aparentar tranquilidade, passava apreensão. Os funcionários sentem-se hostilizados, não somente por usuários, mas pela sociedade em geral. Pagam, de certa forma, pela corrupção de alguns. O motorista Eduardo Claudino reclamava da falta de algum companheiro e de mais médicos e enfermeiros. “O governo não promove concurso há mais de três anos”, lamenta ele. 

Marta Moreira, auxiliar de enfermagem, disse que faltam funcionários e reclama do excesso de plantões extras. “Se houvesse uma política de plano de carreira e cargos públicos, para cobrir o buraco preenchido pelos plantonistas extras, não teríamos tantas fraudes e o atendimento seria muito melhor. A qualidade de vida no CHS seria outra coisa”, fala ela, resignada.

O SindSaúde enviou carta aberta ao governador Geraldo Alckmin solicitando o fim dos plantões extras e a revogação três leis e dois decretos que regulamentam a prática. A entidade pede melhores salários para incentivar a migração de melhores profissionais para o sistema de saúde. “Com novas contratações, o fantasma da fraude será afastado para longe”, diz a carta do sindicato. “Com corrução a tolerância é zero”, finaliza.

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