02/06/2011

PMs estão em 80% dos ataques a caixas



Para desbaratar as quadrilhas, Polícia Civil montou central de informação com bancos

Marcelo Godoy e William Cardoso
Investigações da Polícia Civil sobre ataques a caixas eletrônicos mostram que 80% dos casos contam com o envolvimento de policiais militares. Só o Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) tem indícios da suposta participação de 20 PMs nos roubos. A maioria deles recebe propina para dar cobertura aos bandidos, informando sobre a movimentação da polícia no bairro.
Policiais corruptos também se comprometem a retardar o atendimento da ocorrência, a fim de permitir a fuga dos criminosos. Às vezes vão até o lugar do furto e, quando aparecem outros policiais que não estão esquema, dizem que está tudo certo, Tudo ficou registrado pelos grampos feitos durante as investigações dos ataques.
Para enfrentar essa onda de crimes - foram 77 casos até maio -, a Polícia Civil montou com os bancos um esquema para ser informada online logo que os alarmes dos bancos disparam. Em seguida, os investigadores vão às agências atacadas. A ideia é driblar a proteção dada por alguns PMs aos bandidos. Os Grupos de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra) e de Operações Especiais (GOE) estão sendo usados na tarefa.
Foi essa ação que permitiu no sábado a prisão de dois PMs que estavam escondidos em uma agência do Banco do Brasil na zona sul de São Paulo. O Deic prendeu anteontem quatro PMs acusados de pertencer a uma das quatro grandes quadrilhas que estariam agindo no Estado.
Em um dos casos, grampos mostram bandidos reclamando com os PMs corruptos porque uma viatura se aproximou da agência - ela ficava a 200 metros de uma delegacia. Os policiais tranquilizam o bandido dizendo que os colegas haviam entrado na rua por engano (veja ao lado).
A Polícia Militar informou que investiga os casos, mas não pode dar mais informações para não atrapalhar as investigações. A PM diz também que "se utiliza de todas as ferramentas jurídicas disponíveis para extirpá-los das fileiras da instituição".
Método. Os ataques aos caixas eletrônicos se transformaram no crime da moda neste ano, depois que os bandidos descobriram que podiam explodi-los com dinamites. A abertura do cofre, que antes levava 30 minutos e tinha de ser feita com maçarico, passou a ser muito mais rápida. A alternativa - levar o caixa inteiro embora - também não era muito prática. O risco de ser pego em flagrante era grande.
O explosivo mudou isso. Bancos passaram a deixar menos dinheiro nos caixas - de R$ 50 mil, passaram a ter em média R$ 20 mil. O que se ganhou em rapidez no roubo se perdeu com os danos às cédulas. A polícia estima que as explosões deixam intactos de R$ 6 mil a R$ 8 mil para os ladrões.
Para o delegado do 7.º Distrito Policial (Lapa), Rubens Barazal Teixeira, a explosão com dinamite traz problemas que vão além dos caixas eletrônicos em si. "Tem o prejuízo que isso causa aos comerciantes e aos estabelecimentos, fora o próprio risco que as pessoas correm."
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) lamentou a participação de PMs nos crimes. "A polícia já prendeu 27 criminosos. Lamentavelmente são policiais militares que já estão presos, vão responder a processos civil e criminal." Alckmin também ressaltou que o efetivo da polícia é grande (140 mil agentes) e "você tem sempre um caso ou outro". "O que não pode haver é impunidade", resumiu. / COLABOROU RENATO MACHADO
ESCUTAS
"Passou uma viatura aqui em frente. Que história é essa?"
Ladrão pergunta para policial
"Ele pegou a rua errada, mas fica tranquilo que já está saindo"
Policial responde para o bandido
"Essa é a única que não está no esquema"
Ladrões falam sobre viatura que passa perto de outro caixa
PONTOS-CHAVE
Onda começou no início do ano na Grande SP
Casos
A onda de ataques começou no início do ano na Grande São Paulo. Foram registrados 77 casos até maio em agências bancárias e estabelecimentos comerciais.
Orientação
Diante dos estragos causados pelas explosões, a Associação Comercial recomendou aos pequenos comerciantes a retirada dos equipamentos de suas lojas.
Mortes
Pelo menos sete pessoas morreram em tiroteios entre polícia e ladrões: cinco suspeitos, um PM e um homem que teria sido atingido por bala perdida.

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