06/07/2011

Graziano assume FAO com orçamento curto


Sob pressão dos países ricos, entidade terá queda de recursos e novo diretor descarta meta de erradicar fome até 2015


Jamil Chade, correspondente de O Estado de S.Paulo
GENEBRA - O brasileiro José Graziano, o novo diretor da FAO, recebe o primeiro golpe dos países ricos: terá um orçamento para lidar com a fome no mundo que não foi reajustado nem mesmo para compensar a inflação mundial e ainda vai precisar fazer economias extras na administração da organização. Diante da pressão das nações desenvolvidas, o orçamento foi incrementado em apenas 1,4% até 2013. Para Graziano, o maior obstáculo para acabar com a fome no mundo é a falta de recursos dos países ricos.
"Erradicar a fome até 2015 não será possível", disse o brasileiro à agências de notícias em Roma, no fim de semana. Segundo ele, muitos países não conseguirão sequer reduzir a fome no mundo pela metade até 2015, como se planejava.
Há uma semana, Graziano foi eleito para o posto de diretor da FAO, superando o candidato dos países ricos, o espanhol Miguel Angel Moratinos. A eleição escancarou a divisão na comunidade internacional em relação à forma de se combater a fome.
No fim de semana, Graziano descobriu que sua batalha não será nada fácil. Países ricos, que por anos tentaram esvaziar a FAO, agora insistem em congelar o orçamento da entidade. Parte do motivo é a crise econômica que Europa e Estados Unidos ainda enfrentam. Mas parte da explicação, segundo diplomatas consultados pelo Estado, é a constatação de que, antes de receber dinheiro, a FAO precisa passar por mudanças internas.
Reforma. Segundo o novo orçamento aprovado no sábado, a FAO terá US$ 1 bilhão. Isso além de US$ 1,4 bilhão em contribuições voluntárias, valor semelhante ao do ano passado. Na mesma votação, a FAO aprovou o plano de ação para a reforma da entidade e governos ordenaram à organização corte de mais US$ 34 milhões em gastos administrativos, além da economia que já havia sido planejada.
Em entrevista em Roma na sexta-feira, 1º, Graziano não disfarçou que esperava a aprovação de um aumento no orçamento. "A solidariedade do mundo desenvolvido é crucial."
O governo americano, contudo, deixou claro que seu objetivo na FAO era mesmo o de congelar os recursos da entidade, em uma posição completamente contrária ao que havia prometido dois anos antes, na cúpula do G8. Washington não acredita que dar dinheiro à FAO seja a melhor forma de lidar com a fome. Para os americanos, a entidade é ineficiente e precisa passar por reformas profundas.

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