Os pacientes do Hospital do Mandaqui, referência no atendimento da Zona Norte de São Paulo, sofrem com a falta de estrutura para o atendimento. Na emergência, são poucos médicos e enfermeiros. Além disso, os próprios funcionários falam que faltam equipamentos básicos de higiene e que conseguir atendimento é muito difícil.
Um documento assinado pela diretora da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) que cuida dos recém-nascidos reconhece que há no setor a presença de uma perigosa bactéria, resistente aos antibióticos comuns.
Uma equipe de reportagem do SPTV registrou imagens do hospital com uma câmera escondida no dia 7 de julho. As imagens mostram os corredores tomados por macas. São pelo menos dez pacientes que, sem lugar nas enfermarias lotadas, são atendidos ao longo do hospital. Na emergência do conjunto hospitalar sobram pacientes e falta quem os atenda.
Sem saber que está sendo gravada, a recepcionista confirma que só havia duas médicas para atender. “É só retorno. Quem chegar agora, se a emergência não atender, vai pra outro lugar. Não tem médico”. Quem consegue ser atendido enfrenta a falta de itens básicos. “Não tem material. Tudo o que você pede não tem”, disse a enfermeira-chefe do plantão.
Na clínica cirúrgica, cada técnica de enfermagem é responsável por oito pacientes, mas faltam materiais para trabalhar. Na UTI adulta, cada auxiliar de enfermagem cuida de três pacientes e só o básico é feito. “Prioriza o que dá, o mais importante que é a medicação e aspiração”, conta um enfermeiro.
Os funcionários do hospital dizem que as placas indicam que dois pacientes estão com uma bactéria resistente. O presidente da Sociedade de Infectologia, Marcos Antonio Cyrillo, explica que, nesse caso, o recomendável é que o doente fique isolado. “É a bactéria resistente, ela é resistente a vários antimicrobianos. Enquanto que uma bactéria comum, aquela que nós temos no nosso organismo normalmente, ela deve ser sensível a vários antibióticos."
Quem trabalha no Mandaqui também diz que recém-nascidos internados na UTI neonatal estão com a bactéria multirresistente. No dia que as imagens foram feitas, o berço de um menino que não tinha bactéria estava entre os de duas crianças contaminadas. Ao contrário do que recomenda o especialista.
"O ideal é que você isole, coloque um quarto só pra essa pessoa, uma pessoa tomando conta dela, os profissionais da saúde somente tratando dessa pessoa e que usem os equipamentos de proteção individual como máscara, óculos, avental, avental descartável pra poder tomar conta dessa pessoa e não transmitir essa bactéria dentro da unidade ou dentro do hospital”, explica Cyrillo.
O que mais chama a atenção é a falta de estrutura. Os documentos são confirmados por um documento do próprio hospital. Um memorando assinado pela diretora do núcleo de neonatologia comunica a situação de risco pelo quadro de infecção com a bactéria.
"Comunico situação de risco pelo quadro de infecção em UTI neonatal, com bactéria multirresistente, ausência de aparelhos de ventilação e box para novas admissões, além de super lotação em berçário e alojamento conjunto. Portanto, diante desse quadro, solicito providências para evitar a chegada de gestantes ao serviço (SAMU, Rede de Proteção à Mãe Paulistana) e transferência das mesmas."
O documento foi enviado no dia 5 de julho. Dois dias antes, no dia 3 de julho, um bebê que estava internado na UTI morreu. O documento de nascimento e óbito, dado pelo hospital à mãe, indica entre as causa choque séptico e septicemia, ou seja, infecção generalizada. No dia seguinte, 6 de julho, a UTI deixou de receber novas crianças. No dia 7, mais um recém-nascido morreu.
Falta de informação
A mãe do bebê que morreu no dia 3 de julho ainda aguardava nesta segunda-feira (18) explicações para o que aconteceu com o filho. “Ninguém falou: ele morreu disso, seu filho morreu disso aqui”. A dona de casa precisou fazer uma cesárea de emergência aos sete meses de gestação. O bebê foi direto para a UTI neonatal, o que é comum para prematuros.
A mãe do bebê que morreu no dia 3 de julho ainda aguardava nesta segunda-feira (18) explicações para o que aconteceu com o filho. “Ninguém falou: ele morreu disso, seu filho morreu disso aqui”. A dona de casa precisou fazer uma cesárea de emergência aos sete meses de gestação. O bebê foi direto para a UTI neonatal, o que é comum para prematuros.
“Ele tava começando a tomar leite. Do nada acabou”. No dia 4 de julho, a mãe chegou para passar a tarde com o filho. Só então soube que o bebê havia morrido, na noite anterior. “Foi às 23h35. Eu fiquei sabendo no outro dia. Com três telefones de contato é impossível. Aí mandaram eu assinar um papel falando que eles tinham ligado. Eu risquei e falei: não vou assinar isso.”
A mãe disse que os médicos afirmaram que o filho pegou uma bactéria no hospital. “Foi de dentro do hospital. Só usavam essa palavra: bactéria. Eu perguntava o nome. A gente não é médica, então tanto faz para eles explicar o que é uma bactéria, o que não é.”
Para ela, os cuidados com o controle da infecção hospitalar não foram adequados. “Os erros das enfermeiras era demais. Como que você toca num neném que tem bactéria e você vai tocar em outro neném? A luva que eles usavam eles não tiravam para mexer em outras crianças. Em nenhum momento ele ficou no caixão. Ele ficou no meu colo o tempo inteiro.”
Respostas
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde informou nesta segunda-feira que “não houve morte de nenhum paciente provocada pela bactéria KPC”, a bactéria multirresistente, no Hospital do Mandaqui. Segundo a pasta, Isso foi comprovado em exames laboratoriais. Apenas um caso foi detectado e o paciente, tratado.
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde informou nesta segunda-feira que “não houve morte de nenhum paciente provocada pela bactéria KPC”, a bactéria multirresistente, no Hospital do Mandaqui. Segundo a pasta, Isso foi comprovado em exames laboratoriais. Apenas um caso foi detectado e o paciente, tratado.
O hospital diz que a identificação de leitos com tarjas pretas é uma medida padrão. Afirma que está finalizando uma ampla reforma que vai modernizar o local e abrir 93 leitos e que não há falta de luvas, já que foram disponibilizados em julho mais de 136 mil pares.
Sobre a falta do aviso à mãe que perdeu a criança, o hospital afirma que foram feitas diversas tentativas de contato com a família sem sucesso e que, por isso, o anúncio só pode ser feito pessoalmente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário