13/07/2011

Paulistano gasta mais com ração do que com feijão



Em contrapartida, desembolso com aluguel caiu pela metade nos últimos dez anos já que um número crescente de famílias teve acesso à casa própria


Márcia De Chiara, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Hoje as famílias que vivem na cidade de São Paulo gastam uma fatia maior do orçamento com ração para o cãozinho ou o gato de estimação (0,55%) do que com o feijão (0,39%), um alimento básico. Em contrapartida, o desembolso com aluguel caiu pela metade nos últimos dez anos porque um número crescente de famílias teve acesso à casa própria. Também o peso da prestação do carro zero nas despesas triplicou no período.
Esses são exemplos de como a explosão do crédito e o ganho de renda provocaram nos últimos dez anos uma revolução nos hábitos de consumo dos paulistanos. Essas e outras mudanças foram captadas pela nova Pesquisa de Orçamento Familiar (POF). A partir deste mês, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o indicador de inflação da cidade de São Paulo, passa a ser apurado de acordo com a nova POF.
Nesta terça-feira, 12, o coordenador do IPC da Fipe, Antonio Comune, divulgou o indicador da primeira quadrissemana deste mês já pela nova POF. A inflação subiu 0,19%, ante um resultado praticamente estável de junho (0,01%). Entre os seis itens que mais influenciaram a inflação da primeira quadrissemana, quatro deles (viagem, assistência médica, refeição e carro usado) ampliaram a participação nos gastos das famílias de acordo com a nova POF.
Segundo Comune, a mudança da POF não vai aumentar a inflação. "De jeito nenhum isso vai acontecer", frisou. Ele contou que desde fevereiro vem apurando o IPC pela POF velha e a nova e os resultados são muito próximos. Por questões metodológicas, a Fipe vai divulgar o IPC pelas duas apurações no fechamento deste mês.
De acordo com a nova POF, os grupos habitação, despesas pessoais, educação e vestuário perderam participação no orçamento das famílias, enquanto os gastos com transportes, saúde e alimentação aumentaram.
O grande destaque foi o aluguel que pesava 8,97% e responde agora por 4,68% das despesas. Comune explica que a redução nos gastos com o aluguel, que passou a ser apurado pelo número de dormitórios, é resultado da maior oferta de crédito para a compra da casa. Também foram as facilidades de crédito que ampliaram gastos com carro novo, de 0,84% para 2,48%, e o usado, de 2,20% para 2,66%.
Com mais pessoas trabalhando, os gastos com refeição fora de casa cresceram, de 2,71% para 3,02%, e as despesas com serviços também. O desembolso com serviços pessoais quase que dobrou, de 0,79% para 1,38%, e os gastos com cabeleireiro deram um salto, de 0,79% para 1,38%.
Entra e sai. A ascensão social da população e as rápidas mudanças tecnológicas provocaram um entre e sai de itens pesquisados. "Caíram fora da nova POF 50 itens e entraram 60", disse Comune. Entre os que saíram estão os aparelhos de vídeo, DVD player, rádio-gravador, freezer, TV de tubo, entre outros. Em compensação houve a inclusão de produtos mais avançados, como TV de LCD, notebook, e serviços que no passado eram inacessíveis para boa parte da população, como passagens aéreas (0,51%), despesas com animais domésticos (0,77%) e cursos de pós-graduação e MBA (0,07%).
"Na próxima atualização da POF, teremos de incluir o iPad. Nessa não incluímos o iPhone porque ele já foi incorporado por outras tecnologias", diz o economista.
A partir de agora a POF será atualizada uma vez por ano. A última POF tinha sido feita em 1999. Por causa de mais de dez anos de defasagem e dos ganhos do salário mínimo, a faixa de renda das famílias pesquisadas mudou: era de até 20 mínimos e a partir de agora é de até dez.

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