Camila Maciel
Adital
"Está em curso um processo de privatização da água no Brasil,
semelhante ao que aconteceu com o setor de energia elétrica, quando, depois de
privatizado, as tarifas aumentaram cerca de 400%”. A advertência é do Movimento
dos Atingidos por Barragens (MAB), que realiza, a partir de amanhã (20), o
Seminário Internacional: Panorama político sobre estratégias de privatização da
água na América Latina. O evento será realizado na Universidade Federal do Rio
de Janeiro e segue até quinta-feira (21).
O Seminário cumpre com o objetivo de articular as experiências de luta
contra a privatização da água na América Latina, para tanto serão debatidos os
atuais projetos em curso que visam a mercantilização da água em diferentes
países. Participarão movimentos sociais, acadêmicos e convidados do Brasil e de
outros 13 países da América Latina, Europa e África.
"Precisamos envolver todos nesse debate. A população precisa se
alertar e impedir qualquer tentativa de privatização”, convoca Gilberto
Cervinski, da coordenação nacional do MAB. Ele relata que em um plebiscito
realizado da Itália, 95% dos votantes disseram "não” à privatização da
água no país. "A população se mobilizou e impediu que o governo
privatizasse”, declarou, explicitando uma das ações que serão compartilhadas
por ocasião do Seminário.
Além da privatização do abastecimento de água, Cervinski revela que
inúmeras táticas estão sendo adotadas, como a municipalização do setor,
transferindo a responsabilidade aos municípios, como forma de pulverizar a
negociação para mercantilização da água; leilões de hidrelétricas, concedendo
por décadas o direito de exploração dos recursos hídricos; cobrança para uso
das águas dos rios, por meio dos Comitês de Bacias; dentre outras formas.
Setores como mineração, agricultura e saneamento são os que mais intervêm nesse
sentido.
"Identificamos que o processo de privatização da água tem se
acelerado, especialmente, depois da crise de 2008”, explica Gilberto,
referindo-se à crise econômica mundial, iniciada nos Estados Unidos com a
falência de grandes instituições financeiras. Cervinski destaca que esses
processos envolvem grandes corporações internacionais, que perceberam na água
um grande negócio.
Cervinski relembra que, com a intensificação das privatizações na década
de 1990 no Brasil, a questão da água ficou ameaçada, "mas uma forte
resistência dos movimentos fez com que as grandes empresas recuassem por um
tempo”. Atualmente, o sistema de saneamento básico tem sido o mais atingindo
pela privatização, especialmente nas grandes e médias cidades, elevando
enormemente o valor das tarifas.
Nesse sentido, o coordenador do MAB cita o exemplo de Santa Gertrudes,
cidade do estado de São Paulo, onde as tarifas "explodiram” em apenas três
meses depois de privatizadas. Segundo Gilberto Cervinski, uma das formas
encontradas para expansão do setor é com o envolvimento de empresas de
consultoria nos Planos de Saneamento, que devem ser feitos pelos municípios
brasileiros. Vinculadas às grandes corporações, as empresas de consultorias
estariam orientando as administrações municipais, a partir do trabalho
realizado por eles, a adoção do modelo privatizado.
A programação do Seminário Internacional pode ser acessada em: http://www.mabnacional.org.br/?q=noticia/mab-realiza-semin-rio-internacional-sobre-gua-nessa-semana
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