Demora na fila para compra gera reclamações
Notícia publicada na edição de 09/08/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 5 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.
Leandro Nogueira
leandro.nogueira@jcruzeiro.com.br
"Aqui não tem fila! R$ 3,50 para se livrar da fila, a fila traz arrependimento", dizia em alto tom o clandestino de primeiro nome Luís, nas proximidades do Terminal Santo Antônio, na tarde de ontem. O valor da passagem em Sorocaba, a terceira mais cara do Brasil, é de R$ 2,85, mas a restrição da Urbes para vender um único cartão unitário nos guichês oficiais para quem não aderir ao cartão social gera filas de espera, que segundo os passageiros chegam a demorar uma hora e vinte minutos. A situação deu margem ao surgimento de "cambistas do transporte urbano". A dona de casa Rose Fernandes, 44 anos, pagou R$ 4,00 no passe de um deles para se livrar da fila ontem. ""É muito caro, não está certo, mas tenho pressa porque estou com o pé inchado"", disse Rose, que tem problema de saúde e queria chegar loco em casa.
""O homem está aproveitando para cobrar R$ 3,50, é um absurdo para nós que trabalhamos. Não tem quem aguente esperar uma hora na fila"", reclamava indignada Ana Cláudia Ferreira da Silva, 33 anos. Ela trabalha como diarista e recebe por dia o valor referente à passagem do ônibus. ""Se a gente não tem (dinheiro) para comprar para o mês inteiro, como faz?"", questionava. Ana evitou a fila ao conseguir encontrar um ambulante que vendia o unitário por R$ 2,85. ""Ofereceram um cartão a R$ 5,00 pertinho de mim enquanto estava na fila. Não vi ninguém pagando esse valor, mas é um absurdo"", reclamava Madalena da Silva, 57 anos, dona de casa. Enfatizou que só carregou o cartão dela com créditos devido à perda de tempo para comprar um cartão unitário. ""Se não tivesse fila, eu não colocaria créditos de jeito nenhum. Só comecei a abastecer depois dessa pouca vergonha"", protestou Madalena.
A diarista Ana da Silva foi reclamar com o homem que oferecia os passes a R$ 3,50, o acusou de estar "roubando" os passageiros. ""Ele respondeu que compra quem quiser"", disse Ana, afirmando que no Jardim Paineiras, onde mora, os cartões unitários são encontrados apenas por R$ 3,40 ou R$ 3,50 em padarias e bancas de jornais. ""Não vendem pelo preço do terminal, só mais caro porque querem ganhar em cima da gente"", reclamou. Sem saber que falava com a reportagem, um clandestino que vendia os passes a R$ 3,50 -- sem crachá de credenciado da Urbes --, disse que até pagaria R$ 2,85 por cartões unitários para revendê-los no paralelo por um preço maior.
A faxineira Ivanira da Silva, 45 anos, que usa o transporte coletivo em Sorocaba há quatro anos, fez o primeiro cartão social ontem para não enfrentar filas diariamente. Ela colocou R$ 12,00 em créditos no cartão social que acabava de adquirir e previa que em três dias estará novamente na fila. ""É uma palhaçada, de primeiro era tão bom, a mudança atrapalhou muito"", reclamou.
O gestor ambiental, João Paulo Rodrigues, 30 anos, disse que apenas tem o cartão social porque sentiu-se obrigado a fazê-lo, pois estava em companhia da esposa e no guichê recusaram a vender mais de um cartão unitário. ""É o tal pré-pago, a Urbes se garante com o dinheiro antes do usuário realmente usar o transporte"", comentou Rodrigues. Ele mora na Vila Jardini, onde informa não encontrar cartões unitários para vender. Reclama que ficou impedido de usar o transporte coletivo, a não ser que esteja disposto a ir na frente no ônibus, antes de passar pela roleta, para quando chegar no terminal, enfrentar uma fila de 40 minutos para pagar pela passagem e só então prosseguir para o destino. ""Às vezes a quantidade de passageiros que não têm passes no bairro é tanta que não cabe mais gente na frente dos ônibus (antes de passar pela roleta)"", declarou.
A doméstica Rosa Maria dos Santos, 35 anos, foi uma das que ontem viajou na parte da frente do ônibus até o terminal, porque não encontra cartões unitários para vender. Ela têm o cartão social há mais tempo, mas tinha o hábito de usar os unitários nos dias úteis. Ontem à tarde ela estava na fila para carregar o cartão, pretendia desembolsar antecipadamente R$ 28,50 para colocar no cartão social o crédito que dará para dez passagens em dias úteis. Sobre os novos cartões, diz que ""por um lado é bom porque o passe de plástico não corre o risco de estragar se molhar, mas a mudança do passe para o cartão piorou por causa das filas, não tem quem não ache que piorou"", declarou Rosa. Ela reclamou que quando perdeu o cartão social teve que pagar R$ 4,00 para fazer a segunda via. ""Achei uma injustiça porque a gente já paga caro pelo passe e além disso você tem que pagar o valor alto pelo segundo cartão"", afirmou.
""Estou indignada porque eu tenho os R$ 2,85 para pagar o ônibus, não estou mendigando, e tenho que passar essa humilhação? Há senhoras de idade ou com crianças nessa fila e isso não é justo"", protestava a dona de casa Maria Auxiliadora Batista, 58 anos, que diz ter esperado uma 1h20 minutos para comprar um cartão unitário ontem. Ela mora no bairro São Camilo e foi para a região central de carona. ""O cartão para quem usa no dia a dia até pode ser interessante, mas no meu caso, que venho uma vez por mês na cidade, pra que eu vou querer isso? Não perderei mais o meu tempo nas filas vou começar a andar de carona"", afirmou.
Consultada no final da tarde de ontem, a Urbes Trânsito e Transportes reconheceu que houve filas nos terminais, mas já havia aumentado o número de atendentes nas bilheterias e sem informar em qual quantidade. Divulgou que está aumentando a quantidade de cartões unitários aos ambulantes e postos credenciados. ""Nos nossos controles não registramos atendimento que tenha espera de uma hora. Quanto à denúncia de ambulante vendendo cartão acima do preço estabelecido iremos intensificar a fiscalização e descredenciar quem estiver utilizando-se desta prática"", respondeu em nota. Entre os passageiros consultados pela reportagem, muitos disseram que é preciso aumentar o número de atendentes nos guichês, uma das pessoas declarou que a Urbes deveria separar a fila de quem vai fazer o cartão social dos que vão carregá-lo ou comprar o cartão único e houve ainda uma dona de casa que declarou que a mudança do bilhete para o cartão poderia melhorar se a Urbes tivesse estrutura. ""Mas Sorocaba e a Urbes ainda não têm estrutura para isso, é uma vergonha o que estamos passando"", reclamou Madalena da Silva, 57 anos.
leandro.nogueira@jcruzeiro.com.br
"Aqui não tem fila! R$ 3,50 para se livrar da fila, a fila traz arrependimento", dizia em alto tom o clandestino de primeiro nome Luís, nas proximidades do Terminal Santo Antônio, na tarde de ontem. O valor da passagem em Sorocaba, a terceira mais cara do Brasil, é de R$ 2,85, mas a restrição da Urbes para vender um único cartão unitário nos guichês oficiais para quem não aderir ao cartão social gera filas de espera, que segundo os passageiros chegam a demorar uma hora e vinte minutos. A situação deu margem ao surgimento de "cambistas do transporte urbano". A dona de casa Rose Fernandes, 44 anos, pagou R$ 4,00 no passe de um deles para se livrar da fila ontem. ""É muito caro, não está certo, mas tenho pressa porque estou com o pé inchado"", disse Rose, que tem problema de saúde e queria chegar loco em casa.
""O homem está aproveitando para cobrar R$ 3,50, é um absurdo para nós que trabalhamos. Não tem quem aguente esperar uma hora na fila"", reclamava indignada Ana Cláudia Ferreira da Silva, 33 anos. Ela trabalha como diarista e recebe por dia o valor referente à passagem do ônibus. ""Se a gente não tem (dinheiro) para comprar para o mês inteiro, como faz?"", questionava. Ana evitou a fila ao conseguir encontrar um ambulante que vendia o unitário por R$ 2,85. ""Ofereceram um cartão a R$ 5,00 pertinho de mim enquanto estava na fila. Não vi ninguém pagando esse valor, mas é um absurdo"", reclamava Madalena da Silva, 57 anos, dona de casa. Enfatizou que só carregou o cartão dela com créditos devido à perda de tempo para comprar um cartão unitário. ""Se não tivesse fila, eu não colocaria créditos de jeito nenhum. Só comecei a abastecer depois dessa pouca vergonha"", protestou Madalena.
A diarista Ana da Silva foi reclamar com o homem que oferecia os passes a R$ 3,50, o acusou de estar "roubando" os passageiros. ""Ele respondeu que compra quem quiser"", disse Ana, afirmando que no Jardim Paineiras, onde mora, os cartões unitários são encontrados apenas por R$ 3,40 ou R$ 3,50 em padarias e bancas de jornais. ""Não vendem pelo preço do terminal, só mais caro porque querem ganhar em cima da gente"", reclamou. Sem saber que falava com a reportagem, um clandestino que vendia os passes a R$ 3,50 -- sem crachá de credenciado da Urbes --, disse que até pagaria R$ 2,85 por cartões unitários para revendê-los no paralelo por um preço maior.
A faxineira Ivanira da Silva, 45 anos, que usa o transporte coletivo em Sorocaba há quatro anos, fez o primeiro cartão social ontem para não enfrentar filas diariamente. Ela colocou R$ 12,00 em créditos no cartão social que acabava de adquirir e previa que em três dias estará novamente na fila. ""É uma palhaçada, de primeiro era tão bom, a mudança atrapalhou muito"", reclamou.
O gestor ambiental, João Paulo Rodrigues, 30 anos, disse que apenas tem o cartão social porque sentiu-se obrigado a fazê-lo, pois estava em companhia da esposa e no guichê recusaram a vender mais de um cartão unitário. ""É o tal pré-pago, a Urbes se garante com o dinheiro antes do usuário realmente usar o transporte"", comentou Rodrigues. Ele mora na Vila Jardini, onde informa não encontrar cartões unitários para vender. Reclama que ficou impedido de usar o transporte coletivo, a não ser que esteja disposto a ir na frente no ônibus, antes de passar pela roleta, para quando chegar no terminal, enfrentar uma fila de 40 minutos para pagar pela passagem e só então prosseguir para o destino. ""Às vezes a quantidade de passageiros que não têm passes no bairro é tanta que não cabe mais gente na frente dos ônibus (antes de passar pela roleta)"", declarou.
A doméstica Rosa Maria dos Santos, 35 anos, foi uma das que ontem viajou na parte da frente do ônibus até o terminal, porque não encontra cartões unitários para vender. Ela têm o cartão social há mais tempo, mas tinha o hábito de usar os unitários nos dias úteis. Ontem à tarde ela estava na fila para carregar o cartão, pretendia desembolsar antecipadamente R$ 28,50 para colocar no cartão social o crédito que dará para dez passagens em dias úteis. Sobre os novos cartões, diz que ""por um lado é bom porque o passe de plástico não corre o risco de estragar se molhar, mas a mudança do passe para o cartão piorou por causa das filas, não tem quem não ache que piorou"", declarou Rosa. Ela reclamou que quando perdeu o cartão social teve que pagar R$ 4,00 para fazer a segunda via. ""Achei uma injustiça porque a gente já paga caro pelo passe e além disso você tem que pagar o valor alto pelo segundo cartão"", afirmou.
""Estou indignada porque eu tenho os R$ 2,85 para pagar o ônibus, não estou mendigando, e tenho que passar essa humilhação? Há senhoras de idade ou com crianças nessa fila e isso não é justo"", protestava a dona de casa Maria Auxiliadora Batista, 58 anos, que diz ter esperado uma 1h20 minutos para comprar um cartão unitário ontem. Ela mora no bairro São Camilo e foi para a região central de carona. ""O cartão para quem usa no dia a dia até pode ser interessante, mas no meu caso, que venho uma vez por mês na cidade, pra que eu vou querer isso? Não perderei mais o meu tempo nas filas vou começar a andar de carona"", afirmou.
Consultada no final da tarde de ontem, a Urbes Trânsito e Transportes reconheceu que houve filas nos terminais, mas já havia aumentado o número de atendentes nas bilheterias e sem informar em qual quantidade. Divulgou que está aumentando a quantidade de cartões unitários aos ambulantes e postos credenciados. ""Nos nossos controles não registramos atendimento que tenha espera de uma hora. Quanto à denúncia de ambulante vendendo cartão acima do preço estabelecido iremos intensificar a fiscalização e descredenciar quem estiver utilizando-se desta prática"", respondeu em nota. Entre os passageiros consultados pela reportagem, muitos disseram que é preciso aumentar o número de atendentes nos guichês, uma das pessoas declarou que a Urbes deveria separar a fila de quem vai fazer o cartão social dos que vão carregá-lo ou comprar o cartão único e houve ainda uma dona de casa que declarou que a mudança do bilhete para o cartão poderia melhorar se a Urbes tivesse estrutura. ""Mas Sorocaba e a Urbes ainda não têm estrutura para isso, é uma vergonha o que estamos passando"", reclamou Madalena da Silva, 57 anos.
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