No Sudeste, aluno de escola paga sabe mais



A maioria das crianças brasileiras de oito anos do Sudeste não aprendeu os conteúdos básicos de matemática esperados para esse nível de ensino. Isso significa que elas, no terceiro ano do ensino fundamental, não sabem ler horas e minutos em um relógio digital, por exemplo.
É também nessa região do País, da qual São Paulo faz parte, que a diferença de desempenho é mais gritante entre as redes pública e privada de ensino.
Nas escolas públicas do Sudeste, 35,6%% dos estudantes atingiram o desempenho mínimo esperado para a idade nas contas, enquanto nas particulares esse índice foi de 80,6%, uma diferença de 45 pontos, em termos porcentuais. Nesse quesito, a diferença entre as duas redes no País é, em média, de 41,7 pontos.
Os resultados são da Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização), divulgados ontem. Trata-se de uma nova avaliação nacional organizada pelo Todos Pela Educação, Instituto Paulo Montenegro/Ibope, Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
É a primeira vez que são divulgados dados do nível de alfabetização das crianças ao final do ciclo. Participaram 6 mil alunos, avaliados também em escrita e leitura.
O abismo entre públicas e privadas em relação ao conhecimento apreendido, no Sudeste, não se limita às contas. Em leitura, 85,1% das crianças das particulares mostraram ter aprendido conteúdos mínimos ante 54,4% daquelas matriculadas nas públicas – uma diferença de 30,7 pontos, em termos porcentuais. Levando-se em conta o cenário nacional, essa distância é, em média, de 30,4 pontos.
Em escrita, 97,7% dos alunos dos colégios privados do Sudeste obtiveram a média contra 53,8% das públicas, somando 43,9 pontos de distância. Nessa área, a diferença entre as duas redes no País é bem menor: 38,1 pontos, em média. Os resultados estão nas escalas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) para leitura e matemática. O nível de 175 pontos foi estipulado como a pontuação que representa que o aluno aprendeu os conteúdos mínimos para a série.
“A escola particular tem alunos mais selecionados, mais estimulados e com mais acesso a bens culturais. Isso tudo se reflete no aprendizado da criança nos anos iniciais”, diz Priscila Cruz, diretora executiva do Todos pela Educação. Para ela, os resultados são um alerta às prefeituras, principais responsáveis pela formação nas séries iniciais, e uma demonstração da necessidade de reforço em matemática.
Melhorar o desempenho dos alunos da rede pública requer investimentos na formação, carreira e no salário do professor, segundo Ocimar Alavarce, da Faculdade de Educação da USP. “Não adianta dar bônus, os governos precisam melhorar a formação inicial do educador, especialmente em Pedagogia.”
Até as universidades já sofrem com o nível dos alunos que vêm da educação básica. “Apenas cinco entre 80 alunos da primeira turma formada em Engenharia de Produção este ano chegaram com condições de enfrentar os desafios da formação superior”, revela Fabio Garcia dos Reis, diretor operacional do Centro Universitário Salesiano de Lorena (Unisal). “Precisamos ensinar regra três, crase e pontuação.”
Realidade dos números
A rotina das particulares paulistanas ajuda a explicar o melhor resultado da rede. Em grande parte delas, o objetivo é, já ao fim do 1º ano do ensino fundamental, aos 6 anos, ter a sala toda sabendo ler e escrever bem. “Começamos efetivamente a ensinar a leitura e a escrita nessa idade”, diz Isabel Cossalter, coordenadora do fundamental 1 do Colégio I. L. Peretz.
Na Escola Carlitos, a meta é a mesma. No 3º ano as crianças passam a aprofundar a relação com a língua. “Estão em outro ciclo e devem produzir textos sabendo encadear as ideias”, diz Laura Piteri, diretora pedagógica do colégio.
Isis Brum e Mariana Mandelli

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